Aposentada se forma aos 72 e vai fazer faculdade
Maria Nascimento da Silva, natural de Correntes, em Pernambuco, de 73 anos, teve que esperar muitas décadas para conseguir concluir a educação básica, um sonho que ela carregava desde criança.
“Sempre tive muita vontade de estudar e ter um diploma”, diz.
Após perder o marido, há oito anos, ela foi encorajada pelos três filhos e familiares a encarar o desafio de voltar a estudar.
O recomeço foi em 2017, quando ela, aos 68 anos, ingressou no primeiro ano do ensino fundamental por meio do EJA (Ensino para Jovens e Adultos). A conclusão desse primeiro período veio após dois anos.
Em 2021, a moradora concluiu também o ensino médio. Hoje ela faz um curso técnico em Recursos Humanos no CEU (Centro Educacional Unificado) Perus, enquanto planeja o passo seguinte: ingressar no ensino superior.
A história de Maria
Aos seis anos, ela se mudou com os pais para Arapongas, no Paraná, e foi lá que ela, a caçula de nove irmãos, foi a única da família a chegar ao terceiro ano do fundamental.
“A escola era muito longe de casa. Morávamos em uma fazenda e meu pai tinha que nos levar a pé. Saímos de casa às 8h para entrar às 13h. E voltávamos tarde da noite”.
“Sem falar que ele tinha que trabalhar e não podia nos acompanhar sempre. Por isso, não íamos todos os dias à escola”, se lembra.
Diante das dificuldades, aos 10 anos, ela teve que deixar os estudos de lado.
“Mas eu vivia com papel e lápis nas mãos. Gostava de brincar de ser professora e pedia aos meus pais para voltar à escola”, conta ela. Mas, infelizmente, isso aconteceu.
Aos 16 anos de idade, Maria se casou. Anos depois teve o primeiro filho e logo a família mudou para Ouro Verde de Minas, em Minas Gerais, onde nasceram os outros dois filhos do casal. Passada uma década, a família migrou para São Paulo, onde vive há 35 anos.
Mesmo assim, ela nunca deixou de sonhar com o retorno à sala de aula. “Meu marido não concordava que eu estudasse. No início, ele dizia que eu tinha que cuidar das crianças e da casa”, relembra.
Depois, quando passou a trabalhar fora de casa como cozinheira, costureira e faxineira, o argumento era que “estudar de noite seria perigoso”. “Sou de uma época em que a mulher era muito submissa ao marido, então nunca pensei em contrariar o meu”, afirma.
No entanto, ela sempre voltava no assunto com ele. Em 2010, chegou a fazer um curso de informática com certificado para aprender a mexer melhor no computador.
O esperado retorno à escola
Ela ainda se lembra da felicidade que tomou conta dela no primeiro dia de aula. “Até dar o horário da aula, fiquei andando em casa de um lado para o outro. Eu me olhava no espelho e dava risada sozinha”, recorda.
Apesar da euforia e ansiedade em começar o novo curso, ela se deparou com comentários de pessoas que tentavam desencorajá-la. “Falavam que, quando eu chegasse no curso, onde teriam mais jovens, eles ririam de mim”, relata.
A recepção, por outro lado, foi o oposto disso. “Ao me apresentar, contei para os professores e para a diretora sobre meu receio de que rissem de mim, e tanto elas quanto os outros alunos me acolheram.”
Maria tem compartilhado a felicidade e a história com outros alunos do CEU. E, assim, ela tem inspirado muita gente a seguir firme nos estudos.
Novos desafios
Agora Maria tem novos planos: cursar a graduação de psicologia logo após o curso técnico.
“Sempre sonhei em ser psicóloga porque gosto de ouvir o que as pessoas estão sentindo. Gosto de ouvir os problemas delas porque assim vou chegando naquele eixo do porquê da dor”, detalha.
Mesmo sabendo que ainda terá obstáculos a enfrentar, Maria garante que seguirá em frente. “Quero mostrar para os meus filhos, netos e bisnetos que não há limite de idade para estudar. Quero deixar para eles o exemplo de que estou conseguindo porque, quando temos um sonho, vamos em frente”, finaliza.
Com informações de Mural.
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