Traumatismo dentário: o que é e quais tipos existem?

Bater a boca e sofrer um traumatismo dentário é uma situação bastante comum. Neste artigo, vamos contar como esses acidentes se manifestam e o que pode ser feito para recuperar o sorriso danificado.
Traumatismo dentário: o que é e quais tipos existem?
Vanesa Evangelina Buffa

Escrito e verificado por o dentista Vanesa Evangelina Buffa.

Última atualização: 27 maio, 2022

O traumatismo dentário é muito comum durante a infância e a adolescência, embora também possa ocorrer em adultos. Depois das cáries, é o segundo maior motivo para consultas odontológicas.

Trata-se de uma lesão nos dentes e nos tecidos ao seu redor, como resultado de um impacto ou batida. Gera problemas estéticos, de mastigação e de fala na pessoa afetada. Agir com urgência e determinação no momento do traumatismo dentário melhora o prognóstico da situação.

Neste artigo, vamos explicar por que essas lesões ocorrem, quais tipos existem e como elas são tratadas. Além disso, também vamos falar sobre o que você pode fazer para reduzir o risco de traumatismos na boca.

Fatores de risco para o traumatismo dentário

Uma pancada na boca que causa um traumatismo dentário pode acontecer a qualquer momento e em qualquer idade. Porém, existem fatores que fazem com que isso se torne mais frequente em determinadas circunstâncias:

  • Começar a andar: quando a criança está aprendendo a se movimentar sozinha, ela ainda não domina totalmente o equilíbrio e as quedas são comuns. Bater a boca em móveis baixos, tropeçar em tapetes ou outros objetos e cair do andador são situações que podem causar um traumatismo dentário.
  • Brincadeiras infantis: brincadeiras rudes, arremesso de objetos, queda de balanços, bicicletas, patins e skates.
  • Esportes: a prática de alguns esportes, principalmente os de contato, predispõe a lesões nos dentes.
  • Acidentes de trânsito: é uma causa que pode levar a traumatismos dentários em qualquer idade.
  • Abuso físico: pancadas na boca desferidas por um agressor podem causar um traumatismo dentário. A bibliografia existente considera o abuso infantil como uma causa de lesões nos dentes das crianças.
  • Brigas: brigas com agressões físicas também são um fator predisponente para sofrer lesões dentárias.
  • Condições médicas: pacientes com problemas de mobilidade, epilepsia, desatenção ou hiperatividade têm um maior risco de bater a boca.
  • Dependências: pessoas com problemas de dependência de álcool e drogas também têm uma chance maior de sofrer traumatismos dentários.
  • Problemas bucais: a morfologia facial e oral faz com que alguns pacientes tenham um maior risco de lesionar os dentes em caso de pancada. Alguns tipos de má oclusão, ter incisivos superiores desalinhados por causa da sucção digital, o uso prolongado de chupeta ou mamadeira, a respiração bucal ou o lábio curto favorecem a lesão das peças dentárias com maior frequência.

Tipos de traumatismo dentário

O traumatismo dentário pode se manifestar de diferentes maneiras, afetar diferentes tecidos e ter diversos graus de gravidade. Além disso, as peças dentárias traumatizadas podem ser temporárias ou permanentes. Disso dependerá o tratamento a ser realizado. 

A seguir, vamos diferenciar os diversos tipos de traumatismos dentários, de acordo com os tecidos afetados.

Traumatismo na coroa dentária

Neste caso, a lesão envolve a parte visível do dente. Dependendo dos tecidos afetados, é possível distinguir os seguintes tipos de fraturas na coroa:

  • Incompleta ou infração do esmalte: a linha de fratura não alcança a junção amelodentinária ou se detém sobre ela. Portanto, compromete apenas o esmalte, sem envolver a dentina. Tem a aparência de uma fissura no esmalte e não há perda de tecido dentário, por isso é difícil vê-la a olho nu. Um dentista poderá diagnosticá-la por meio da transiluminação e tratá-la de forma oportuna.
  • Fratura não complicada de coroa ou amelodentinária sem envolvimento pulpar: neste caso, há perda de tecidos dentários e a lesão compromete apenas o esmalte ou o esmalte e a dentina, mas sem expor a polpa.
  • Fratura complicada de coroa ou amelodentinária com envolvimento pulpar: a perda de tecido envolve tanto o esmalte quanto a dentina e tem profundidade suficiente para expor o tecido pulpar.
Traumatismo dentário

Traumatismo da raiz do dente

Nesses casos, a área da raiz do dente que fica dentro do osso é comprometida pelo traumatismo. É possível distinguir dois tipos, de acordo com a região em que ocorre a lesão:

  • Fratura radicular intra-alveolar: nestes casos, a fratura ocorre na região da raiz do dente, podendo se localizar no terço coronal, médio ou apical. Podem ser horizontais ou verticais.
  • Fratura coronorradicular: a fratura envolve tanto a coroa quanto a raiz do dente. Pode haver ou não exposição pulpar e os tecidos envolvidos são o esmalte, a dentina e o cemento radicular.

Traumatismo nos tecidos periodontais

Os impactos na boca também podem afetar os tecidos que protegem e sustentam os dentes. A seguir, vamos detalhar as lesões no tecido periodontal:

  • Subluxação: as fibras periodontais que sustentam o dente são danificadas, mas o dente permanece na sua posição normal, dentro do alvéolo. Não há deslocamento do elemento dentário, mas há mobilidade e sangramento interno.
  • Luxação lateral: o tecido periodontal também é lesionado e o dente apresenta mobilidade, além de também se mover para frente ou para trás. Nesses casos, o osso alveolar também costuma ser fraturado.
  • Extrusão: a lesão periodontal faz com que o dente se solte e se desloque parcialmente para fora do alvéolo. Ele se projeta na linha de oclusão em comparação com os dentes vizinhos.
  • Intrusão: o elemento dentário se move no sentido apical, para dentro do osso alveolar. A peça dentária parece afundada no tecido ósseo. A lesão envolve o ligamento periodontal e o cemento radicular. Geralmente há fratura do alvéolo e o suprimento neurovascular para a polpa é interrompido.
  • Avulsão dentária: é a situação clínica mais complexa e grave. Nesse caso, o dente é totalmente expulso do alvéolo. Às vezes, é até mesmo expelido pela boca. Quando isso acontece com um dente permanente, o ideal é encontrar o dente e colocá-lo em um meio adequado a fim de procurar um dentista com urgência, para que ele possa reimplantá-lo na boca.

Traumatismo ósseo

As lesões na boca podem fraturar o osso alveolar. A lesão envolve apenas o tecido ósseo ou é combinada com uma das outras lesões que já mencionamos. Os dentes com fraturas alveolares geralmente se movem em bloco com todo o tecido circundante. Existem acidentes mais graves em que ficam comprometidos os ossos maxilares ou do rosto.

Diagnóstico e tratamentos para o traumatismo dentário

Em caso de traumatismo dentário, o mais indicado é procurar um dentista com toda a urgência possível. O tratamento imediato das lesões melhora bastante o prognóstico da situação e favorece o sucesso das abordagens.

O profissional examinará e apalpará a área afetada, pedirá radiografias, avaliará os tecidos moles e duros, analisará a mobilidade dentária e a sua vitalidade e vai determinar o melhor tratamento para cada caso particular.

A terapia escolhida também dependerá de se tratar de dentes temporários ou permanentes. Algumas das terapias que podem ser necessárias são as seguintes:

Tratamento dos tecidos moles

Um traumatismo na boca não afeta apenas os dentes. Também é comum que os tecidos moles, tais como lábios, língua e bochechas, sejam lesionados.

O dentista, ao receber o paciente, examinará todas as partes envolvidas. Os tecidos da boca sangram com facilidade e de forma abundante, por isso o profissional vai fazer a limpeza e exercer pressão para estancar o sangramento. Em alguns casos, podem ser necessários alguns pontos.

Aplicação de flúor

Quando o traumatismo dentário afeta apenas o esmalte, as bordas da área afetada são polidas para evitar o atrito com os tecidos moles. Além disso, o tecido é protegido pela aplicação de flúor na superfície dentária.

Reconstrução da coroa

Se o traumatismo dentário tiver causado a perda de tecidos da coroa dentária, ela deve ser reconstruída. Isso é feito tanto com dentes de leite quanto com dentes permanentes.

Em geral, são utilizadas obturações feitas de materiais estéticos para restaurar a forma e a anatomia perdidas da peça dentária. Nos casos em que o paciente traz o fragmento do dente quebrado, e se ele for permanente, é possível tentar aderi-lo ao elemento fraturado.

Proteções pulpares e endodontia

Quando a fratura compromete não só o esmalte e a dentina, mas também a polpa, ela deve ser tratada de maneira especial. O tipo de tratamento dependerá da dentição (temporária ou permanente), da extensão da fratura e, no caso dos dentes permanentes, se o ápice radicular está aberto ou se já está fechado.

Em dentes temporários, é preciso avaliar o tempo que resta para o dente na boca. Se a sua queda for iminente, é preferível remover a peça e aguardar a erupção do dente permanente. Se, por outro lado, faltar muito tempo para a troca dentária, é realizada a proteção pulpar para preservar a peça.

Nos dentes permanentes, se a extremidade da raiz ainda não estiver fechada, são colocadas substâncias especiais para ajudar no fechamento apical. Se, por outro lado, a peça estiver completamente formada, é realizada a endodontia ou tratamento de canal.

A coroa é, então, reconstruída para devolver a anatomia perdida à peça dentária. Isso pode ser feito com coroas dentárias quando a perda de tecidos é muito grande.

Recolocação da peça dentária e imobilização com talas

Quando os dentes permanentes são afetados por fraturas radiculares, fraturas do osso alveolar, luxações ou extrusões ou quando há mobilidade da peça dentária, é preciso fazer a recolocação no alvéolo. Para isso, o dentista anestesia a área e, com o auxílio de radiografias,  reposiciona o dente no lugar.

Em seguida, ele deve ser imobilizado com uma tala de arame e resina para mantê-lo na posição até a cicatrização dos tecidos de sustentação. Evitar o contato oclusal e buscar cuidados pós-operatórios é extremamente necessário para evitar complicações e auxiliar na recuperação. Devem ser feitas verificações periódicas e serão necessários tratamentos pulpares.

Se as alterações mencionadas afetarem elementos temporários, avalia-se o dano ao germe permanente subjacente e geralmente se considera se a extração é a melhor opção. Se o dente for extraído e faltar muito tempo para a erupção do dente permanente, é colocado um espaçador para reservar o local.

Esperar ou estimular a erupção

Isso é feito em alguns casos de intrusão dentária. Os raios X são vitais para observar a posição do dente dentro do osso e a sua relação com outras estruturas.

Se for um dente temporário, é preciso avaliar o dano ao germe do dente permanente que está se formando. Se ele tiver sido afetado, o elemento temporário deve ser removido. Por outro lado, nos casos em que não há dano à peça definitiva ou se tratar de um elemento permanente, é possível esperar que o organismo provoque a extrusão espontânea.

Nas peças definitivas, se o elemento não se reposicionar por conta própria, é possível recolocá-lo com o uso de anestesia e então imobilizá-lo, conforme já explicado anteriormente, ou o dente pode ser reposicionado com um tratamento ortodôntico. O tratamento endodôntico da peça será necessário.

Traumatismo dentário

Reimplante de dente

Se um dente definitivo tiver sido completamente arrancado da boca, o objetivo será colocá-lo de volta no lugar para preservá-loNunca se deve reintroduzir um dente de leite que tiver caído, pois existe o risco de danificar o dente definitivo que está se formando dentro do osso. Nestes casos, espera-se pela erupção do dente permanente e, se faltar muito tempo para isso, é colocado um espaçador para reservar o local.

Para recolocar o dente no alvéolo, é fundamental que o paciente procure o elemento perdido e consulte um dentista o mais rápido possível. Quando o dente for encontrado, é preciso evitar tocar na parte da raiz; ele deve ser lavado com água durante alguns segundos, sem esfregar. Então, ele deve ser transportado em um copo com leite, água destilada ou, se não for possível, dentro da boca do paciente, tomando cuidado para não engoli-lo.

Quando o paciente chegar ao dentista, o profissional recolocará o dente no local após anestesiar a área. Ele vai imobilizá-lo com talas para favorecer a sua reintegração na cavidade oral.

A peça deve ser desgastada para não entrar em contato com os outros dentes. É preciso seguir uma dieta leve e serão necessários exames periódicos para avaliar o processo de recuperação. A endodontia também será necessária. O paciente também deve receber a vacina antitetânica.

Outros cuidados

Tratar os sintomas com anti-inflamatórios e usar antibióticos nos casos necessários é vital para a recuperação dos tecidos e o sucesso dos tratamentos. Manter uma dieta leve e fria também ajuda a reduzir a inflamação e a recuperar a região.

Além disso, é importante monitorar e ficar atento à região que sofreu o traumatismo. Se a gengiva ficar inflamada, aparecerem pontos de pus ou se o dente mudar de cor, é preciso consultar o dentista.

Como prevenir o traumatismo dentário?

Muitas vezes é impossível evitar os traumatismos na boca. Ainda assim, colocar algumas dessas dicas em prática pode ajudar a diminuir o risco de um traumatismo dentário:

  • Criar espaços seguros para as crianças pequenas e evitar o uso de andadores.
  • Evitar jogos violentos.
  • Usar protetores bucais para praticar esportes e ao andar de bicicleta e patins.
  • Usar cintos de segurança nos deslocamentos.

Conforme já mencionamos, se o traumatismo dentário acontecer, agir com determinação, calma e rapidez pode fazer a diferença. Procurar um dentista o mais rápido possível ajudará a restaurar o sorriso danificado.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • García Ballesta, Carlos, Leonor Pérez Lajarín, and Isabel Castejón Navas. “Prevalencia y etiología de los traumatismos dentales: Una revisión.” RCOe 8.2 (2003): 131-141.
  • Sánchez, Tamara Batista, et al. “Traumatismos dentarios en niños y adolescentes.” Correo Científico Médico de Holguín 20.4 (2016): 741-756.
  • Leyva Infante, Maite, et al. “El traumatismo dental como urgencia estomatológica: a stomatologic emergency.” Correo Científico Médico 22.1 (2018): 66-78.
  • Pasarón Pérez, María Victoria, et al. “Nivel de conocimientos en pacientes con traumatismo dental.” Revista Médica Electrónica 39.1 (2017): 24-32.
  • Oliveira-del Río, Juan A., Alcira M. Alvarado-Solórzano, and Betty E. Guanotoa-Lincango. “Características de traumatismo dental en niños de 5-13 años de edad.” Polo del Conocimiento 3.5 (2018): 150-159.
  • Torres Silva, María del Carmen, et al. “Factores predisponentes de trauma dental en escolares del municipio Rafael Freyre.” Correo Científico Médico 21.3 (2017): 798-808.
  • Zaldivar, Héctor Andrés Naranjo. “Traumatismos dentarios: un acercamiento imprescindible.” 16 de Abril 56.265 (2017): 113-118.
  • ENDODONCIA, EN. ABORDAJE CLÍNICO DE TRAUMATISMOS DENTARIOS LUXACIÓN LATERAL Y FRACTURA RADICULAR. Diss. UNIVERSIDAD NACIONAL DE CUYO, 2020.
  • SALVATORE, OD ANA CARLA. “Avulsión dentaria. Tratamiento y seguimiento a 9 años. A propósito de un caso clínico.”
  • VALLEJO, ERICA DAYANA QUITO. “MANEJO CLÍNICO DE DIENTE PERMANENTE AVULSIONADO. REPORTE DE CASO.” Odontología Activa Revista Científica 4.3 (2019): 47-52.
  • Duarte, Luis A. Jeffers. “Reimplante Dentario en Diente Avulsionado. Presentación de un Caso.” Revista Científica Hallazgos21 2.3 (2017).
  • Luján, Gabriela, and Gabriela Gioino. “Traumatismos dentarios.”

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.