Adoçantes contra a obesidade: mito ou realidade?

Tradicionalmente, os adoçantes são considerados uma opção benéfica no controle da obesidade. Mas até que ponto isso é verdade? A seguir, vamos falar tudo sobre o tema.
Adoçantes contra a obesidade: mito ou realidade?
Daniel Baldó Vela

Escrito e verificado por o enfermeiro Daniel Baldó Vela.

Última atualização: 23 agosto, 2022

A palavra “adoçante” se refere a qualquer substância capaz de produzir um sabor doce. Neste artigo, vamos focar nossa atenção nos tipos que não contêm calorias. Será que esses adoçantes são bons aliados contra a obesidade?

Ao longo da história, a população sempre teve uma indiscutível preferência por alimentos doces. No entanto, no século XVIII, foi descoberto que o açúcar é nocivo. Ao mesmo tempo, o estereótipo de beleza mudou para um corpo mais magro.

Ambas as circunstâncias fizeram com que, no final do século XIX, fosse criado o primeiro adoçante sem calorias. Assim, o tão apreciado sabor doce parecia estar garantido sem prejuízos para o estado de saúde dos consumidores. Mas até que ponto isso é verdade?

Os adoçantes são aptos para o consumo humano

Os adoçantes provaram ser substâncias seguras e aptas para o consumo humano. No entanto, é fundamental respeitar as doses máximas estabelecidas pelos órgãos oficiais.

Seus benefícios na prevenção, no tratamento e no controle do sobrepeso e da obesidade, contudo, foram questionados em várias pesquisas.

Mais especificamente, foram estudadas suas ações sobre a insulina, a saciedade, a sensação de recompensa, a microbiota intestinal, os adipócitos, entre outros. Todos estes estão envolvidos na origem da obesidade.

Chá com adoçante
Desde que a dose máxima recomendada seja respeitada, os adoçantes são seguros para o consumo humano.

Os adoçantes são benéficos contra a obesidade?

As evidências científicas não respaldam o uso dos adoçantes contra a obesidade. A seguir, vamos compartilhar os motivos que os tornam ineficazes:

Ação dos adoçantes sobre a liberação de insulina

A insulina é um hormônio liberado pelo pâncreas e seu objetivo é retirar o excesso de glicose do sangue. Para isso, transporta a glicose até os depósitos de glicogênio e gordura corporal. Até agora, acreditava-se que os adoçantes sem calorias não eram capazes de estimular a sua liberação. Embora isso seja verdade, há ressalvas.

É verdade que, diretamente, eles são incapazes de estimular a produção de insulina. No entanto, podem fazê-lo indiretamente.

Esse efeito indireto se deve à sua capacidade de acelerar o esvaziamento gástrico e aumentar a absorção intestinal. Visto que são substâncias sem calorias, isso não deveria ser um inconveniente.

No entanto, quando os adoçantes são adicionados a alimentos que possuem calorias (sucos, bolachas, bolos, laticínios, etc.), fazem com que ambas as condições se tornem ideais para gerar um excesso de glicose no sangue e, consequentemente, um pico de insulina.

Insulina no pâncreas
Os adoçantes sem calorias são capazes de estimular a produção de insulina de forma indireta.

A instabilidade dos níveis de glicose implica uma estimulação reiterada do pâncreas para produzir insulina. Isso vai provocar o que se conhece como “resistência à insulina” e levará a um aumento do risco de diabetes mellitus, sobrepeso e obesidade.

Adoçantes e balanço energético

O conceito de balanço energético se refere à relação entre as calorias que consumimos e gastamos. Um balanço energético positivo significa que o consumo é superior ao gasto, e vice-versa.

Apesar de seu baixo teor calórico, os adoçantes predispõem a um balanço energético positivo. Isso se deve ao fato de que:

  • Aumentam o apetite.
  • Oferecem uma menor sensação de saciedade.
  • Seu sabor doce é contraproducente. A exposição repetida a um sabor aumenta sua dependência. Se levarmos em consideração que os alimentos naturais não conseguem atingir seu nível de doçura, fica clara a preferência de seus consumidores por alimentos artificiais. Estes, geralmente, contêm uma infinidade de calorias vazias.
  • A ideia de que os alimentos que os contêm “não engordam” aumenta o seu consumo. O resultado final será um consumo maior do que se tivéssemos preferido um alimento doce em sua forma original.
  • Reduzem o efeito térmico dos alimentos. O conceito faz referência à quantidade de calorias gastas na digestão, na absorção e no metabolismo dos alimentos. Sua redução leva a uma diminuição do gasto energético. É por isso que o risco de causar um balanço energético positivo é maior.
  • Não são capazes de ativar os sistemas de recompensa. Essa é a razão pela qual quem consome adoçantes precisa ingerir alimentos continuamente em uma busca incessante pelo prazer.

Efeito dos adoçantes sobre a microbiota intestinal

A microbiota intestinal se refere ao conjunto de bactérias que vivem em nosso intestino em uma relação de simbiose (benefício mútuo). Apesar da sua formação ser concluída aos dois anos de idade, ela pode ser modificada ao longo da vida por diversos fatores. A alimentação é um deles.

As pessoas obesas têm uma microbiota característica que favorece o estado de obesidade. Hoje, sabemos que os adoçantes favorecem o desenvolvimento desta microbiota.

Ação dos adoçantes no sistema digestivo
Os adoçantes sem calorias são capazes de gerar uma microbiota própria de indivíduos obesos.

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Ação dos adoçantes sobre os adipócitos

O papel dos adoçantes sobre o tamanho e o número de adipócitos – células de gordura – é variável. Isso porque depende tanto das características do adoçante quanto das do consumidor. É por isso que as evidências científicas não permitem tirar conclusões sobre esse assunto.

De acordo com tudo que foi exposto acima, podemos afirmar que os adoçantes não são bons aliados no controle do sobrepeso e da obesidade.


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