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Os estilos de criação: que tipo de pai ou mãe eu sou?

9 minutos
Os estilos de criação envolvem a forma como os pais reagem e respondem aos seus filhos. O doutor em psicologia Marcelo Ceberio fala sobre os diferentes tipos que existem.
Os estilos de criação: que tipo de pai ou mãe eu sou?
Marcelo R. Ceberio

Escrito e verificado por o psicólogo Marcelo R. Ceberio

Última atualização: 23 agosto, 2022

Os estilos de criação são construções sociais que envolvem os comportamentos, as atitudes, os gestos, as mensagens verbais e paraverbais dos pais aos filhos e as estratégias comunicacionais ou técnicas e táticas, tanto conscientes e voluntárias quanto involuntárias, que eles utilizam na criação dos filhos.

Nenhuma instituição nos ensina a ser pais. Esse papel é aprendido a partir do tipo de criação recebida e se caracteriza pelas ações e correções que os pais acreditam ser corretas. Assim, a família de origem é o padrão de referência quando se trata de criar os filhos.

No entanto, os pais também são um espelho que os filhos observam, e estes lhes devolvem seu reflexo. Ou seja, os estilos de criação envolvem a transmissão de informação involuntária. Dessa maneira, os pais são mais transparentes do que acreditam: eles transmitem valores, crenças, formas de expressão afetiva, estilos comunicacionais, etc. A seguir, vamos nos aprofundar um pouco mais nesse assunto.

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Estilos de criação: qual tipo de pai ou mãe eu sou?

Uma das melhores teorias conhecidas sobre os estilos de criação foi desenvolvida pela psicóloga Diana Baumrind. Ela classificou os pais e as mães em quatro categorias:

  • Autoritários: caracterizam-se por dizer aos filhos exatamente o que eles têm que fazer.
  • Permissivos: permitem que os filhos façam o que quiserem.
  • Democráticos: proporcionam normas e orientação sem ser dominantes.
  • Negligentes: não levam os filhos em consideração e seus interesses estão focados em outras áreas.

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Democráticos

São pais equilibrados que mantêm uma comunicação frequente e aberta na qual o diálogo é o melhor método para conseguir fazer com que as crianças melhorem sua compreensão.

São exigentes e receptivos e estão focados nos filhos. Além disso, querem que, por meio do processo de criação, eles se tornem pessoas autônomas e maduras. Esses tipos de pais entendem os sentimentos dos filhos e os ensinam a lidar com eles.

Geralmente, não são tão controladores, permitindo que a criança se aventure em suas experiências com maior liberdade, deixando-a, assim, tomar decisões baseadas em suas próprias ideias.

Esses pais, ao apoiar a iniciativa pessoal dos filhos, permitem que eles mesmos resolvam os problemas com os quais se deparam no dia a dia. Isso faz com que a autonomia das crianças se fortaleça.

Quando estabelecem uma punição, explicam os motivos do castigo que, em geral, são moderados, nada severos nem arbitrários, pois, embora costumem perdoar, tentam ensinar em vez de castigar. Isso significa que tendem a criar crianças que têm uma autoestima mais alta e que vão se tornar mais autônomas gradativamente.

Esses pais propõem normas claras e estabelecem limites afetivamente. Também permitem que as crianças desenvolvam sua independência e esperam um comportamento maduro, mas sempre adequado para a idade dos filhos, ou seja, um comportamento que esteja de acordo com o ciclo evolutivo deles.

Valorizam os filhos e estão atentos às suas necessidades, preocupações e interesses. Por esses motivos, este é considerado o estilo mais recomendado.

Autoritários

São progenitores superexigentes, não receptivos, e têm altas expectativas em relação aos seus filhos. Impõem um regime totalitário que se caracteriza pelas altas expectativas de cumprimento das normas familiares, no qual existe pouco diálogo aberto entre pais e filhos, muito menos para discutir uma ordem.

São pais com um estilo restritivo que castigam quando o que tentaram impor não é cumprido e esperam que os filhos respeitem o trabalho e o esforço que eles realizaram na criação.

Não facilitam o diálogo e, às vezes, o rejeitam como medida disciplinar. Por exemplo: “enquanto você não fizer o que estou dizendo, não fale comigo”. Frequentemente, a única explicação que dão é do tipo “porque eu estou mandando”.

São menos sensíveis às necessidades dos filhos e têm mais probabilidades de bater ou gritar com uma criança em vez de discutir o problema. Os filhos que são fruto desse tipo de criação podem ter menos habilidades sociais porque os pais, em geral, lhes dizem o que devem fazer, em vez de permitir que escolham por conta própria.

São progenitores que exercem a disciplina sem conceder qualquer autonomia aos filhos e que consideram a obediência uma virtude. Por isso, privilegiam as medidas de castigo ou força.

Permissivos

São pais muito sensíveis às necessidades da criança e seus desejos, e se caracterizam por ter poucas expectativas de comportamento em relação a eles. É um estilo de criação no qual os pais estão muito envolvidos, mas têm poucas exigências e controle sobre a vida dos filhos A ausência de limites impede que as crianças adquiram habilidades de autocontrole.

Os filhos de pais permissivos tendem a ser imaturos, não controlam seus impulsos nem são socialmente responsáveis, tendem a ser mais impulsivos e, na adolescência, podem participar mais de comportamentos marginais. As crianças nunca aprendem a controlar seu próprio comportamento e sempre esperam sair impunes.

Esse estilo de criação gera crianças mimadas ou malcriadas que radicalizam suas atitudes se o que querem não for feito.

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Negligentes

Esses pais e mães não são nem exigentes nem flexíveis. Também são chamados de não participativos ou desinteressados. São frios e controladores e não costumam se envolver na vida dos filhos. Dessa maneira, não exigem, não estabelecem limites nem estimulam a adoção de responsabilidades por parte dos filhos.

As crianças cujos pais são negligentes desenvolvem a ideia de que outros aspectos da vida dos pais são mais importantes do que elas.

Os pais negligentes costumam ignorar as emoções e opiniões dos filhos. Também não os apoiam, mas suprem suas necessidades básicas (moradia, educação, alimentação). Frequentemente, estão emocionalmente ausentes e, às vezes, no aspecto físico também. Ou seja, embora estejam presentes fisicamente, não há comunicação.

Não são ou não conseguem ser sensíveis às necessidades das crianças e não lhes exigem nada em suas expectativas de comportamento. Quem cresceu e viveu em um ambiente negligente pode apresentar problemas emocionais e comportamentais na vida adulta.

Para essas crianças, a falta de afeto e conselhos traz consigo efeitos muito negativos em seu desenvolvimento. Por isso, elas se sentem inseguras, desvalorizadas e dependentes. Têm dificuldades para socializar e apresentam baixa tolerância à frustração.

Tipologias específicas dos estilos de criação

No meu trabalho com adolescentes, observei uma série de particularidades parentais em entrevistas com pais e filhos. Baseando-me na tipologia de Baumrind, destaco de maneira sintética algumas tipologias parentais, embora seja preciso levar em consideração que não existem estilos de criação puros, muitas vezes são combinações que dão um viés particular à parentalidade.

  • Culpados: são aqueles pais que, se impõem limites, se sentem culpados. Eles buscam ser reconhecidos e queridos por seus filhos e, em seu imaginário, o NÃO implica correr o risco de serem rejeitados.
  • Exigentes: estimulam os filhos, conhecendo as possibilidades de cada um, valorizando-os e motivando-os.
  • Superexigentes: sempre destacam o que não foi conquistado. Não valorizam o que foi feito, e sim o que não foi feito. É uma maneira implícita de desvalorizar.
  • Autoritários: são ditadores que não explicam o porquê de seus limites e suas ordens. Não importa o que os filhos desejem, mas o que acreditam que é o melhor para eles.
  • Limitadores oportunos: são os pais e as mães que colocam limites efetivos, claros, flexíveis e explicados.
  • Super fornecedores: são pais que acreditam que dar tudo e satisfazer todas as necessidades e comodidades dos filhos garante seu crescimento.
  • Permissivos unlimited: pais que aceitam excessivamente tudo o que os filhos desejam e não colocam freios em suas ideias. Faltam limites. Esses pais tendem a não orientar e acabam sob a autoridade dos próprios filhos.
  • Demandantes: esses pais precisam do afeto e do reconhecimento dos filhos, buscam agradá-los e ser valorizados por eles. Estão convencidos de que os filhos não estarão melhor em outro lugar do que em casa.
  • Aves superprotetoras: cuidam ao extremo dos filhos, não os estimulando à independência. Basicamente, têm medo de que algo possa acontecer com eles. Agem e fazem por eles.
  • Projetores: são aqueles pais que tentam depositar seus desejos frustrados nos filhos. Depositam nos filhos aquilo que não conseguiram concretizar em suas próprias vidas. Não escutam os desejos deles.
  • Fornecedores: são pais que orientam seus filhos. Eles fornecem conselhos, mas proporcionam liberdade para que os filhos trilhem o seu próprio caminho. Podem dar algo, mas como um trampolim em direção à independência. Sabem soltá-los.
  • Onipotentes: podem tudo. Oferecem aos filhos tudo o que precisam e mais. Estão convencidos de que essa é a melhor maneira de agir como pais. Mesada para os filhos, carro e contas pagas.
  • Comunicadores: priorizam comunicar e explicitar o que está tacitamente ligado à família. Não pressionam. Pelo contrário, respeitam os tempos, perguntam e evitam presumir.
  • Libertadores: estimulam a liberdade e a independência. São quase expulsivos, mas sem medir as reais possibilidades emocionais ou de maturidade dos filhos para se tornarem independentes.
  • Valorizadores: são emocionalmente nutritivos. Expressam o afeto e a valorização com as palavras e as ações, mas, além disso, demonstram com suas atitudes.

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Existem algumas combinações letais de estilos de criação, como as seguintes:

  • Libertadores e onipotentes: além de estimularem a liberdade sem medidas, também fornecem tudo e não deixam os filhos crescerem. Dão um apartamento para que vivam sozinhos, mas arcam com todos os gastos. Costumam confundir os filhos, pois os estimulam em direção à independência, mas suprem todas as suas necessidades.
  • O malvado e o bonzinho: um dos pais pode ser autoritário e, o outro, culpado. Um pode colocar limites extremos, rígidos, além de dar ordens e castigar, enquanto o outro encoberta, protege e castiga. É um triângulo que favorece a coalizão.
  • Culpados permissivos: não impõem limites e se sentem culpados ao estabelecê-los, razão pela qual inexoravelmente acabam se tornando filhos dos próprios filhos. Ou seja, é estabelecida uma hierarquia inversa: filhos que dominam e pais que se submetem a eles.
  • Projetores superexigentes: além de não enxergarem os filhos e seus desejos ou suas aspirações, eles também exigem em excesso, ignorando o que os filhos querem e, fundamentalmente, podem fazer. Costumam destacar o que falta, de acordo com parâmetros em que projetam a si mesmos. Se a isso for somada a característica de pais autoritários, o quadro se agrava ainda mais.

Uma parentalidade nutritiva e funcional é aquela que favorece o crescimento, a autonomia, a comunicação, as expressões afetivas e os limites claros. Reúne, portanto, as seguintes características: Pais e mães valorizadores + Fornecedores afetivos + Exigentes produtivos + Limitadores oportunos + Comunicadores.

Longe da utopia da parentalidade ideal e mais proximamente daquela saudável e funcional, exercer um bom estilo de criação é uma aprendizagem cotidiana nessa bela tarefa de ser pai e mãe.


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