O que é a retração gengival e por que ocorre?

A retração gengival é um problema comum associado à gengivite, ao bruxismo e a outras causas. Tratar a tempo previne complicações graves.
O que é a retração gengival e por que ocorre?
Vanesa Evangelina Buffa

Escrito e verificado por o dentista Vanesa Evangelina Buffa.

Última atualização: 26 maio, 2025

Algumas pessoas, quando se olham no espelho, acreditam que seus dentes são mais longos que o normal. Além disso, você pode notar que o tecido rosa sobre os dentes parece mais fino. Bem, provavelmente elas sofrem de um problema de retração gengival.

Esse distúrbio, além das consequências estéticas, é capaz de afetar o funcionamento normal da boca. Por isso é importante abordar o problema a tempo e com a ajuda de um dentista.

O que é a retração gengival?

A gengiva ou tecido gengival é a parte macia, firme e rosada que envolve o colo dos dentes. Ou seja, cobre o que seria a raiz dos elementos dentários, que em condições normais não podemos ver.

O tecido gengival tem a função de proteger o osso e a raiz do dente. Além disso, dá firmeza aos dentes para que fiquem no lugar.

Podemos dizer que há retração gengival ou recessão gengival quando esse tecido se movimenta, deixando a raiz visível. Segundo publicação científica de 2015, a condição expõe a ligação entre o cimento dentário e o esmalte.

Isso causa o efeito de “dentes mais longos”. Na verdade cada dente tem a mesma medida, só que agora conseguimos notar a raiz, que deveria ficar abaixo da gengiva.

Qual é o problema de ter retração gengival?

Além de afetar a estética e a aparência do sorriso, a recessão gengival traz consequências para a saúde física. Num primeiro momento, as raízes, que deveriam ser protegidas, ficam suscetíveis à ação da placa bacteriana.

Além disso, a raiz é muito sensível a estímulos externos. Mais da metade dos pacientes com esse problema costumam apresentar sensibilidade dentária, principalmente ao mastigar ou escovar.

Por outro lado, o cimento dentário, que é um tecido que cobre a superfície das raízes, não está preparado para lidar com as condições externas. Portanto, o distúrbio está associado a um maior risco de cáries.

A situação se torna mais comum com o envelhecimento. Devido à retração devido à idade, os idosos ficam mais expostos ao desenvolvimento de cáries radiculares, ou seja, nas raízes dos dentes.

Sintomas comuns

Além de notar que seus dentes parecem mais longos ou que suas gengivas se movem mais para cima ou para baixo, você pode sentir alguns sintomas associados à retração, como os seguintes:

  • Desconforto ao comer, devido à sensibilidade dentária a alimentos quentes ou frios.
  • Sangramento das gengivas, já que a disposição do tecido favorece inflamações e lesões durante a escovação.
  • Mau hálito, devido à maior presença de placa bacteriana. Isso geralmente ocorre porque os pacientes escovam menos ou com técnica incorreta, devido ao desconforto causado pela sensibilidade.

Quais são as causas da retração gengival?

As origens da retração gengival são variadas. É até possível que a mesma pessoa combine diferentes fatores de risco ao mesmo tempo.

Conhecer as causas é importante para tratá-las em tempo hábil e prevenir a retração gengival. A seguir estão as circunstâncias mais associadas ao transtorno.

Gengivite e periodontite

A inflamação das gengivas é chamada de gengivite. Está ligada à má higiene bucal que favorece o acúmulo de placa bacteriana e tártaro. Quando esse acúmulo é excessivo, gera-se irritação do tecido gengival.

No mesmo sentido, a periodontite é uma evolução da gengivite que não foi tratada a tempo. Essa placa e tártaro excessivamente acumulados formam “bolsas” nos tecidos moles ao redor dos dentes. Os sacos então se enchem de bactérias que iniciam um processo de infecção e inflamação grave.

À medida que o processo avança, o tecido mole ao redor dos dentes é destruído. Isso inclui também as gengivas, que recuam devido à mesma perda de substância. A consequência mais grave é a possibilidade de perda de dentes, que caem por não terem suporte adequado.

Porém, o processo inverso também pode acontecer. A retração gengival por outras causas pode levar a problemas periodontais (gengivite e periodontite).

Sangramento por gengivite promove retração gengival
A gengivite grave se manifesta com sangramentos ocasionais, por exemplo, durante a escovação.

Fumar

O tabaco afeta a saúde bucal de várias maneiras. Uma delas é a inflamação das gengivas, através das substâncias tóxicas do cigarro.

Pessoas que fumam também correm maior risco de desenvolver gengivite e periodontite. Portanto, é mais comum que as gengivas recuem neles.

Bruxismo

O bruxismo é chamado de apertar e ranger inconsciente dos dentes. As forças mecânicas de compressão são tão poderosas que danificam o tecido periodontal. Esse hábito não apenas desgasta os dentes, mas também leva à recessão gengival.

Má técnica de escovação dentária

Embora a falta de uma boa frequência de escovação leve à placa, depois à gengivite e, talvez, à retração gengival, o oposto também é possível. Uma alta frequência ou potência de escovação no contexto de uma obsessão pela higiene dental irá traumatizar o tecido gengival.

Não é recomendada a limpeza com muita pressão da escova ou com movimentos vigorosos que machuquem a gengiva. Pelo contrário, é um fator de risco para danificar e causar migração de tecidos em direção às raízes dos dentes.

Ortodontia

Há controvérsias sobre a real influência da ortodontia no aparecimento da retração gengival. Embora o tratamento por si só não seja capaz de causar o distúrbio, aumenta o risco em pessoas com gengivas finas.

Por isso é importante que a ortodontia seja realizada por profissionais certificados e experientes. Desta forma, a movimentação dos dentes é feita de forma precisa e progressiva, tentando minimizar o trauma na gengiva.

Piercings

A moda de usar joias na boca traz riscos à saúde. Uma publicação científica no International Journal of Dental Hygiene destaca que os piercings nos lábios e na língua estão diretamente associados à recessão gengival.

A explicação mais provável é que o atrito das joias contra a gengiva seja traumático. Portanto, o tecido se retrai como mecanismo de defesa.

Piercing na boca causa retração gengival.
As joias na língua são traumáticas para as gengivas devido ao atrito que geram.

Existem tratamentos eficazes para retração gengival?

As gengivas não têm capacidade de regeneração. Caso seja confirmada a retração gengival, deve-se aplicar tratamento orientado por dentista.

O profissional de saúde estabelecerá a causa mais provável do problema. Este diagnóstico será fundamental para o planejamento de uma terapia apropriada com chance de sucesso.

Por exemplo, se a origem for uma joia na boca ou escovação excessiva, a abordagem será mais simples e exigirá menos tempo, pois terá como foco a eliminação do agente causador. Pelo contrário, se houver periodontite, o tratamento é de longo prazo, pois existem diversos aspectos a serem abordados para melhorar toda a saúde bucal.

Os procedimentos terapêuticos podem ser divididos em dois grandes grupos:

  1. Não cirúrgico
  2. Cirúrgico

Tratamentos não cirúrgicos para recessão gengival

Se o problema for leve e não houver complicações, é possível dispensar cirurgias. A opção é colocar agentes químicos para diminuir a sensibilidade associada à retração.

Para isso, o dentista aplica ou prescreve uma das seguintes substâncias:

  • Flúor: através de vernizes ou indicado como ingrediente em cremes dentais e enxaguantes bucais específicos.
  • Óxido de zinco: ingrediente de alguns cremes dentais dessensibilizantes que podem selar os túbulos dentinários.
  • Cloreto de estrôncio: bloqueia os sinais dos nervos dentinários para controlar a dor e é um ingrediente de cremes dentais.
  • Arginina: este aminoácido também é utilizado para selar os túbulos dentinários, ajudando a reduzir a transmissão de estímulos dolorosos.
  • Nitrato de potássio: este é um composto que bloqueia os sinais nervosos, como o cloreto de estrôncio. Também pode ser encontrado em cremes dentais para dentes sensíveis.

O uso de remédios caseiros para retração gengival e outras substâncias fica a critério do profissional, pois muitas opções não têm suporte ou ainda são experimentais. Por exemplo, há relatos de casos em que se utiliza própolis. Mesmo assim, esses compostos devem ser sempre avaliados no âmbito do atendimento com um especialista.

As restaurações adesivas compostas, por outro lado, são abordagens não cirúrgicas que envolvem a colocação de substâncias da cor do dente para cobrir a raiz exposta. Isto evita o problema de sensibilidade.

Tratamentos cirúrgicos para retração gengival

Como sugere uma revisão da literatura de 2018, existem diferentes maneiras de tratar a retração gengival. Na maioria das vezes, a abordagem cirúrgica é necessária e inevitável se quisermos melhorar a estética e prevenir complicações futuras.

As técnicas mais utilizadas pelos dentistas são as seguintes:

  • Lifting gengival: o nome técnico é retalho mobilizado coronariamente. Algumas condições devem ser atendidas na boca para que a técnica seja viável e eficaz. Por exemplo, as papilas interdentais (os triângulos de gengiva entre dente e dente) devem ser bem preservadas. Por si só, a cirurgia consiste em retirar parte da gengiva, destacá-la como um “envelope”, graças a uma incisão, movê-la e utilizá-la para preencher os espaços que ficaram vazios.
  • Enxerto gengival: também chamada de cirurgia plástica mucogengival, consiste em retirar uma parte da mucosa do palato para enxertá-la na área faltante da gengiva que queremos preencher. Assim, as raízes dos dentes ficam cobertas. Embora possa parecer um tanto complexo na descrição, é uma cirurgia simples e rápida. Sua contraindicação é a presença de periodontite. Embora o enxerto possua diferentes variantes na sua execução, as análises científicas ainda não constataram que uma seja superior à outra.
  • Cirurgia periodontal: casos graves com doença periodontal avançada, muita deficiência tecidual e possibilidade de perda dentária, devem ser tratados com cirurgias complexas. O que se busca é colocar material obturador ou grandes enxertos que cubram não só a gengiva faltante, mas também o osso que se degradou devido ao processo inflamatório.

Experimentos em animais estão sendo desenvolvidos atualmente para melhorar futuras opções de tratamento para humanos. Entre essas alternativas está o uso de células-tronco para regenerar gengiva perdida, bem como a implantação de tecidos biossintéticos.

Enxerto de palato para retração gengival.
A imagem mostra o final de uma cirurgia de enxerto. O segmento mais claro de tecido, sob os dentes, é um pedaço do palato que foi colocado para preencher o espaço gengival faltante.

Mudança de hábitos

O comprometimento por parte do paciente é essencial para o sucesso do tratamento da retração gengival. Modificar comportamentos que possam favorecer a abstinência evitará que o problema reapareça.

Nesse sentido, é bom aprender e praticar a técnica correta de escovação para evitar erros na escovação dos dentes. Com o dentista você pode discutir o melhor tipo de escova a ser adquirida e cremes dentais que podem reduzir a sensibilidade.

Hábitos prejudiciais devem ser interrompidos, como fumar. E se você tiver um piercing na boca terá que retirá-lo, pois o trauma que ele gera não permitirá a cicatrização adequada.

A retração gengival pode ser evitada?

É possível tomar algumas medidas para reduzir o risco de recessão gengival. Nem sempre será possível, mas se você aplicar as dicas a seguir, poderá aumentar suas chances de não sofrer deste distúrbio:

  • Escove os dentes pelo menos duas vezes ao dia. Use uma técnica de escovação suave e use fio dental diariamente. Você pode se servir com uma escova de dente elétrica, já que alguns modelos são vendidos com sensores de pressão para alertar quando você aplica muita força.
  • Agende exames dentários regulares. As visitas ao dentista permitirão detectar a tempo as condições que levam à retração. Depois, respeite as instruções do profissional para os tratamentos.
  • Se você precisar de ortodontia, avalie cuidadosamente qual profissional irá consultar. Procure encontrar um consultório homologado para a especialidade e com experiência.
  • Use protetores bucais se tiver bruxismo.
  • Pare de fumar se você tiver o hábito.

Se você já tiver o diagnóstico confirmado, o objetivo será evitar a recorrência. Para isso, as medidas indicadas pelo dentista não são opcionais. Respeitá-los ao pé da letra o levará a recuperar a saúde e a sorrir novamente com confiança.


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Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.