O que é uma dieta pró-inflamatória e quais são seus riscos?
Escrito e verificado por a nutricionista Maria Patricia Pinero Corredor
A dieta tem um grande impacto na saúde. No entanto, existem alguns tipos de dieta que contribuem para aumentar o risco de certas doenças crônicas, como a dieta pró-inflamatória.
Existem 2 tipos de inflamação. A aguda, que ocorre em resposta a uma lesão como mecanismo de defesa, e a crônica, que ocorre quando o corpo tenta eliminar certas substâncias nocivas. O excesso de gordura na barriga também pode causar inflamação crônica.
Uma dieta pró-inflamatória pode predispor o corpo a doenças como diabetes, doenças cardíacas e alguns distúrbios intestinais. A partir dessa perspectiva, o Dr. David Seaman explica que certos alimentos específicos (açúcares e óleos de sementes) promovem a inflamação.
Como a dieta pode causar inflamação?
A inflamação é um tipo de defesa natural e um sinal protetor do organismo. No entanto, quando persiste ou é mantida por fatores dietéticos, trabalha contra nós.
Existem certos marcadores no sangue, como a proteína C reativa, a interleucina-6 e o fator de necrose tumoral alfa, que indicam inflamação crônica. Como explicam alguns especialistas, a dieta influencia esses marcadores. A dieta ocidental está associada a altos níveis de inflamação.
A revista Obesity Reviews afirma que alimentos ultraprocessados, ricos em calorias e muito pobres em vegetais e frutas estão associados a níveis mais altos de inflamação. Por outro lado, um ensaio clínico mostrou que a dieta mediterrânea, rica em frutas, leguminosas, azeite, peixes oleosos, vegetais e grãos integrais, tem sido associada a menores marcadores inflamatórios.
A importância das dietas para melhorar a saúde foi publicada na revista Advances in Nutrition. É utilizada uma ferramenta conhecida como índice inflamatório da dieta (IID) para determinar o potencial pró ou anti-inflamatório de uma forma de alimentação.
Esse índice leva em consideração compostos, nutrientes e alimentos com propriedades a favor ou contra o processo inflamatório. Esses padrões alimentares pró-inflamatórios foram associados a um risco aumentado de doenças crônicas.
Quais alimentos são considerados pró-inflamatórios?
Muitos alimentos consumidos regularmente podem afetar a inflamação no corpo. A seguir, revisaremos aqueles com características pró-inflamatórias .
Gordura trans
As gorduras trans são as menos saudáveis no mundo. Elas são formadas pela adição de hidrogênio às gorduras insaturadas para torná-las mais estáveis na hora do armazenamento. Boa parte delas são conhecidas como óleos parcialmente hidrogenados.
Nesse sentido, um grupo de especialistas esclarece que o óleo de soja hidrogenado causa mais inflamação do que o óleo de palma e girassol.
Durante o processo de fabricação das margarinas, também se formam gorduras trans. Um estudo menciona os efeitos inflamatórios e o risco de doenças crônicas dessas gorduras. Marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa, são reconhecidos por aumentarem a inflamação.
Uma pesquisa mostrou que as gorduras trans podem afetar a função das células endoteliais que revestem as artérias, sendo este um fator de risco para doenças cardíacas. Também foi encontrado que o consumo dessas gorduras aumentou os marcadores inflamatórios em homens saudáveis com níveis elevados de colesterol.
Outros alimentos ricos em gordura trans incluem fast food, pipoca, batata frita, manteigas vegetais, alimentos processados, bem como bolos e biscoitos.
Açúcar de mesa e xarope de milho
A dieta ocidental usa açúcar de mesa e xarope de milho com alto teor de frutose como adoçantes principais. A diferença entre os dois é que o açúcar contém partes iguais de glicose e frutose, mas no xarope de milho mais da metade é frutose.
Como um estudo revela, o açúcar é um produto dietético pró-inflamatório. A respeito, foi evidenciado que ratos alimentados com uma dieta rica em sacarose desenvolveram câncer de mama.
Em um ensaio clínico randomizado em grupos de pessoas que consumiram refrigerantes regulares e diet, leite ou água, aqueles que ingeriram refrigerantes regulares apresentaram níveis aumentados de ácido úrico, causando inflamação e resistência à insulina.
A revista The Journal of Nutrition relatou que consumir muita frutose está associado à obesidade, resistência à insulina, diabetes, esteatose hepática, doença renal crônica e câncer. Uma revisão menciona que a frutose também é considerada um fator de risco para doenças cardíacas e aumenta vários marcadores inflamatórios em ratos e humanos.
Considere que o açúcar também é usado como ingrediente adicionado em doces, chocolates, bolos, donuts e cereais matinais.
Carboidratos refinados
Pesquisas relatam que os carboidratos refinados podem causar inflamação, estimulando o crescimento de bactérias intestinais que aumentam o risco de obesidade e doença inflamatória intestinal.
Esse tipo de carboidrato tem um índice glicêmico muito alto, ou seja, aumenta o açúcar no sangue muito rapidamente. Em adultos mais velhos, descobriu-se que comer alimentos com alto índice glicêmico pode aumentar em quase 3 vezes a chance de morrer de uma doença inflamatória.
Outro estudo com homens jovens apoia essa descoberta. Quando as pessoas no estudo comeram 50 gramas de pão branco, elas apresentaram níveis elevados de açúcar no sangue e marcadores inflamatórios.
Doces, pães, bolos, refrigerantes açucarados, biscoitos, massas, farinha refinada e alimentos processados com açúcar são fontes de carboidratos refinados.
Óleos vegetais
Alguns estudos defendem que os óleos com ácidos graxos ômega 6 são pró-inflamatórios, e esse tipo de gordura é característico da dieta ocidental. Certos óleos de sementes, como óleos de soja, podem ativar a inflamação.
Esse é um dos motivos para recomendar o consumo de gordura ômega 3, como a encontrada em peixes gordurosos. Os ômega 3 têm um importante poder anti-inflamatório.
Nesse sentido, um estudo em ratos alimentados com 20 vezes mais ômega 6 do que ômega 3 mostrou que eles tinham níveis de marcadores inflamatórios muito mais elevados do que aqueles alimentados com proporções iguais ou 5 vezes maiores de ômega 6 para ômega 3. No entanto, em humanos ainda não há evidências suficientes a respeito.
Carne processada
A relação entre o consumo de carnes processadas (bacon, linguiça, presunto, charque e carne defumada) com o aumento do risco de doenças crônicas, como diabetes, câncer de estômago e cólon, é reconhecida há muito tempo.
A presença de produtos finais de glicação (AGEs) nesses alimentos pode causar inflamação, conforme revelado por alguns estudos. Em particular, o câncer de cólon está intimamente associado ao consumo de carnes processadas, como uma resposta inflamatória.
Álcool em excesso
Um ensaio clínico mostrou que o marcador inflamatório proteína C reativa é aumentado em pessoas que bebem muito álcool. Além disso, podem ocorrer problemas com certas toxinas bacterianas que são produzidas no cólon e chegam ao sangue.
A revista Lancet revelou que o álcool em excesso pode causar intestino permeável, uma condição que causa inflamação generalizada no corpo e danifica diferentes órgãos. Nesse sentido, recomenda-se um máximo de 2 drinques padrão por dia para homens e 1 para mulheres.
Riscos de uma dieta pró-inflamatória
O consumo consistente de uma dieta pró-inflamatória pode levar à inflamação crônica relacionada à doença coronariana, depressão e obesidade, entre outros.
Aumenta o risco de doenças cardiovasculares
Em estudos de longo prazo, foi demonstrado que pessoas que consomem alimentos pró-inflamatórios apresentam um risco 38% maior de desenvolver doenças cardiovasculares crônicas. Outro estudo também descobriu o efeito prejudicial dos alimentos pró-inflamatórios nos níveis de colesterol, ao contrário da dieta anti-inflamatória.
Pode estar associado à depressão
Embora a relação ainda não esteja clara, foi descoberto que pessoas depressivas que consumiram mais açúcares, gorduras trans e carboidratos refinados têm marcadores inflamatórios aumentados no sangue. Os resultados também associam a dieta pró-inflamatória a um pior estado dos sintomas.
Aumenta o risco de mortalidade por doenças crônicas
Um grupo de especialistas divulgou que a inflamação crônica é um fator causal de incapacidade e mortalidade em todo o mundo. De acordo com a revista Nutrients, os alimentos pró-inflamatórios, como alimentos ultraprocessados e gorduras trans, promovem a inflamação sistêmica crônica.
Dicas para uma alimentação saudável
Para evitar problemas de inflamação, você deve se concentrar em melhorar sua dieta, em vez de se concentrar apenas em um alimento ou nutriente. Muitos deles interagem entre si.
É sempre aconselhável ampliar a variedade de alimentos vegetais (frutas, verduras, legumes, grãos integrais e azeite). Eles contêm fibras e fitoquímicos, como polifenóis, com efeito antioxidante.
Ervas, especiarias, chá e café também são excelentes fontes de polifenóis. Portanto, você pode consumi-los regularmente. Os peixes oleosos, por sua vez, são fonte de ômega 3.
Para manter a saúde e aumentar a expectativa de vida diante das doenças crônicas, você deve parar de manter uma dieta pró-inflamatória e passar a consumir alimentos saudáveis.
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