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Não é porque existe o perdão que as pessoas têm o direito de machucar os outros

4 minutos
Saber pedir perdão é importante, mas não podemos esquecer que isso também significa que um dano foi causado. Um dano que é preciso ajudar a reparar.
Não é porque existe o perdão que as pessoas têm o direito de machucar os outros
Bernardo Peña

Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña

Escrito por Raquel Aldana
Última atualização: 14 março, 2023

Acostumamos-nos com muita facilidade ao que é bom. Nosso corpo descansa em estados de bem-estar, e ter garantido o perdão por nossas falhas dá um colchão social frente aos erros que nos oferece segurança.

No entanto, deve ficar claro para nós que o fato de ter a opção de pedir perdão não nos dá nenhum direito de perder o respeito pelos demais, de causar danos como se fosse algo gratuito.

É conhecido o conto em que o pai pede ao seu filho que toda vez que ele ofender uma pessoa, pregue um prego em uma madeira. Passado um tempo, o pai pede que o filho retire todos os pregos que cravou e olhe a madeira.

Enquanto ele faz isso, o pai diz que os pregos são como as suas ofensas, e que a madeira é como as pessoas que ele feriu.

A criança olha a madeira e se dá conta do que seu pai quer dizer: ele removeu os pregos, mas a madeira já não tem o mesmo aspecto de antes.

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Ele aprendeu uma grande lição, e agora entende que com as pessoas ocorre o mesmo, e que com o perdão alguém pode até retirar o prego que cravou, mas reparar o dano causado já é uma outra história.

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Há pessoas que nunca vão embora

Conforme acumulamos anos, é mais raro errarmos nisso, errarmos na hora de distinguir quem vai embora com a água da tempestade e quem vai ficar ao nosso lado.

Não se trata de alguém ter dito algo ou prometido, mas sim de alguém que conheceu nossas misérias e, ainda assim, ficou conosco.

Com estas pessoas, nossa relação chegou a um ponto no qual somos capazes de dissociar o que alguém faz da pessoa que ela é.

E as pessoas fazem o mesmo conosco, pois já passamos por muitas etapas de crise das quais pensamos que nunca iríamos conseguir sair.

No entanto, o fato de que as pessoas tenham conseguido superar a situação não nos dá o direito de perder todo o cuidado com elas.

Não podemos manter o pensamento e de que “como me conhece, certamente entende que eu não fiz nada de má fé”.

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O fato de que tenhamos a segurança de que o lobo vem não nos dá o direito de descuidar de quem nos protege dele. As pessoas não são assim; somos capazes de dar tudo, mas também precisamos de cuidados e de atenção.

Se não, ainda que não saiamos do lado de ninguém, deixaremos de ser felizes no lugar em que nos encontramos.

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Não se conforme em pedir perdão

Pedir desculpas é apenas o primeiro passo. Um grande passo, certamente, mas é somente o primeiro. Com ele reconhecemos nosso erro, nossa vergonha, nosso defeito e, além disso, o expressamos.

Com estas palavras ficamos com o prego que cravamos; no entanto, agora fica uma ferida pela qual seguimos sendo responsáveis.

Assim, a melhor forma de dar a magnitude que a ferida tem é:

  • Trabalhar para repará-la e participar do processo e da paciência necessária para curá-la.
  • Passar de imaginar a ver, cheirar, sentir ou escutar. É permitir que em nossa memória se guarde o aprendizado com o fogo dos sentimentos.
  • Além disso, é preciso agradecer. Agradecer que a outra pessoa nos permita este aprendizado que teria o direito de nos negar.
  • Finalmente, também é oferecer. Oferecer condutas alternativas que tenhamos realizado em circunstâncias parecidas, e firmar acordos que suponham um crescimento para os dois.
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O amor sempre com carinho

O amor que não se demonstra não serve para muita coisa. Pode estar adormecido em vez de ter morrido, mas para este preciso instante não existe diferença.

Desta maneira, a melhor forma de não pregar a madeira dos outros é abraçar, olhar, escutar, e sentir aos demais enquanto caminham junto a nós.

Quando olhamos com cuidado e carinho, é menos provável que façamos mal a quem amamos.

Lembre-se de que os pregos que martelamos de uma maneira mais profunda são os da indiferença e as do desinteresse.

São eles, precisamente, os que fazem com que a outra pessoa duvide e não tenha certeza de que, apesar da sua incondicionalidade, seguimos amando-a.

Se alguma vez você causou mal a uma pessoa sem meditar previamente sobre a dor que provocava, lembre-se de que estas feridas são muito difíceis de curar e que, antes de qualquer coisa, é preciso ter paciência para participar da cura das dores que você mesmo causou.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.