Autocompaixão e o papel de vítima
Escrito e verificado por a filósofa Isbelia Esther Farías López
Existem certas diferenças entre a autocompaixão e o papel de vítima, mas dependendo da nossa atitude, estes podem ser quase sinônimos e nos prejudicar muito.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, autocompaixão é “Compaixão por si mesmo; autopiedade”, sendo a compaixão definida como: “Sentimento pesar, pena e simpatia para com o sofrimento de outrem, associado ao desejo de confortá-lo, ajudá-lo”.
Como destacam profissionais como o autor Jack Kornfield, a compaixão surge da consciência de que estamos interconectados com todas as coisas e de que isso faz parte da nossa natureza mais profunda.
Nesse sentido, a autocompaixão pode ser positiva, pois implica sermos afetuosos conosco, em vez de nos criticarmos fortemente quando não acertamos.
É por isso que os profissionais Simón e Germer, com foco na autocompaixão a partir do Mindfulness e da concepção budista, a definem como:
“Dar a nós mesmos o cuidado, o conforto e a serenidade que naturalmente brindamos para aqueles que amamos quando estão sofrendo, quando fracassam ou quando se sentem desajustados.”
Então, o que há de errado nisso?
A autocompaixão e o papel de vítima
Em vez de tomar a autocompaixão como uma forma de evitarmos ser críticos demais conosco e de nos ajudar a fazer o melhor, ela pode nos levar a desempenhar o papel de vítimas.
Cair no papel de vítima pode nos levar a um comportamento irresponsável, evitando enfrentar os problemas com uma atitude passiva. Aqueles que assumem o papel de vítima podem acabar culpando os outros pelos seus problemas.
O problema ao qual a autocompaixão pode nos levar é que, ao não termos consciência da maneira como assumimos nossas dificuldades, nos posicionamos como vítimas e nos impedimos de avançar na vida.
Por que o sentimento de autocompaixão surge?
As pessoas com excesso de autocompaixão e cujos comportamentos acabam por se vitimizar por qualquer coisa tendem a ter baixa autoestima e não sentem que têm a capacidade suficiente para resolver os problemas.
Por isso, essas pessoas vivem a maior parte do tempo sofrendo e esperando que os outros resolvam tudo para elas. Obviamente, quem assume o papel de vítima acaba se afastando do sucesso, da superação de desafios e da conquista de metas.
Aqueles que sempre têm pena de si mesmos podem acabar se tornando vítimas eternas que culpam Deus, seus vizinhos, a sorte, a vida, seu parceiro, seus colegas ou quem quer que seja pela sua situação. Se acreditarmos que somos fracos e indefesos, nunca poderemos assumir o controle total de nossas vidas.
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Qual é a raiz desse sentimento?
Muitas pessoas sentem pena de si mesmas e assumem papéis de vítimas quando, desde a infância, só receberam mensagens limitantes de seus pais, como:
- “Coitadinho, ele não consegue fazer o dever de casa.”
- “Pobrezinho, ele não está bem.”
- “Sempre acontecem coisas ruins com ele.”
- “Ele não tem culpa pelo que aconteceu”, entre outras.
É claro que as crianças ouvem esses tipos de mensagens e gradualmente as internalizam, então isso se torna parte do seu repertório durante a vida adulta.
Outro motivo pode ser o fato de a criança ver, desde muito jovem, como a sua mãe ou o seu pai se vitimiza e coloca a culpa de tudo nos outros. Então, a criança acaba imitando essa atitude.
Se uma criança também foi vítima real de alguma forma de abuso, isso pode afetar o resto da sua vida se ela não trabalhar o problema de forma consciente com uma terapia adequada.
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O que fazer para evitar cair no papel de vítima?
- Seja consciente. Lembre-se de que esse sentimento só o levará a se anular e limitará todas as suas capacidades e potencialidades.
- Pare de procurar a origem. Nesse ponto, se o importante é mudar, pode não importar como tudo começou, pois você pode cair no círculo eterno de procurar culpados.
- Evite reclamar. Veja o lado bom das coisas. Principalmente, comece observando tudo o que você tem na vida e pratique a gratidão.
- Esqueça a pena. Pare de tentar chamar a atenção de outras pessoas e, em vez disso, reconheça qual tem sido a sua responsabilidade no assunto.
- Comece a resolver. Pare de delegar tarefas a outras pessoas. Lembre-se de que quanto mais você deixa os outros agirem sobre as questões em que você está imerso, menor será o controle sobre a sua própria vida.
- Aja como uma pessoa adulta. Lembre-se de que você não é mais uma criança indefesa que precisa da proteção dos pais. Portanto, aja como uma pessoa adulta, com responsabilidades.
- Estabeleça seus objetivos. Busque-os com determinação.
Tudo que aconteceu ontem deve ficar no passado. Deixe de lado a autocompaixão e o papel de vítima eterna. Hoje é um novo dia e você pode começar a viver de uma maneira completamente diferente. Assuma o controle da sua vida e veja até onde você pode ir. Nunca é tarde!
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