A personalidade muda com o tempo?

A personalidade é caracterizada por ser estável ao longo do tempo. No entanto, muitos dos seus recursos evoluem com o passar dos anos. Neste artigo, explicaremos os motivos.
A personalidade muda com o tempo?
Montse Armero

Revisado e aprovado por a psicóloga Montse Armero.

Escrito por Montse Armero

Última atualização: 27 maio, 2022

A personalidade é um construto psicológico que atraiu a atenção de inúmeros pesquisadores ao longo da história da psicologia. Gerou múltiplas teorias sobre o assunto, e ainda hoje, não há um consenso unânime sobre ela. Neste artigo, vamos focar em uma questão: será que a personalidade muda com o tempo?

Existem diversas definições da personalidade. Em essência, poderíamos descrevê-la como o conjunto de características psíquicas que constituem nossa maneira de pensar e agir.

Personalidade, temperamento e caráter

Os traços de personalidade são determinados pela interação entre temperamento e caráter. O temperamento é a parte inata da personalidade e é condicionada pela genética. Ela se manifesta mais cedo e é relativamente estável ao longo do tempo. Por outro lado, o caráter é influenciado por aspectos mais ambientais, e estes podem ser mais facilmente modificados.

Assim, podemos entender a personalidade como uma entidade estável ao longo do tempo, mas suscetível a modificações, seja devido às circunstâncias vividas ou porque procuramos conscientemente mudar algum aspecto dela.

Como a personalidade muda ao longo dos anos?

Todos nós evoluímos de alguma forma ao longo da vida. Um estudo da Universidade de Edimburgo analisou a mudança nas pessoas desde os 14 anos até os 63. Os resultados, conforme o esperado, mostraram que houve uma transformação muito significativa no seu modo de ser.

A personalidade não é fixa, mas sim modular, e embora tenhamos uma tendência estável, podemos evoluir e modificar muitos aspectos.

No entanto, nem todas as pessoas mudam. As circunstâncias que cada um de nós enfrenta às vezes são semelhantes, mas também podem ser extremamente diferentes das da maioria, e isso vai determinar a nossa personalidade de uma forma muito marcante.

Por outro lado, há pessoas que tendem a mudar com mais facilidade, seja pelo seu jeito de ser, pelo conjunto de experiências vividas ou porque pretendem transformar algum traço da sua personalidade.

As cinco grandes dimensões da personalidade

Além de grandes referências como Cattell ou Eysenck, McCrae e Costa propuseram  modelo Big Five, um dos mais usados  para classificar diferentes traços de personalidade. Nele, encontramos cinco características que estão situadas em um continuum entre dois extremos:

  • Extroversão: em um dos polos estão as pessoas mais otimistas, vitais, desinibidas e sociáveis, que gostam de estar em contato com as outras. No outro estão as mais introvertidas, calmas e reservadas.
  • Abertura à experiência: num extremo estão as pessoas com muita imaginação, curiosidade e originais, e no outro, as mais pragmáticas, convencionais e tradicionais.
  • Responsabilidade: esta característica diferencia pessoas competentes, organizadas e complacentes das pessoas informais e pouco disciplinadas.
  • Amabilidade: este atributo distingue pessoas honestas, altruístas e atenciosas das pessoas inescrupulosas, egoístas e hostis.
  • Neuroticismo: no polo negativo estão aquelas pessoas que têm tendência a sentir ansiedade, depressão e baixa tolerância ao estresse. Do lado positivo, estão as pessoas mais estáveis ​​emocionalmente, que apresentam um maior grau de calma e autocontrole.

Se analisarmos essas características em nós mesmos, podemos ver que alguns elementos permaneceram estáveis ​​ao longo do tempo. Porém, é comum que outros tenham mudado.

Por exemplo, é possível que nos tornemos pessoas mais responsáveis ​​do que quando éramos jovens, ou que graças à maturidade estejamos mais estáveis ​​emocionalmente. Ou, ao contrário, que devido às circunstâncias, nosso nível de neuroticismo tenha aumentado consideravelmente.

Psicólogo em terapia

Como posso mudar a minha personalidade?

Todos nós temos aspectos da nossa personalidade que gostaríamos de melhorar ou até mesmo de mudar radicalmente. Diante dessa situação, há aqueles que se justificarão com o eterno “as pessoas não mudam”, e há aqueles que querem começar esse processo de mudança, mas não sabem como. Para as pessoas do segundo grupo, é essencial que tenham em mente que:

  • O mais importante é querer mudar e, para isso, estar disposto a fazer um trabalho psicológico profundo.
  • Devemos ser realistas e propor metas alcançáveis, caso contrário, isso vai gerar uma grande frustração.
  • É mais fácil mudar quando os objetivos são claros e concretos. Uma boa maneira é localizar onde estamos no continuum e para onde queremos ir.
  • Devemos ter em mente que as mudanças de personalidade são progressivas; portanto, uma dose extra de paciência não fará mal.
  • Um bom plano envolverá o desenho de uma estratégia de curto, médio e longo prazo, identificando quais recursos devemos desenvolver em cada estágio.
  • Se tivermos um motivo, será mais fácil para nós, principalmente quando surgir resistência à mudança.
  • Uma boa estratégia será visualizar em detalhes como queremos ser, e agir como se já tivéssemos conseguido a mudança.
  • Se formos determinados e persistentes, alcançaremos mais facilmente os nossos objetivos.
  • Agir será a melhor maneira de ganhar segurança e confiança.
  • Substituir um padrão de comportamento exige um esforço considerável. Ainda que não saia como esperávamos, é importante não desistir, pois com o tempo podemos melhorar.

Caso haja traços da nossa personalidade que nos prejudiquem e não saibamos como modificá-los, consultar um psicólogo será sempre a opção mais recomendada.


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  • Armero, M. (2018). Aprendiendo a vivir. Uno Editorial.
  • Harris, M., Brett, C., Johnson, W. Deary, I. (2016). Personality Stability From Age 14 to Age 77 Years. Psychology and Aging. 31(8): 862-874.
  • Ter Laak, J. (1996). Las cinco grandes dimensiones de la personalidad. Revista de Psicología de la PUCP. Vol.XIV. Nº2.

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