Diarreia por Clostridium difficile
Quando falamos sobre diarreia por Clostridium difficile, estamos nos referindo a um tipo de diarreia associada a hospitalizações. É muito mais comum entre pessoas que permaneceram internadas em hospitais do que no restante da população.
Em adultos, esta é a causa mais frequente de diarreia nosocomial, ou seja, intra-hospitalar, de quem passou algum tempo em clínicas ou hospitais. O número de casos de morte associados a essa infecção não é insignificante.
A diarreia por Clostridium difficile é causada por um microrganismo muito resistente. Essa bactéria pode sobreviver no meio ambiente por longos períodos, mantendo a sua capacidade de infectar.
Parte da resistência da bactéria está em sua capacidade de formar esporos. Os esporos são formas de sobrevivência que as bactérias têm para resistir a condições ambientais agressivas.
A via de transmissão da diarreia por Clostridium difficile é fecal-oral. Pacientes infectados liberam bactérias pelas fezes e, em caso de falhas de higiene, dispersam o microrganismo, que entra pela boca de outros pacientes.
Em hospitais e clínicas, devido à sua capacidade de formar esporos, o Clostridium difficile sobrevive. Pode ser encontrado no mobiliário dos centros de saúde, nos instrumentos cirúrgicos e nos uniformes dos funcionários.
Fatores de risco para a diarreia por Clostridium difficile
O principal fator de risco para a diarreia por Clostridium difficile é a hospitalização. No entanto, esta não é a única condição que deve ser satisfeita para que ocorra a infecção.
Entre os fatores de risco associados à doença bacteriana, temos:
- Ter recebido antibióticos: quando uma pessoa é hospitalizada por qualquer causa que requeira o uso de antibióticos, existe o risco de isso favorecer a infecção por Clostridium difficile.
- Quimioterapia: pacientes com câncer em regime de quimioterapia estão mais propensos a ter essa diarreia.
- Internação de alto risco: entre os pacientes internados, o risco é maior naqueles que passam os dias em unidades de terapia intensiva.
- Idade: mais casos foram registrados entre pessoas com mais de sessenta e quatro anos.
- Imunossupressão: pacientes com déficit na imunidade, devido à patologia de que sofrem ou aos medicamentos que recebem, ficam expostos ao Clostridium difficile e à diarreia. Esses pacientes também tendem a permanecer internados por longos períodos devido à sua imunossupressão.
- Procedimentos endoscópicos: quando a hospitalização é combinada com algum procedimento invasivo – uma endoscopia digestiva, por exemplo – o risco aumenta. Instrumentos para as endoscopias podem conter esporos de Clostridium difficile.
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Formas clínicas
A diarreia por Clostridium difficile nem sempre tem as mesmas características. De acordo com a sua gravidade e a presença ou ausência de determinados sintomas, algumas formas clínicas da doença foram estabelecidas:
- Portador da bactéria: algumas pessoas estão colonizadas pela Clostridium difficile sem ter diarreia. Em geral, são pacientes que passaram por uma internação hospitalar relativamente longa.
- Sem colite: estima-se que um quarto das pessoas que tomam antibióticos por um longo período desenvolvem diarreia por Clostridium difficile sem sintomas adicionais. Só aparece a diarreia, sem dor abdominal e sem febre.
- Colite não pseudomembranosa: neste caso, a diarreia é intensa, com até quinze evacuações por dia. Geralmente, há febre, dor abdominal e sangue nas fezes. Se não for tratada a tempo, leva à desidratação, com o perigo que isso acarreta.
- Colite pseudomembranosa: clinicamente muito semelhante à anterior, com os mesmos sintomas, mas morfologia diferente. É diagnosticada quando o paciente é submetido a uma colonoscopia durante o quadro infeccioso. Neste estudo, são observadas membranas amarelas aderidas ao intestino grosso.
- Fulminante: é a forma mais extrema e perigosa de diarreia por Clostridium difficile. Está associada a uma complicação conhecida como megacólon tóxico, em que o intestino grosso fica muito distendido e paralisado. Um paciente com colite fulminante tem um risco muito alto de morte, de até nove em cada dez casos.
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Tratamento da diarreia por Clostridium difficile
Uma vez que a diarreia por Clostridium difficile for diagnosticada por endoscopias, sorologias ou culturas, ela deve ser tratada. Além das medidas de suporte para evitar a desidratação, são usados antibióticos.
Não se pode usar qualquer antibiótico para o tratamento, já que ela pode ser causada por um deles, como vimos. Os mais usados, porque se mostraram eficazes, são a vancomicina e a fidaxomicina.
Uma opção alternativa é usar metronidazol, mas essa escolha é para locais onde a vancomicina e a fidaxomicina não estão disponíveis. Como prioridade, tentamos manter o primeiro esquema mencionado.
Em um segundo nível, para casos de risco extremo, uma cirurgia de cólon deve ser realizada. O procedimento envolve a remoção da seção do intestino grosso afetada pelas placas amarelas ou megacólon tóxico do corpo.
Como você viu, esta é uma doença perigosa e séria. Na dúvida, os profissionais de hospitais e clínicas ficam vigilantes em casos de suspeita dessa patologia em determinados pacientes. Com o tratamento imediato, o risco de mortalidade por essa causa é reduzido.
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