Binge-watching ou o hábito de maratonar séries em crianças: o que fazer?

As crianças também maratonam séries e esse tipo de consumo pode afetar o seu desenvolvimento, humor e saúde. Vamos te contar em que consiste o binge-watching.
Binge-watching ou o hábito de maratonar séries em crianças: o que fazer?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 23 agosto, 2022

Quem nunca sucumbiu à tentação de assistir uma temporada inteira da sua série favorita em alguns dias? Crianças, jovens e adultos caem na tentação de passar horas e horas diante da tela devorando conteúdos audiovisuais. Porém, nem sempre somos conscientes das repercussões negativas desse hábito conhecido como binge-watching.

Esse termo que se popularizou durante os últimos anos é composto pela palavra binge, que significa ’empanturrar’, e watching, que se refere à ação de assistir séries, vídeos ou de consumir conteúdo audiovisual. Desse modo, o termo passaria a designar a prática cada vez mais comum na população de maratonar as séries.

Embora essa tendência afete todas as faixas etárias, os mais jovens são especialmente vulneráveis. Por causa da sua imaturidade cognitiva e emocional, eles são mais propensos a serem fisgados pelo vício da televisão.

Porém, além disso, as consequências também podem ser muito mais prejudiciais no seu corpo em desenvolvimento. Então, como podemos evitar que isso aconteça? Vamos explorar o assunto a seguir.

O que é o binge-watching e por que ocorre?

Conforme já mencionamos, o binge-watching consiste em se empanturrar de conteúdo audiovisual, consumindo-o em grandes quantidades de forma indiscriminada, em um curto período de tempo. Essa prática vem se espalhando desde a chegada e popularização das plataformas de streaming.

Isso não é por acaso. As plataformas implementam mecanismos bem estudados que contribuem para gerar essa falsa necessidade no espectador:

  • O conteúdo é liberado em bloco. Isso nos permite ter uma temporada inteira (ou até mesmo uma série completa) em um único dia, ao invés de ter que esperar uma semana inteira para a estreia de um novo capítulo.
  • Encadeamento dos capítulos. Quando um termina, o próximo começa automaticamente em alguns segundos. Não temos que decidir se queremos continuar assistindo e também não temos tempo para isso.
  • Possibilidade de pular a abertura e os créditos. Essas opções reforçam a nossa necessidade de imediatismo. O cérebro humano não tolera bem a espera e, portanto, assim podemos nos livrar dela.
  • Muitos dos títulos destinados ao público infantil incluem elementos interativos e de jogos. Eles conseguem captar e prender a atenção das crianças durante períodos mais longos.

Tudo isso tem um impacto direto no cérebro: somos levados a agir por impulso. Assistir séries ativa o sistema de recompensa do cérebro, o que gera sensações agradáveis e satisfatórias e nos motiva a continuar fazendo a mesma atividade.

Nas crianças, cujos recursos de autocontrole são mais limitados, esse efeito é potencializado.

Menina assistindo televisão.
As crianças sofrem mais seriamente os efeitos de passar muitas horas diante de uma tela.


Principais consequências do binge-watching ou de maratonar séries em crianças

Embora possamos pensar que o binge-watching seja mais típico dos adultos, as crianças (se não tiverem supervisão) também sofrem com ele e as grandes plataformas sabem disso. De fato, de acordo com um relatório da Nielsen, em 2020, 36% dos programas mais assistidos no streaming eram voltados para crianças e pré-adolescentes.

As repercussões para os pequenos podem ser graves. Entre as principais, estão as seguintes:

Ansiedade, depressão e pós binge-watching

Algumas pesquisas relacionaram maratonar séries com o aumento do estresse, ansiedade e depressão nos consumidores. Ainda não está claro se essa observação compulsiva é a sua causa ou se, pelo contrário, as maratonas são a consequência de uma saúde mental precária (uma forma de fugir da realidade). De qualquer forma, essas são descobertas altamente relevantes.

Por outro lado, consumir conteúdo audiovisual dessa forma faz com que os espectadores (principalmente os pequenos) se envolvam com os personagens e os enredos de suas séries. Ao ter empatia excessiva ou se apegar a eles, quando o programa termina, eles podem sentir um vazio ou declínio emocional.

Esse tipo de depressão, conhecido como pós binge-watching, afeta muitas crianças. E ele está relacionado a esse modo de consumo audiovisual.

Sedentarismo e hábitos de vida pouco saudáveis

O binge-watching faz com que as crianças passem longas horas sentadas no sofá diante das telas, incentivando assim um estilo de vida sedentário e pouco saudável. Isso tem repercussões importantes para a saúde, pois promove sobrepeso, baixa autoestima, estresse e desânimo, bem como afeta o desempenho cognitivo, o controle dos impulsos e aumenta o risco futuro de doenças cardiovasculares.

Falta de atenção com outras áreas importantes

Finalmente, um dos fatores mais prejudiciais é que essas maratonas de séries roubam tempo de outras atividades que são essenciais; por exemplo, o jogo livre, a socialização, o tempo de qualidade com a família ou o descanso durante a noite.

Negligenciar essas áreas para gastar tempo consumindo conteúdo audiovisual pode ter um forte impacto para o desenvolvimento infantil adequado.

As maratonas de séries ocupam o espaço de outras atividades que seriam mais relevantes, como o convívio ou o lazer ao ar livre.

Como prevenir o binge-watching em crianças?

Se estamos falando de crianças, fica claro que a chave para a prevenção do binge-watching é a supervisão dos pais. Ou seja, os pais precisam regular a quantidade de tempo que os filhos passam diante das telas, limitando-a a um intervalo razoável e cuidando não apenas do tipo de conteúdo que consomem, mas também da maneira como consomem.

Assim, é importante definir algumas regras, tais como desligar a televisão durante o almoço ou jantar ou não alterar a hora de dormir por causa de uma série. Da mesma forma, é necessário que os adultos proponham alternativas para as crianças passarem o tempo.

Sem dúvida, deixar que se divertam diante da televisão é mais cômodo, porém é prejudicial. Realizar atividades em família, organizar reuniões e passeios com outras crianças ou matriculá-las em atividades extracurriculares podem ser alternativas saudáveis.

Em última análise, trata-se de tomar consciência da existência deste problema e da sua gravidade e agir para a sua prevenção. Afinal, os hábitos que adquirimos na infância geralmente nos acompanham até a idade adulta.


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