O que é a síndrome da vibração fantasma e como evitá-la?

Se alguma vez você pensou que o seu celular recebeu uma notificação, mas ao olhá-lo não havia nada, talvez tenha sido uma vibração fantasma. Siga lendo e descubra do que se trata.
O que é a síndrome da vibração fantasma e como evitá-la?
Elena Sanz

Revisado e aprovado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 06 abril, 2023

A síndrome da vibração fantasma pode ser considerada mais uma consequência do uso excessivo de tecnologias, no caso os celulares. Talvez você já tenha sentido isso: o celular vibra no bolso ou na bolsa, mas você verifica e vê que ninguém ligou ou escreveu para você.

Isso tem a ver com a forma como o cérebro reage aos estímulos que percebemos, ou acreditamos perceber. No entanto, também se pensa que pode estar relacionado a alguns distúrbios. A seguir, aprenderemos mais sobre a vibração fantasma e por que ela ocorre.

Predisposições perceptivas

Nomofobia é o vício do uso de telefones celulares
A mente pode acreditar que existe um estímulo, como a vibração do celular, mesmo não existindo.

Em qualquer situação, haja ou não estímulo, existem várias possibilidades:

  • O estímulo é apresentado, os sentidos o percebem, o cérebro o processa.
  • Há um estímulo, mas não o percebemos.
  • Não há estímulo, não há percepção.
  • Não há estímulo, mas o cérebro pensa que exista.

Este último está relacionado às chamadas “predisposições perceptivas”, conceito que tem sido utilizado para compreender o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem em crianças.

Nesse sentido, estudos sobre o assunto indicam que o ser humano já nasce com a capacidade de distinguir os possíveis sons da linguagem, que posteriormente são aprendidos ou não, dependendo se esse som é utilizado na linguagem falada no ambiente.

E assim como temos a capacidade de fazer isso, não temos a capacidade de reconhecer pelo aroma, se uma planta é comestível, por exemplo. Em geral, pensa-se que quanto mais predispostos estamos a um estímulo, mais provável é que o percebamos.

Pode até ocorrer quando o referido estímulo não é apresentado, pois mesmo na sua ausência os respectivos receptores sensoriais são ativados. É oportuno lembrar que, em grande parte, a percepção não ocorre nos sentidos, mas no cérebro.

Tudo isso explicaria o que ocorre também na síndrome da vibração fantasma. Da mesma forma, permitiria compreender porque antes de existirem os celulares, as pessoas não experimentavam o fenômeno do qual estamos falando.

O que é a síndrome da vibração fantasma?

A síndrome da vibração fantasma é chamada o fenômeno que ocorre quando sentimos que o celular foi ativado, ao receber uma notificação, sem que isso corresponda à realidade, como verificamos após analisá-lo.

Claro, isso acontece porque somos usuários de celular, porque temos um telefone conosco e ele está em contato com nosso corpo. Assim, recebemos o estímulo (vibração) muitas vezes, a ponto de nosso cérebro já associá-lo a alguma notificação.

Agora, a vibração fantasma pode ocorrer a qualquer momento, mas as possibilidades aumentam quando estamos esperando uma ligação ou uma mensagem importante, e estamos atentos, verificando o telefone a todo momento.

De acordo com a pesquisa, isso é algo que a grande maioria dos usuários experimenta. Quase 90% afirmaram que experimentam uma vibração fantasma a cada duas semanas, em média, ou até menos.

Esse é outro sinal ou manifestação de vício em tecnologia. E embora não seja propriamente considerada uma patologia ou um distúrbio de conduta, pode muito bem estar relacionado a traços obsessivos ou ansiedade, como veremos mais adiante.

Causas da síndrome da vibração fantasma

Pode haver várias causas que expliquem o aparecimento da síndrome da vibração fantasma. Já mencionamos implicitamente um deles: o contato excessivo ou vício em tecnologia, que nos hiperestimula e predispõe.

Em segundo lugar, esse fenômeno pode estar relacionado a um componente emocional do usuário. Por exemplo, em situações de estresse, angústia ou ansiedade antecipatória, quando estamos aguardando uma ligação importante, conforme mencionado.

Tais situações podem nos colocar em um estado de hipervigilância, semelhante ao de um soldado que está de guarda e acredita perceber sinais do inimigo a todo o momento, ou ao de uma pessoa que foi vítima de um crime e se asssuta quando pensa ter ouvido o som de uma porta abrindo.

Além disso, pode acontecer quando estamos passando por um momento difícil e experimentamos um sentimento de vulnerabilidade, por exemplo, diante de uma ruptura no relacionamento. É possível, então, que constantemente procuremos fugir ou nos refugiar no telefone.

Por outro lado, existem estudos em que se observou que as notificações emitidas por aplicativos de telefone podem ativar neurotransmissores como a dopamina, por isso estão relacionadas a uma dinâmica de prazer ou desprazer. Assim, a síndrome da vibração fantasma funcionaria como uma forma de antecipação em relação a um desejo.

Possíveis complicações

Nunca é tarde para perceber que você merece coisa melhor.
A dependência do telefone celular pode causar o aparecimento da síndrome da vibração fantasma.

Embora tenha sido apontado que a síndrome da vibração fantasma não é uma patologia, ela pode estar associada a alguns problemas, como maior dependência do uso do celular e baixa estabilidade emocional, conforme encontrado em um estudo.

Da mesma forma, uma investigação realizada em Taiwan revelou que esse fenômeno ocorre com mais frequência em trabalhadores com altos níveis de fadiga pessoal e laboral, por isso se acredita que possa ser um sinal de estresse ou síndrome de exaustão (burnout).

Por outro lado, um estudo realizado na Índia em 2017 sugere que a síndrome da vibração fantasma, além de ser um sintoma do vício em celulares, pode apresentar alterações psicológicas ou neurológicas, podendo levar à ansiedade, depressão e outros transtornos afetivos.

Em outras pesquisas, aponta-se que afeta até a qualidade do sono. De fato, entre os participantes, mais da metade afirmou ter acordado durante a noite acreditando que o telefone estava vibrando.

Em geral, esses falsos alertas não são uma complicação para a maioria; mas o fato de se manifestar com mais frequência em pessoas com traços de ansiedade de apego e com dependência emocional ainda é preocupante.

Como evitar a síndrome da vibração fantasma

Por se tratar de um fenômeno emergente, intimamente associado ao estilo de vida da pessoa, algumas mudanças de hábitos podem ajudar no manejo do problema e evitar males maiores.

Nesse sentido, podem ser tidas em conta as seguintes recomendações:

  • Manter o telefone com o som ligado, em vez de apenas usar a vibração.
  • Silenciar as notificações de redes sociais, deixando apenas notificações de chamadas.
  • Reduzir o tempo de uso do celular.
  • Ativar o modo não perturbe ao dormir ou comer.

Quando procurar ajuda ?

A princípio, a síndrome da vibração fantasma pode ser tomada como uma percepção errônea e até engraçada, sem pensar muito nisso. No entanto, isso pode se tornar recorrente, causando reações desagradáveis na pessoa, como desapontamento ou raiva.

Se este é o seu caso, e se o uso do celular lhe causa ansiedade ou estresse, ou você não pode deixá-lo nem por um momento, é importante tomar medidas, como ir a um psicólogo e, como complemento, encontrar-se com grupos de apoio.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Serniclaes W. On the Invariance of Speech Percepts. ZAS Papers in Linguistics. 2005; 40: 177-194. https://doi.org/10.21248/zaspil.40.2005.265.
  • Rollman G. Perspectives on hypervigilance. Pain. 2009; 141(3): 183-184. Doi: 10.1016/j.pain.2008.12.030
  • Rothberg M, Arora A, Hermann J, et al. Phantom vibration syndrome among medical staff: a cross sectional survey. BMJ, 2010; 341: c6914. Doi:10.1136/bmj.c6914
  • Rosenberg R. An experiential account of phantom vibration syndrome. Computers in Human Behavior. 2015; 52: 124-131.
  • Alam M, Qureshi M, Sarwat A. Prevalence of phantom vibration syndrome and phantom ringing syndrome (ringxiety): risk of sleep disorders and infertility among medical students. International Journal of Advanced Research. 2014; 2(12): 688-693.
  • Drouin M, Kaiser D, Miller D. Phantom vibrations among undergraduates: Prevalence and associated psychological characteristics. Computers in Human Behavior. 2012; 28(4): 1490-1496.
  • Kruger D, Djerf J. Bad vibrations? Cell phone dependency predicts phantom communication experiences. Computers in Human Behavior. 2017; 70: 360-364.
  • Pareek S. Phantom Vibration Syndrome: An Emerging Phenomenon. Asian Journal of Nursing Education and Research. 2017; 7(4):596. DOI:10.5958/2349-2996.2017.00116.1
  • Chen C, Wu C, Chang L, Lin Y. Possible association between phantom vibration syndrome and occupational burnout. Neuropsychiatric Disease and Treatment; 2014. DOI:10.2147/NDT.S73038

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.