O que há por trás dos amores impossíveis?
Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña
O que há por trás dos amores impossíveis? Admiração, necessidade, dor, amor, carinho, compaixão pelo outro, dependência emocional? Existe uma quantidade infinita de possibilidades para responder esta pergunta.
Desde tempos imemoráveis, as histórias de amores impossíveis chegam aos nossos ouvidos, nossas estantes e nossas paredes. Os grandes sucessos literários e artísticos sucumbem à dor dos amores impossíveis, estes que fracassam ou que, simplesmente, nunca terão sucesso fora de nossas mentes.
Romeu e Julieta, A Celestina, A princesa prometida, Don Juan Tenorio, Os sofrimentos do jovem Werther são alguns dos grandes sucessos literários que todos se lembram. Suas histórias são baseadas no amor e no desamor de jovens predestinados a não estarem juntos.
Os contos de fadas, os filmes da Disney com seu amor eterno e as novelas com milhares de dificuldades, mas com um final feliz, nos fizeram acreditar que o amor é onipotente e que, inevitavelmente, tudo acabará bem.
No entanto, nada mais longe da realidade: nem todos os amores são possíveis e não precisamos lutar por todos os amores. Alguns temos de deixar ir embora e outros, simplesmente, não valem a pena. Por esta razão, às vezes é melhor deixar ir o que é inalcançável.
Como podemos prever, este ingrediente literário e artístico é garantia de sucesso, pois utiliza uma grande vantagem: todas as pessoas se sentem identificadas com os amores impossíveis. Mas, por que?
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Por que nos apaixonamos pelas pessoas que não podemos ter?
Um amor sem saída é realmente esgotador, irritante e destruidor. Mas, infelizmente, parece que nossa educação emocional não foi suficiente para evitar que soframos por paixões e nos enterremos entre vidros quebrados que farão nada mais do que danos.
Talvez seja por culpa do romantismo que temos tão interiorizado que acreditamos estar no caminho correto, apesar de nosso coração estar sendo ferido profundamente. Porém, o que acontece conosco? Por que não podemos deixar de sentir esse impulso, essa atração fatal? A seguir apresentamos algumas razões:
1. Por causa da ansiedade afetiva
Em certos momentos, desejamos e precisamos ter alguém próximo, não importa quem seja, precisamos de companhia. Esta necessidade gera uma grande ansiedade que somente se acalma tendo o objeto de desejo perto.
Enquanto esta pessoa não está, a ansiedade aumenta e aumenta, o que leva a buscar de forma constante “o ser amado” para poder se acalmar. Como indicam os psicólogos Cindy Hazan e Phillip R. Shaver, isto pode chegar a ser realmente doentio.
2. Por nosso ideal de romantismo: lutar contra vento e maré
Tal como estávamos dizendo, nos ensinaram que no amor temos que comer pão e cebola. Mas, realmente devemos engolir tudo e seguir em frente com o que vier? Se fizermos isso não é porque queremos, e sim porque nos vemos obrigados por nossas crenças (falsas e nocivas).
3. Porque recebemos atenção
É simples. Ainda que nos custe acreditar, às vezes nos “apaixonamos” perdidamente por alguém somente porque esta pessoa nos presta um pouquinho de atenção. Isto, como é óbvio, responde a uma variedade de carências emocionais e à necessidade de se sentir aceito.
4. Por querer e por não querer
Por mais estranho que pareça, existem pessoas que escolhem amores impossíveis para evitar a intimidade amorosa. Estas pessoas, as evasivas, tendem a viver em ficções ideais para se menterem sempre idealizadas.
Como indica a psicóloga Linda Hatch: “Buscam relações onde a outra pessoa a rejeitará ou abandonará. Esta é uma maneira de se sentir “segura” ante as vulnerabilidades da intimidade real”, já que “a proximidade com outra pessoa se converte em algo percebido como perigoso”.
5. Porque as pessoas inalcançáveis aumentam seu valor
Este é o ideal de amor platônico como amor não correspondido. Como afirma Héctor G. Barnés, a lógica é bastante simples: “os recursos limitados elevam seu preço e os recursos abundantes o reduzem”.
Assim como um produto se converte em luxuoso porque não podemos ter acesso a ele, as pessoas inalcançáveis valorizam-se até limites imprevisíveis. Por esta razão, o que há de mais exclusivo do que uma pessoa comprometida que nunca abandonaria seu relacionamento? E mais gostosos que uma pessoa a quem todos querem (por exemplo um ator ou “o bonitão da sala”)?
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6. Por admiração
No amor, logicamente, deve existir admiração mútua. No entanto, existem “amores” nos quais a admiração é unilateral. Nestes casos, essa é a razão que sustenta qualquer desejo.
Qualquer relação de casal que inicie exclusivamente por este motivo está fadada ao fracasso e ao sofrimento da pessoa que admira, pois ela se submeterá as qualidades do outro.
Realmente é amor?
Como já vimos, um amor impossível pode responder uma infinidade de perguntas. Cada caso particular obedecerá suas razões e suas emoções, no entanto, o que está certo é que este não é um amor saudável.
O amor, logicamente, não é composto somente por felicidade, mas sim de possibilidade. Às vezes, a única coisa que nos une a este sentimento é de adrenalina que os desafios provocam e o sentimento de ter algo por viver.
Como podemos superar amores impossíveis?
O primeiro passo é reconhecer que, por mais que seja muito atrativo, esta pode não ser a pessoa certa para se viver uma relação saudável, construtiva e satisfatória.
Saiba que a idealização é um passo natural no processo da paixão. Entretanto, até mesmo esta, pouco a pouco, vai se esgotando. É importante saber que as pessoas não respondem a protótipos ou ideais de amor perfeito, por isso a escolha do parceiro deve partir do real e não do ideal.
Isto não significa que não possamos ser românticos ou que alguns destes ideais não possam ser cumpridos em nossa relação, é totalmente possível e desejável que isto aconteça.
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- Bauman, Z. (2012). Amor líquido: acerca de la fragilidad de los vínculos humanos. Fondo de Cultura Económica.
- Branden, N. (2000). Psicologia del Amor Romantico. Paidós.
- Hazan, C., & Shaver, P. (1987). Romantic love conceptualised as an attachment process. Journal of Personality and Social Psychology, 52, 511-524. https://psycnet.apa.org/record/1987-21950-001
- Sanpedro, P. (2005). El mito del amor y sus consecuencias en los vínculos de pareja. Disenso, 45, 5-20.
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