Qual é a relação entre alimentos frios e sensibilidade dentária?

Sensibilidade dentária é aquela dor intensa sentida nos dentes ao comer alguns alimentos muito frios. Contaremos mais sobre essa condição bucal desconfortável.
Qual é a relação entre alimentos frios e sensibilidade dentária?
Vanesa Evangelina Buffa

Escrito e verificado por o dentista Vanesa Evangelina Buffa.

Última atualização: 27 maio, 2022

Tomar um sorvete ou bebida com gelo e sentir uma fisgada no dente é uma das sensações mais desconfortáveis na boca. Os alimentos frios muitas vezes desencadeiam esse problema, que conhecemos como sensibilidade dentária.

Alimentos e bebidas frescas, que deveriam ser motivo de prazer, podem se tornar uma verdadeira tortura. Mesmo alimentos comuns podem dar origem a essa dor aguda e inesperada nos dentes.

As causas da hipersensibilidade nas peças dentárias são variadas, e neste artigo falaremos sobre elas. Continue lendo e descubra a relação entre alimentos frios e sensibilidade dentária.

A sensibilidade dentária

A hipersensibilidade dentária é uma dor aguda e de curta duração sentida nos dentes diante de determinados estímulos. Fatores mecânicos como escovação; produtos químicos, como substâncias doces ou azedas; ou alterações térmicas, como alimentos quentes ou frios, podem desencadear a sensibilidade dentária.

Para entender como ocorre a sensibilidade dentária, é necessário saber em que consistem os elementos dentários. De fora para dentro, as peças são formadas pelo esmalte na coroa e o cimento na raiz, depois a dentina e na parte mais interna está a polpa.

O esmalte é o tecido duro que cobre e envolve a coroa dentária, portanto, é a área do dente que entra em contato com o exterior. Ele é muito resistente e, por não ter terminações nervosas, não é capaz de perceber estímulos de dor. Sua principal função é proteger as estruturas internas do dente.

Por dentro encontramos a dentina. Esta estrutura dura é mais porosa que o esmalte. Sua estrutura contém múltiplos canalículos que a conectam ao tecido pulpar.

Na parte mais interna do dente está a polpa. Essa é uma região de tecido mole que contém vasos sanguíneos, nervos e células dentárias especializadas. Esta área é onde começa a dor de dente.

Na zona da raiz do dente, a dentina é coberta por um tecido duro chamado cemento radicular. Ele, juntamente com as fibras periodontais e o osso alveolar, é responsável por sustentar e manter os dentes no lugar. Ele está coberto pela gengiva, que o protege do lado de fora e também ajuda a manter os dentes no lugar.

A sensibilidade dentária aparece quando o dente não está devidamente protegido. Isso significa que há uma perda do esmalte que o recobre, ou as gengivas estão retraindo e há tecido radicular em contato com o exterior.

O que acontece nos dentes quando temos sensibilidade dentária?

Como já mencionamos, a dentina é um tecido poroso que possui canais microscópicos que a conectam ao tecido pulpar. Estando expostos devido à falta de proteção do esmalte ou das gengivas, os estímulos externos provocam alterações que se traduzem em dor.

O contato dos túbulos dentinários com estímulos mecânicos de pressão, químicos ou térmicos geram movimentos no fluido que eles contêm em seu interior. Esses deslocamentos e mudanças de pressão estimulam os nervos da polpa e a dor de dente aparece.

Além disso, se a polpa estiver passando por um processo inflamatório, essa reação é muito mais perceptível. Há estudos que mostram que 30% da população adulta sofre com esse tipo de problema. A incidência aumenta com a idade até os 40 anos, sendo mais frequente entre os 20 e 30 anos.

À medida em que a pessoa envelhece, a diminuição da hipersensibilidade dentária pode ser devido a alterações escleróticas nos túbulos dentinários. Ao reduzir o diâmetro desses canalículos dentinários, o movimento do fluido dentinário é menor.

Estrutura de um dente com sensibilidade.
Quando as partes do dente que deveriam estar cobertas são expostas ao exterior, o risco de hipersensibilidade aumenta.

Relação entre sensibilidade dentária e alimentos frios

Uma dentina exposta não está preparada para entrar em contato com as pressões, fricções, substâncias químicas e mudanças de temperatura que ocorrem na boca, principalmente ao nos alimentarmos. Assim, consumir alimentos frios pode desencadear a sensibilidade dentária.

De fato, as baixas temperaturas são um dos estímulos aos quais um dente danificado mais reage. A hipersensibilidade mais comum é ao frio, e as peças que mais sofrem são os caninos e pré-molares.

A exposição da dentina é responsável por essa reação de sensibilidade dental aos alimentos frios. Essa falta de proteção dos dentes pode ser desencadeada por vários motivos.

Retração gengival

As gengivas estão inseridas na área onde a coroa e a raiz do dente se encontram para cobrir e proteger este último. No entanto, algumas situações podem levar o tecido gengival a migrar para uma área mais apical, expondo a zona radicular do dente.

Uma escovação muito traumática, com cerdas muito duras ou exercendo muita pressão ou força, pode levar à retração gengival. A gengivite e a doença periodontal também são causas deste problema.

A redução da gengiva inclusive pode surgir como consequência de certos tratamentos periodontais.

 

Descubra: O que é o sorriso gengival e como é tratado?

Cárie

A cárie é uma patologia que pode desencadear a sensibilidade dentária ao comer alimentos frios. Trata-se de um processo destrutivo dos tecidos duros do dente. Ocorre como consequência da ação dos ácidos produzidos pelas bactérias na boca ao metabolizar os açúcares da dieta.

A perda de minerais no dente deixa a dentina exposta e pode causar sensibilidade dentária. Esse sintoma incômodo pode aparecer inclusive nos estágios iniciais da cárie, e indicar que algo não está certo com esse elemento do dente.

À medida em que a doença progride sem tratamento, a sintomatologia dolorosa será mais evidente, prolongada e surgirá diante de novos estímulos.

Bruxismo

O bruxismo é um hábito oral disfuncional e involuntário. Os músculos da mastigação se contraem e os dentes fazem movimentos, rangem e apertam sem propósitos funcionais.

Apertar e atritar os dentes com muita frequência os desgasta, pois essas áreas onde os dentes colidem entre si de forma repetida perdem parte do tecido dentário.

O esmalte se afina e as áreas de dentina exposta se tornam externas. Assim, a sensibilidade dentária aparece como mais um efeito desse distúrbio.

Erosão dentária

Erosão dentária é a perda da estrutura dentária como resultado de um processo químico, sem o envolvimento de bactérias na boca como ocorre nas cáries. Existem vários agentes que podem causar essa perda mineral dos dentes.

O uso excessivo de alguns produtos pode levar à perda de minerais no esmalte e consequente aparecimento de sensibilidade dentária. Usar cremes dentais muito abrasivos, consumir alimentos altamente ácidos, como frutas cítricas ou vinagres, pode levar à desmineralização dentária.

O uso de produtos abrasivos ou ácidos para melhorar a aparência do sorriso também é uma causa desse distúrbio. Remédios caseiros e métodos de clareamento domésticos representam um alto risco de aumentar a sensibilidade. Além disso, procedimentos profissionais muito repetitivos também podem causar esse problema.

Inflamação pulpar

Quando uma peça dentária sofre determinados danos, eles podem afetar a polpa dentária. Cáries, fraturas, restaurações antigas com vazamento ou exposição a substâncias irritantes podem inflamar o tecido pulpar. Alguns tratamentos dentários como a preparação de cavidades para reparos, o entalhe de dentes para coroas ou, como já mencionamos, o clareamento, também.

Se um processo inflamatório é desencadeado dentro do elemento dental, a sensibilidade dental ao comer alimentos frios é um dos primeiros sintomas a aparecer, sendo uma indicação de que o processo ainda é reversível.

Ao contrário, quando os dentes apresentam dor a estímulos quentes que persistem ao longo do tempo, o processo pulpar é considerado irreversível. Quando o paciente for ao dentista, este provavelmente optará por realizar um canal radicular.

Dor de dente ao consumir comida fria.
Cáries, pulpites e gengivites criam o ambiente para que os pacientes sofram com a ingestão de alimentos frios.

A sensibilidade dentária a alimentos frios pode ser evitada

A sensibilidade dentária ao consumir alimentos frios pode ser evitada. Cuidar da integridade dos dentes e da saúde das gengivas é fundamental para evitar que os dentes sofram essa dor intensa.

A seguir mostramos algumas práticas simples que podem ajudá-lo a prevenir a hipersensibilidade em seus dentes:

  • Mantenha uma higiene oral adequada: escovar os dentes de forma correta e frequente previne cáries e a inflamação gengival. É importante dedicar um tempo para realizar essa tarefa com suavidade e precisão, para não danificar os tecidos orais.
  • Use escovas de dente com cerdas macias ou extra macias: evite traumatizar e desgastar os tecidos orais.
  • Escolha cremes dentais que não sejam muito abrasivos: que contenham flúor e não desgastem os dentes.
  • Use enxaguantes bucais com flúor ou para dentes sensíveis.
  • Use fio dental uma vez ao dia: faça os movimentos com suavidade para limpar a área entre os dentes e evitar inflamações gengivais.
  • Consuma com moderação alimentos e bebidas ácidos, doces, gaseificados e muito quentes ou muito frios.
  • Visite o dentista regularmente: para detectar quaisquer problemas precocemente e manter a boca saudável.

A importância de visitar o dentista

As visitas frequentes ao dentista permitem manter a cavidade oral saudável e prevenir problemas como a sensibilidade dentária. E caso apareça alguma condição, ela pode ser resolvida rapidamente para evitar sintomas incômodos.

O ideal é ir ao dentista a cada 6 meses ou com a frequência que o profissional de confiança sugerir para cada caso. De qualquer forma, se a qualquer momento aparecer essa sensação desconfortável de que mencionamos no artigo, o ideal é procurar um especialista para avaliar o problema.

Sofrer de sensibilidade dentária ao comer alimentos frios é um indício de que algo não está bem em nossa boca. Uma revisão oportuna pode evitar mais danos ou complicações no futuro.

Dentes desgastados, gengivas inchadas ou retraídas ou cáries avançadas são situações que precisam ser resolvidas o mais rápido possível. Agir a tempo não apenas evita sintomas mais incômodas, como também impede que o processo avance e posteriormente sejam necessárias terapias mais invasivas, desconfortáveis e caras.


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