Bebês nascidos por cesárea recebem "banho" de bactérias vaginais
Revisado e aprovado por o médico José Gerardo Rosciano Paganelli
Uma das principais diferenças entre os bebês que nascem por parto normal e queles que nascem por cesárea é o microbioma que os recém-nascidos adquirem.
Enquanto no primeiro caso o bebê entra em contato com a flora bacteriana da vagina de sua mãe, no segundo os bebês ficam privados dessa flora e predominam bactérias da pele em seu microbioma.
Considerando que os micro-organismos que os neonatos obtêm através do parto vaginal contribuem para fortalecer seu sistema digestivo, metabólico e imunológico, os pesquisadores questionaram se as crianças que nascem por cesárea têm algum tipo de vantagem.
Para averiguar isso e, ao mesmo tempo, encontrar um método que permitisse enriquecer suas bactérias ainda que o nascimento aconteça por meio de uma intervenção cirúrgica, uma equipe de pesquisa estadunidense criou uma técnica que consiste em incubar gazes esterilizadas na vagina de várias mães a ponto de dar à luz.
O objetivo era usar estas gazes para limpar os bebês nos dois minutos posteriores ao seu nascimento por cesárea, com a finalidade de transferir-lhes os micro-organismos maternos.
A pesquisa
Para determinar se a aplicação da flora vaginal tem efeitos positivos sobre os bebês nascidos por cesárea, o grupo de pesquisadores analisou as amostras de 18 crianças: 7 nascidas por parto normal e 11 através de cirurgia, das quais 4 foram tratadas com esse novo método.
Após um mês, descobriu-se que as crianças nascidas por parto abdominal e banhadas nas bactérias de sua mãe tinham um microbioma com características mais parecidas com o das nascidas por parto normal em comparação com as que não receberam essa aplicação ao nascer.
Contudo, a transferência de micróbios não é completa.
José Clemente, professor da Escola Icahn de Medicina do hospital Monte Sinai de Nova Iorque e coautor desse estudo, explica que “antes de nascer, as crianças se desenvolvem em um entorno livre de bactérias. É ao passar pelo trato vaginal que recebem um banho de bactérias.”
Também adicione que esse método é importante porque “ao nascer por cesárea e não estar exposto a micróbios vaginais, o bebê adquire um microbioma muito diferente dos nascidos por parto normal”.
Tanto ele como muitos outros pesquisadores concordam em dizer que a flora bacteriana da mulher não só ajuda a evitar o ataque de patógenos perigosos, as bactérias vaginais desempenham um papel protetor no bebê.
Nesse sentido, destaca-se a flora vaginal como primeiro inóculo bacteriano que o bebê recebe ao passar pelo canal do parto, o qual, segundo as hipóteses, é fundamental para o desenvolvimento de um sistema imunológico forte.
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Estudo preliminar
Considerando que o custo desse método é mínimo, acredita-se que no futuro ele pode vir a ser usado de forma habitual.
Entretanto, os pesquisadores esclarecem que por agora os resultados fazem parte de uma pesquisa preliminar, pois são necessárias mais análises e pesquisas para determinar quantos benefícios o bebê recebe ao ser submetido a essa restauração do microbioma.
“É um estudo piloto feito para determinar se um método é seguro e factível, que é precisamente o que provamos neste artigo”, destaca Clemente.
Os nascimentos por cesárea têm aumentado
A Organização Mundial da Saúde (OMS) garante que somente entre 10% e 15% dos nascimentos exigem essa intervenção cirúrgica, seja para proteger a vida da mãe ou da criança.
Na Espanha são 27,3% dos nascimentos, na Colômbia foi registrada uma porcentagem de 43,4%, no México subiu até 46,2% e o Brasil registrou a maior taxa, com 55,6%.
O que mais chama a atenção nesses casos é que, conforme aumentaram as cesáreas, também aumentou o índice de transtornos imunológicos como a asma, a artrite juvenil ou diversas inflamações intestinais.
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Embora muitos desses problemas tenham sua origem em mudanças na dieta ou no uso de antibióticos, não se descarta a possibilidade de uma relação com alterações no microbioma, pois os maiores casos se apresentam entre os que nasceram por cesárea.
Entretanto, salvo em alguns estudos feitos com roedores, ainda não foi determinada qual é a relação entre a forma de nascer, as bactérias e as doenças que sofremos.
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