A negação do vício
Escrito e verificado por médico Leonardo Biolatto
A negação do vício é uma das características mais comuns nas pessoas que sofrem desse problema. Inclusive, muitas vezes é necessário que familiares, amigos e companheiro pressionem o dependente químico para que peça ajuda, visto que ele considera que nada de ruim está acontecendo com ele.
Esse processo, embora muito frustrante, tem um lado positivo: assim que o paciente descobrir sua situação e aceitá-la, estará pronto para iniciar o processo de reabilitação.
É importante ressaltar que o vício não precisa estar relacionado ao uso de entorpecentes. Existem pessoas com problemas relacionados ao abuso no trabalho, jogos de azar ou alimentação.
Vamos nos aprofundar no assunto e destacar alguns aspectos básicos.
As formas de negação do vício
A negação do vício assume diferentes expressões; não é apenas o mecanismo de mentir sobre a realidade. Podemos garantir que é muito mais complexo do que imaginamos, e é por isso que lidar com as dependências é tão difícil.
Existem várias formas de negação. A seguir, listamos algumas delas:
- Negação simples: é a modalidade que identificamos mais facilmente. Consiste em negar a existência das consequências negativas que o vício tem na vida cotidiana.
- Justificativa: ao justificar, o viciado encontra uma explicação argumentativa para o vício. Com base em fatos ou situações, ele se convence de que a dependência é o único caminho.
- Racionalização: lado a lado com a justificação, consiste em dar argumentos à dependência que a tornem lógica, quando não o é.
- Minimização: basicamente, minimiza as consequências negativas do vício, como se elas não tivessem o impacto real que têm.
- Futurização: é a negação da fuga. O viciado vê o futuro como uma forma de não pensar ou analisar o presente. Deixa a possibilidade de escapar do vício para um amanhã que nunca chegará.
- Projeção: esta forma de negação do vício é bem explicada na ciência psicológica. Projetar é atribuir questões negativas que são nossas a terceiros. Transferimos a “culpa” do vício a outra pessoa.
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A negação na família
Não é apenas o viciado que sofre o mecanismo de negação. Muitas vezes, a família e o círculo íntimo do viciado passam por um período de negação da realidade. Isso torna ainda mais difícil enfrentar o tratamento.
Toda família com um viciado em seu meio se torna disfuncional. Rompe-se o equilíbrio familiar e os papéis são alterados com o risco de que a rede de contenção também o seja, segundo este estudo realizado por uma equipe da Universidad de Costa Rica.
Assim, surgem processos disfuncionais nos quais parentes, talvez por não compreenderem a doença da dependência, amam e odeiam ao mesmo tempo. Em meio a essa dicotomia, corta-se a comunicação e o que deveria ser resolvido com diálogo é calado.
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Abordagem da negação do vício
A negação do vício não está apenas presente antes de um tratamento de desintoxicação, mas dura quase toda a vida do viciado, como um fantasma que o persegue permanentemente.
Às vezes, a passagem do tempo e a espiral de consequências negativas levam o viciado a reconhecer o seu problema. Essas são situações extremas que podem resultar em uma abordagem tardia.
Para evitar chegar a esses extremos, existem alternativas:
- Psicoterapia: as sessões de psicoterapia fazem parte do processo de desintoxicação que as acompanha. Os psicólogos têm ferramentas para tentar reverter a negação.
- Registro de comportamento: para os viciados que já iniciaram uma desintoxicação, um diário pode ser útil. Nele, eles refletem as situações cotidianas e analisam quando a negação apareceu.
- Educação em saúde: palestras, panfletos, propagandas, eventos que falem sobre o problema da dependência podem despertar nas pessoas a necessidade de repensar seus comportamentos. Essa reformulação pode ser o primeiro passo para sair da negação.
Esconder nunca é a solução
Muitas vezes, o viciado sente medo e se refugia na negação para evitar o enfrentamento de uma determinada situação. Sua autoestima está prejudicada e ele acredita que, fugindo da realidade, tudo vai melhorar. No entanto, isso não é verdade.
O mais importante para ajudar essas pessoas é o apoio. É preciso dar a eles todo o entendimento, o respeito e apoio que for possível. É uma tarefa difícil, mas é possível se recuperar e superar o problema, desde que o paciente faça a sua parte e tenha as ferramentas necessárias para tal.
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