Família relata que escola mandou menino cortar cabelo para não parecer menina
A família de um estudante de 12 anos, que frequenta uma escola de modelo cívico-militar no Distrito Federal, afirmou que o adolescente foi orientado por um sargento do Corpo de Bombeiros a cortar o cabelo para “não parecer menina”.
De acordo com informações do site de notícias G1, o caso ocorreu no início do ano no Centro de Ensino Fundamental 01, conhecido como Sapão, no Núcleo Bandeirante.
Normas nas escolas cívico-militares
A norma nas escolas com gestão compartilhada prevê que meninos mantenham o cabelo curto, mas também diz que a regra pode ser flexibilizada para cabelos crespos.
“Penteados para cabelos crespos atinentes a questões étnico-raciais poderão ser flexibilizados, conforme orientação da equipe gestora”, informa.
Os cabelos das meninas podem ser tanto curtos quanto longos. Nesse caso, sempre presos (coque, rabo de cavalo ou trança). Além disso, as características representativas de identidade também podem ser admitidas dentro das instituições.
Em 2019, a pasta afirmou que iria “flexibilizar” regras de corte de cabelo e uso de acessórios, abrandando também as determinações sobre tatuagens e fardas.
Já o Corpo de Bombeiros informou que o cabelo do aluno estava fora dos padrões das escolas cívico-militares e que o monitor orientou o menino, de forma didática, a se adequar ao regulamento. Ainda segundo a corporação, a conversa foi registrada na ata da escola e depois o responsável do aluno foi chamado.
Abordagem
Os familiares relataram que depois do episódio, um representante da escola ligou para o pai do menino e disse que ele só poderia permanecer no local se cortasse o cabelo.
Segundo a irmã do adolescente, Rosa Carvalho, após a abordagem ele chorou e disse que queria ficar sozinho. Mas, como gosta de frequentar a escola, concordou em cortar o cabelo. Ela disse ainda que ele nunca foi para a escola de cabelo solto e achou estranho a abordagem acontecer dois anos após o irmão começar a estudar na instituição de ensino.
“O militar meio que deu a entender que o aluno ficava sempre na fila das meninas, por isso que ele nunca tinha conseguido ver que o cabelo dele estava um pouquinho maior”, afirma a irmã. A família pretende acionar a Justiça por causa do constrangimento sofrido pelo adolescente.
“A gente ficou chateado com a forma como a questão foi tratada”, afirma a irmã do estudante. ‘Por que não chamou a família para conversar?'”
Programa de gestão compartilhada
O programa de gestão compartilhada no ensino público do Distrito Federal começou em fevereiro de 2019. Ele é destinado a alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e também a estudantes do ensino médio.
Nessas unidades, a parte pedagógica das escolas permanece a cargo dos professores, diretores e orientadores. Além disso, a segurança – incluindo a entrada e a saída dos estudantes – é responsabilidade dos militares.
De acordo com o governo, “os militares também participam do dia a dia dos estudantes através de conceitos de ética e cidadania, além de promoverem atividades esportivas e musicais no contraturno”.
Das 15 escolas do DF que integram o modelo de cogestão, 11 tiveram cooperação firmada entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de Segurança Pública, por intermédio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. As outras quatro restantes aderiram ao programa em parceria com o Ministério da Educação (MEC), por meio das Forças Armadas.
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