Empregada doméstica que precisou comer restos de ossos para sobreviver vira juíza

“A educação é o caminho que pode salvar vidas, assim como salvou a minha”.
Empregada doméstica que precisou comer restos de ossos para sobreviver vira juíza

Última atualização: 24 novembro, 2022


De empregada doméstica ao magistrado. A vida da baiana Rosilene de Santana Souza, 38 anos, mudou graças à educação. Após muito estudo, a ex-empregada doméstica foi aprovada em 1º lugar em um concurso público de magistratura e agora vai atuar como juíza em Rio Branco (AC).

Ela é filha de trabalhadores rurais e ainda se lembra das diversas vezes que sua família chegou a pedir restos de ossos em um açougue para se alimentar quando ela era pequena e de quando dormia na cozinha da casa onde trabalhava enquanto estudava.

Ela conta ainda que dividia o mesmo tênis com a irmã para ir à escola e ficou sem estudar quando tinha 10 anos porque não havia professor na escola da localidade. Com apenas 12 anos, já trabalhava como doméstica para ajudar em casa.

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Casa em que Rosilene morava com a família na infância, no município de Oliveira dos Brejinhos. Foto: Arquivo pessoal

Em busca do sonho

Rosilene deixou a casa em que morava no sertão da Bahia, aos 19 anos, em busca do sonho de estudar Direito. Ela superou todas as dificuldades e agora vai ser juíza!

“Foi muito difícil desde o início. Quando cheguei em Colatina, fui trabalhar em uma casa de família e não consegui fazer faculdade na época porque o valor que eu ganhava não era o suficiente para pagar”, contou Rosilene.

Rosilene aproveitou a oportunidade de um curso técnico gratuito de edificações que era oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) de Colatina. Com o curso, ela conseguiu uma oportunidade melhor de emprego com remuneração maior.

Trabalhando, ela entrou na faculdade de Direito com uma bolsa de estudo com desconto na mensalidade, o que ajudou a dar o primeiro passo de uma jornada que não seria nada fácil.

“Eu trabalhava das 8h às 18h e estudava das 19h às 22h, então eu só tinha o período até 1 hora da manhã para poder estudar mais e complementar. Foi uma fase muito difícil”, relatou.

Ela tentou mais de 10 concursos públicos e o esforço de anos deu resultado: foi aprovada para uma vaga de juiz de Direito substituto (juiz estadual) do Acre. Como passou em 1º lugar, a advogada — futura juíza — pode escolher a cidade onde vai trabalhar. E ela sabe que deve essa mudança de vida à educação.

“Ainda não acredito. Acho que a ficha ainda não caiu. Eu ainda não desabei, não chorei. Mas é gratificante olhar para trás e ver que todo o esforço valeu a pena, não foi tudo em vão”, afirma.

A educação salva vidas

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Foto: Arquivo pessoal

A conquista do diploma está eternizada no álbum de formatura que Rosilene guarda desde 2012. E a mensagem que ela deixa é uma só: apenas a educação é capaz de salvar vidas como a sua.

“Vemos crianças buscando alimento para tentar sobreviver. Então, falar em educação parece tão distante. Eu já passei por isso quando criança. Mas o que eu posso dizer para quem tem a mesma origem que a minha é que acredite. A educação é a única saída para nós, da nossa origem social, que não temos herança e nem com quem contar. A educação é o caminho que pode salvar vidas, assim como salvou a minha”, concluiu.

Fonte: Notícias Bahia


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