Damar Hamlin foi ressuscitado 2 vezes após desmaiar em um jogo da NFL

Damar Hamlin, 24, foi submetido a RCP e desfibrilação duas vezes depois de desmaiar em um jogo de futebol. A rapidez da ação salvou a vida dele.

Escrito e verificado por médico Leonardo Biolatto.

Última atualização: 09 fevereiro, 2023

Damar Hamlin, jogador do Buffalo Bills, foi ressuscitado com ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e desfibrilação duas vezes após sua parada cardíaca em 2 de janeiro de 2023. O colapso ocorreu durante um jogo da National Football League dos Estados Unidos (NFL).

O jogador de 24 anos fez um tackle em um adversário e, levantando-se após a jogada, desmaiou. Em seu estado inconsciente, ele precisou de ajuda no campo de jogo.

Lá eles realizaram RCP nele pela primeira vez e o conectaram a um desfibrilador. Com a primeira ressuscitação, conseguiram transferi-lo para um hospital de Cincinnati, onde novamente tiveram que realizar RCP e outro choque com desfibrilador. A estabilização momentânea permitiu que ele fosse internado na unidade de terapia intensiva para conectá-lo a um respirador.

O comunicado oficial da equipe a que pertence tem sido conciso, tentando transmitir confiança e calma:

Por que Damar Hamlin teria sofrido uma parada cardíaca?

As teorias sobre por que Damar Hamlin teve uma parada cardíaca e precisou ser ressuscitado duas vezes são apenas teorias por enquanto. Essas hipóteses são baseadas em episódios anteriores de outros jogadores profissionais de diferentes esportes que passaram por situações semelhantes.

No futebol americano, em especial, a possibilidade de impacto é grande. Diferentes jogadas podem levar a um trauma torácico contundente. Um tackle, por exemplo, é uma situação fortuita para isso.

O fato de Damar Hamlin ter desmaiado após atingir um rival ativa a hipótese de trauma com arritmia. Após um golpe suficientemente forte no peito, o músculo cardíaco pode sofrer um distúrbio elétrico que se manifesta como batimentos cardíacos mais lentos ou mais rápidos. Se a arritmia evoluir em poucos segundos, um infarto ou parada cardiorrespiratória são cenários possíveis.

De acordo com especialistas em trauma torácico, uma contusão cardíaca deve ser descartada ao cuidar de uma pessoa com trauma torácico moderado a grave. Na admissão hospitalar, o ideal é realizar um eletrocardiograma e, se os sinais forem sugestivos de algum problema, deve ser complementado com um ecocardiograma.

Commotio cordis

Uma publicação recente no American Journal of Cardiology lembrou aos médicos uma condição que não deve ser negligenciada: commotio cordis. Segundo os autores do artigo, as atividades esportivas de alto impacto e aquelas que envolvem bolas como projéteis (beisebol, por exemplo), implicam risco de trauma cardíaco por trauma torácico.

Um golpe no peito de intensidade suficiente, sob certas circunstâncias, é capaz de levar à morte súbita.

Após as duas RCP realizadas em Damar Hamlin e analisando o contexto de seu colapso, uma hipótese clara é a de commotio cordis. De fato, os mesmos autores da publicação que mencionamos reconhecem que a desfibrilação é uma abordagem terapêutica válida e eficaz quando a condição ocorre.

Infelizmente, o commotio cordis é a segunda principal causa de morte súbita em atletas jovens. E não há mecanismos claros de prevenção, pois um exame esportivo e clínico de rotina não ajudaria, pois não há patologia subjacente que o explique.

As paradas cardíacas são comuns nos esportes?

Depois que Damar Hamlin ressuscitou nos gramados e a notícia se espalhou pelo mundo, as especulações sobre o impacto do esporte profissional na saúde do coração voltaram. A verdade é que a divulgação viral destes casos favorece essa impressão, sem que existam dados concretos que a corroborem.

Alguns estudos realizados com diferentes atletas estabelecem que a frequência de morte súbita associada ao esporte não é alta. Na verdade, teria a mesma proporção que no resto da população em geral.

Mesmo assim, entre os atletas ativos, a morte súbita é a principal causa de morte.

Uma questão especial surge em relação aos métodos complementares pelos quais os atletas devem passar a cada ano para se inscrever nas competições. Eles são úteis? A verdade é que sim, mas não detectam todas as possíveis alterações que culminariam em parada cardíaca.

O commotio cordis, por exemplo, é uma síndrome elétrica iniciada por um forte golpe no peito. Não há doença prévia que o explique.

O que fazer se testemunharmos uma parada cardíaca?

A atenção imediata a Damar Hamlin e o fato de ele ter recebido ressuscitação e desfibrilação foram fundamentais para sua sobrevivência. Mas além disso, foi fundamental acionar o sistema de emergência para que ele pudesse ser rapidamente transferido para um centro com a complexidade necessária para a reanimação completa.

Essas informações são cruciais para que a população em geral saiba como agir em caso de parada cardíaca. É preciso conhecer a técnica de RCP, mas nunca devemos esquecer de alertar o sistema hospitalar para que uma ambulância esteja a caminho.

A RCP consiste em fazer compressões no tórax da pessoa inconsciente, com os cotovelos estendidos e as duas mãos sobrepostas. 30 compressões em 1 minuto e 2 respirações boca-a-boca devem ser dadas pelo mesmo período. Uma vez concluído este ciclo, ele é repetido sucessivamente, até que um desfibrilador esteja disponível.

Hoje, muitos locais públicos e locais de prática esportiva possuem desfibriladores externos automáticos (DEA). Esses dispositivos se conectam à pessoa em parada cardíaca, traçam um eletrocardiograma e fornecem um choque elétrico se o algoritmo considerar necessário.

O que acontecerá  com Damar Hamlin após as ressuscitações e a hospitalização?

Boas notícias se espalharam do ambiente do jogador da NFL:

Não haveria danos neurológicos pelo desempenho rápido aplicado no campo de jogo. Estima-se que demorou apenas 5 minutos para a ambulância aparecer com o desfibrilador.

Embora ele esteja entubado e em respiração artificial, seus pulmões estariam intactos e funcionando para que ele pudesse respirar sozinho. Entretanto, sabe-se que a NFL, como organização, está revisando protocolos e legislações a fim de prevenir esses eventos ou melhorar a resposta a eles, quando são inevitáveis.