Por que não conseguimos lembrar do nascimento?

Escrito e verificado por a médica Maricela Jiménez López

Escrito por Valeria Sabater

Última atualização: 01 outubro, 2022

Sem dúvida, já se fez essa pergunta em algum momento. Muitas pessoas se lembram com facilidade da infância e da adolescência, porém, a maioria não consegue se lembrar do instante do nascimento. Qual seria o motivo? Explicaremos nesse artigo.

1. A neurogênese neural no nascimento e nos primeiros anos de vida

O nascimento não deixa de ser um instante traumático. Chegamos ao mundo com a ajuda de mãos desconhecidas, que nos tiram daquele interior plácido e acolhedor que é o ventre materno. Nunca existirá um lugar onde poderemos estar mais seguros e nos sentir mais queridos do que esse.

No entanto, saímos para o mundo externo, cheio de luz, sombras e sons, sem saber muito bem como e por quê. Sem dúvida, sentimos dor. É nesse primeiro momento que choramos, nosso primeiro choro (em seguida, vem muitos mais, alguns dos quais nunca nos esquecemos).

Mas além de dor, o que mais sentimos no momento do nascimento? Medo? Expectativa? Curiosidade? Não sabemos, são perguntas sem respostas e ninguém, ou quase ninguém, consegue se lembrar desse instante vital.

O motivo para que isso seja assim é a chamada neurogênese neural. Uma palavra complexa para algo realmente fascinante. Antes de nascermos e dias depois de virmos ao mundo, são momentos que marcam o instante em que nosso cérebro experimenta um crescimento neuronal maior.

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Alguns neurônios vão se superpondo a outros em um processo intenso e cheio de energia. Pode ser que isso te surpreenda… por que, então, nos esquecemos?

A memória e a competência cognitiva normalmente não estão associados aos neurônios? Ter mais neurônios não seria sinônimo de mais memória?

No caso dos recém-nascidos não é assim que funciona. Não nos primeiros meses de vida. As memórias não se mantêm porque a neurogênese neural é muito intensa, estruturas se sobrepõem a outras e as memórias não duram porque sempre surgem neurônios novos.

As memórias não são estáveis nesses primeiros instantes de vida devido a esse crescimento contínuo. Quando a criança chega aos cinco ou seis meses o processo se estabiliza, ou seja, continuam a surgir novos neurônios, porém de forma menos intensa.

E a memória então pode se estabilizar ou perdurar. Após os seis ou sete anos o processo começa a se inverter, alguns neurônios já começam a desaparecer.

Portanto, o período evolutivo mais intenso para uma criança está entre um e cinco anos. São “esponjas” ávidas por conhecimento; é o momento em que são capazes de aprender vários idiomas ao mesmo tempo.

No entanto, são incapazes de se lembrar de seus primeiros dias de vida.

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2. A importância da linguagem e da memória

De acordo com médicos e psicólogos podemos nos lembrar apenas daquilo que podemos explicar com palavras. Para fazer um pequeno teste e comprovar isso, tente pensar em qual é a sua primeira lembrança.

É possível que seja uma sensação, um cheiro e inclusive uma cena: você nos braços de sua mãe, um passeio pelo parque…

Nessa época, já estava começando a falar. São muitos os experimentos que foram feitos a esse respeito, demonstrando que, efetivamente, é mais fácil nos lembrarmos daquilo que podemos explicar com palavras.

O cérebro organiza e armazena melhor as coisas no hipocampo, essa estrutura associada à memória. É uma lembrança significativa que pode ser resgatada com palavras, visto que a região linguística está intimamente relacionada com a memória.

Assim, é muito complicado se lembrar de um momento tão intenso como é o próprio nascimento, no qual ainda não dispúnhamos de uma linguagem consolidada.

Ainda sim, existem casos isolados de pessoas que conservam pequenos fragmentos de seu nascimento, pequenas sensações… talvez você seja uma dessas pessoas? Então nos conte sua experiência!