Raiva frequente: o que está por trás disso?

As explosões frequentes de raiva são um problema para a pessoa que as manifesta e para aqueles que estão à sua volta. Descubra o que está por trás destas explosões.
Raiva frequente: o que está por trás disso?

Última atualização: 09 agosto, 2022

A raiva é uma das emoções mais intensas que podemos manifestar. É uma emoção primária, natural e que em hipótese alguma devemos reprimir. No entanto, quando se sofre de episódios de raiva frequente, a potência dessa emoção pode atingir limites preocupantes. Isso pode ser explicado de várias maneiras, embora em geral pertença ao transtorno explosivo intermitente (TEI).

Trata-se de uma alteração comportamental que se distingue por explosões de raiva em situações cotidianas. É uma reação desproporcional e injustificada que também não é premeditada. Ou seja, quem desenvolve esse comportamento não o controla; por isso as explosões são muitas vezes seguidas por um sentimento de vergonha e arrependimento.

Causas da raiva frequente

Existem muitas hipóteses sobre por que o transtorno explosivo intermitente se desenvolve. Um artigo publicado no Journal of Psychiatric Research em 2010 aponta que uma alta porcentagem de pacientes que manifestam esse transtorno tem histórico familiar.

Dessa forma, a raiva frequente pode ter uma explicação genética. Traços genéticos específicos para explosões de raiva não foram identificados, embora os pesquisadores desconfiem que existe uma interação complexa entre vários componentes genéticos.

Além disso, acredita-se que as diferentes manifestações da agressão (reativa, proativa, direta, indireta) são explicadas por meio de diferentes mecanismos neurobiológicos. Esse é um transtorno crônico, embora possa apresentar um curso episódico (com períodos recorrentes).

Naturalmente, nem todos os episódios podem ser explicados pelo componente genético. Vejamos algumas condições que podem estar por trás da raiva frequente.

Traumas de infância

A raiva frequente pode ser causada por um trauma.
Qualquer experiência traumática durante os primeiros anos de vida pode ter sérias repercussões no comportamento na idade adulta.

As evidências parecem indicar uma relação entre trauma na infância e transtorno explosivo intermitente. Episódios traumáticos na infância podem gerar sequelas que surgem na adolescência ou na idade adulta por meio da raiva frequente.

Eles não precisam ser grandes eventos traumáticos, mesmo os pequenos podem desencadear explosões como essa. O bullying na escola, a perda de um animal de estimação, uma mudança para outra cidade e a falta de afeto dos pais podem levar ao transtorno da raiva.

Transtornos de personalidade

Os transtornos de personalidade são um grupo de condições caracterizadas por padrões bastante acentuados de pensamento, ação e comportamento. O transtorno de personalidade antissocial, transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo ou transtorno de personalidade narcisista são apenas alguns exemplos.

Os pesquisadores mostraram que existe uma relação entre essas condições e a raiva recorrente. De fato, é muito comum que ocorram comorbidades entre os dois. As evidências indicam que a raiva frequente precede o início desses transtornos.

Distúrbio de ansiedade generalizada

Os especialistas também encontraram uma ligação entre o transtorno de ansiedade generalizada e a raiva frequente. Até metade dos pacientes desenvolve ansiedade junto com transtorno explosivo intermitente, de forma que essa comorbidade é muito frequente.

É comum que ambas as condições estejam associadas à fase adolescente. A verdade é que elas podem aparecer em qualquer idade, de forma que os adultos também devem estar atentos aos sinais que indicam que os casos não são isolados.

Transtorno de estresse pós-traumático

Por fim, os pesquisadores listaram o transtorno de estresse pós-traumático entre as causas das explosões de raiva frequentes. Essa comorbidade dá origem a depressão, ansiedade, impulsividade e até mesmo ideação suicida. Como no caso anterior, ele pode se desenvolver em qualquer idade.

Transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno do pânico, fobia social e outras condições semelhantes também podem estar escondidas por trás do transtorno explosivo intermitente. Às vezes, não há relação com nenhum desses diagnósticos, pois ele é explicado por diferenças estruturais ou químicas no cérebro.

Subtipos de raiva frequente

Nem todas as manifestações de raiva frequente são iguais. Em geral, os episódios costumam durar no máximo 30 minutos e são muito intermitentes. Ou seja, uma situação que causou uma explosão de raiva hoje pode não fazer o mesmo amanhã, e vice-versa. Os especialistas catalogam os seguintes subtipos:

  • O que só destrói propriedades.
  • O que apenas ameaça as pessoas.
  • Transtorno explosivo intermitente em que apenas a pessoa fere a si mesma (com e sem ameaça).
  • Aquele em que a propriedade é destruída e as pessoas são ameaçadas.
  • O que a propriedade é destruída e as pessoas são feridas.

É raro que esse distúrbio se manifeste por toda a vida, embora, é claro, isso possa ocorrer. A porcentagem de casos desse tipo aumenta na presença de comorbidade. Ou seja, quando o paciente desenvolveu algumas das condições que já mencionamos.

Diagnóstico e tratamento da raiva frequente

A raiva frequente pode ser controlada.
Um terapeuta mental pode ajudar a controlar a raiva frequente.

Como você pode imaginar, o diagnóstico de raiva frequente passa por uma série de complicações. Muitas vezes ela é confundida com outros transtornos, como transtorno desafiador opositivo ou transtorno disruptivo da desregulação. Também é possível que seja considerado um sintoma de uma condição e não um distúrbio isolado.

Em geral, o diagnóstico de transtorno explosivo intermitente consiste na avaliação médica do histórico, exames que avaliam o estado mental e físico do paciente e exclusão de diagnósticos diferenciais. Uma vez catalogada esta condição, pode-se proceder ao tratamento.

Embora o tratamento seja diferente dependendo das características do diagnóstico, geralmente são escolhidas a terapia cognitivo-comportamental e a ingestão de medicamentos. Entre outros, serão utilizados antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e reguladores de humor.

É muito importante que os pacientes procurem um diagnóstico quando a raiva frequente ficar fora de controle. Como as evidências indicam, as consequências jurídicas, materiais e físicas que essa condição pode gerar nunca podem ser previstas. Esse distúrbio é um perigo tanto para os outros quanto para o próprio paciente.

Por isso, aconselhamos que, em caso de apresentar sintomas compatíveis, você consulte um especialista para ter acesso a um diagnóstico seguro e, assim, iniciar o tratamento. Essa é uma condição que pode ser controlada, para que você possa retornar a um estilo de vida normativo em que tenha a autonomia das suas emoções.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Coccaro EF. A family history study of intermittent explosive disorder. J Psychiatr Res. 2010 Nov;44(15):1101-5.
  • Coccaro, E. F. Psychiatric comorbidity in intermittent explosive disorder. In Intermittent Explosive Disorder. Academic Press. 2019; 67-84.
  • Fanning JR, Lee R, Coccaro EF. Comorbid intermittent explosive disorder and posttraumatic stress disorder: Clinical correlates and relationship to suicidal behavior. Compr Psychiatry. 2016 Oct;70:125-33.
  • Galbraith T, Carliner H, Keyes KM, McLaughlin KA, McCloskey MS, Heimberg RG. The co-occurrence and correlates of anxiety disorders among adolescents with intermittent explosive disorder. Aggress Behav. 2018 Nov;44(6):581-590.
  • Kulper DA, Kleiman EM, McCloskey MS, Berman ME, Coccaro EF. The experience of aggressive outbursts in Intermittent Explosive Disorder. Psychiatry Res. 2015 Feb 28;225(3):710-5..
  • Nickerson A, Aderka IM, Bryant RA, Hofmann SG. The relationship between childhood exposure to trauma and intermittent explosive disorder. Psychiatry Res. 2012 May 15;197(1-2):128-34.
  • Scott KM, de Vries YA, Aguilar-Gaxiola S, Al-Hamzawi A, Alonso J, Bromet EJ, Bunting B, Caldas-de-Almeida JM, Cía A, Florescu S, Gureje O, Hu CY, Karam EG, Karam A, Kawakami N, Kessler RC, Lee S, McGrath J, Oladeji B, Posada-Villa J, Stein DJ, Zarkov Z, de Jonge P; World Mental Health Surveys collaborators. Intermittent explosive disorder subtypes in the general population: association with comorbidity, impairment and suicidality. Epidemiol Psychiatr Sci. 2020 Jun 23;29:e138.
  • Tuvblad, C., Sild, M., Frogner, L., & Booij, L. (2019). Behavioral genetics of aggression and intermittent explosive disorder. In Intermittent Explosive Disorder. Academic Press. 2019; 17-35.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.