O que é terapia narrativa e para que serve?
Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fatima Seppi Vinuales
A terapia narrativa é um estilo de psicoterapia cujo objetivo é “empoderar” as pessoas para reescrever sua narrativa de uma forma mais compassiva. Consiste em tomar consciência de como as histórias que são contadas ao longo da vida influenciam o bem-estar e a autopercepção.
E é que, em geral, cada experiência e interação recebe um significado que influencia a forma como alguém vê a si mesmo e ao mundo. A partir disso, esse modelo terapêutico se propõe a criar histórias que possam reforçar a autoestima, a vida profissional, os relacionamentos e as competências. Você quer saber mais sobre isso?
O que é a terapia narrativa?
A terapia narrativa surge da mão de Michael White e David Epston. O seu desenvolvimento aproxima-se da evolução que ocorre no campo da terapia familiar e sistêmica nas décadas de 80 e 90. Uma das ideias mais fortes tem a ver com a ideia de que a pessoa não está só, mas sempre em relação com um contexto.
White e Epston estavam muito interessados na maneira como contamos a nós mesmos, nossa vida e nossa identidade. Eles consideraram que através dessas histórias não estamos apenas descrevendo nossa vida, mas também constituindo-a.
Daí a importância de conhecer os significados, valores e crenças por trás dessas histórias. Sentidos que não têm apenas uma âncora individual, mas são fortemente determinados pelo contexto e pelo social.
A terapia narrativa é um tratamento conversacional que se caracteriza pelo trabalho conjunto do terapeuta e da pessoa (coautora) na construção de novas histórias —a partir de uma abordagem colaborativa— orientada para o que se deseja alcançar.
Parte-se da ideia de que a pessoa possui recursos e habilidades para tal, cabendo ao terapeuta acompanhar ou orientar no caminho do conhecimento.
Tem uma forte base no construcionismo social. Postula que crenças, ideias, valores, normas, práticas e discursos nem sempre estiveram presentes, mas são construções a partir das quais nos posicionamos para interpretar o mundo.
Princípios da terapia narrativa
Para a construção de novas histórias ou narrativas alternativas, a terapia narrativa se baseia em diferentes princípios e ferramentas. Destacamos os principais a seguir.
Metáforas narrativas
As histórias que contamos são uma seleção de eventos sequenciados, que se conectam ao longo do tempo. Essas narrativas nos dão uma noção de nós mesmos e do que nos cerca, e também servem de referência para açõNomearzar o problema
Nas primeiras sessões, a narração tende a parecer mais desordenada, como se fosse uma cascata de episódios. Porém, conforme a pessoa se expressa, esse fluxo se torna mais ordenado.
Nesse momento, o terapeuta busca o paciente para dar um nome ao que o aflige ou o que o define. Você pode fazê-lo através de uma palavra ou uma frase curta. Desta forma, pretende-se “externalizar o problema”, outro dos princípios.
Ao nomeá-lo, é preciso cuidar de vários aspectos em relação à linguagem; que o paciente escolha as palavras que melhor descrevem a situação (que não sejam impostas) e que essas palavras não reforcem a situação que sustenta o problema. Da mesma forma, o terapeuta, em seu feedback, tenta usar a linguagem do cliente.
Externalização do problema
Essa estratégia busca tornar o problema mais concreto e administrável. Trata-se de despatologizar o paciente, ancorado em um diagnóstico ou rótulo.
A externalização é utilizada como técnica para que as pessoas se afastem do conflito e não o reconheçam como inerente à sua personalidade. Assim, ao colocar o problema para fora, a ideia de si mesmo como fraco ou inútil começa a enfraquecer.
Considerar o contexto e as circunstâncias
Problemas e histórias não ocorrem no vácuo, mas em um contexto social e histórico específico, no qual diferentes relações de poder estão presentes.
Levar em conta essas circunstâncias, explicitá-las e compartilhá-las com a pessoa ajuda a entender que muitas situações têm uma relação direta com ela. Por sua vez, isso permite que o peso da culpa seja aliviado.
Por exemplo, a obsessão por corpos magros e esguios é sustentada por uma cultura que constantemente reforça essas ideias.
Perguntar-se sobre os efeitos do problema
O terapeuta orienta o paciente a identificar como o problema afetou sua vida; quais foram os “truques” ou “vozes” através dos quais o problema foi estabelecido, seus primórdios e o contexto em que aparece.
Mas a pessoa também é encorajada a explorar seu problema e identificar qual tem sido seu papel na manutenção do problema. Isso é conhecido como “questões de influência recíproca”.
A identidade é social
A terapia narrativa é baseada em uma visão construtivista ou pós-estruturalista. Ela acredita que a identidade não é algo que devemos descobrir dentro de nós mesmos. Não é uma “descoberta” ou algo fixo, mas sim, afirmou White, é relacional e contextual.
Isso abre um leque de possibilidades, em que a pessoa tem a capacidade de construir sua “identidade intencional”, focando em seus desejos, suas motivações, suas crenças, etc.
Para que serve a terapia narrativa?
A terapia narrativa pode ser utilizada tanto no trabalho individual, como familiar, de casal e também em nível comunitário. Embora seja estabelecido um quadro de trabalho e respeitada a confidencialidade, existe alguma flexibilidade que é acordada com a pessoa.
É possível convidar para as sessões pessoas importantes que tenham sido afetadas ou participam do desconforto do paciente.
Através da «escuta desconstrutiva», o terapeuta faz uso dessas lacunas ou ambiguidades da história para trazer à tona aqueles aspectos pouco explorados ou ignorados que podem facilitar uma nova versão da história.
Dessa forma, essa terapia ajuda a retraçar os discursos dominantes que se postulam como verdades únicas e inalteráveis, e convida o paciente a construir uma versão da história mais sintonizada com seus objetivos e desejos.
Quais são os benefícios da terapia narrativa?
Dentre seus muitos benefícios, a terapia narrativa permite a construção de uma história alternativa, abrindo outros caminhos e possibilidades mais funcionais e saudáveis.
Por outro lado, como resultado da externalização, as pessoas podem se distanciar do problema e se concentrar em seus recursos e habilidades, e no que podem fazer para mudar a situação que as aflige.
Ao focar o problema em relação ao seu contexto, é possível construir uma nova perspectiva sobre ele. Da mesma forma, o autoconhecimento é reforçado e a pessoa se fortalece em sua vida.
O problema é o problema; a pessoa não é o problema…
Esse é um dos princípios-chave em que se baseia a terapia narrativa. Daí que se trabalhe na externalização para eliminar o efeito estigmatizante de certos rótulos.
Esse modelo de psicoterapia entende que o significado de um evento não é um “produto da mente”, mas uma construção. A partir daí ocorre a mudança.
Por si só, amplia as versões de um mesmo acontecimento e permite que cada um recupere um papel proativo e protagonista nas diferentes decisões de suas vidas.
A terapia narrativa é um estilo de psicoterapia cujo objetivo é “empoderar” as pessoas para reescrever sua narrativa de uma forma mais compassiva. Consiste em tomar consciência de como as histórias que são contadas ao longo da vida influenciam o bem-estar e a autopercepção.
E é que, em geral, cada experiência e interação recebe um significado que influencia a forma como alguém vê a si mesmo e ao mundo. A partir disso, esse modelo terapêutico se propõe a criar histórias que possam reforçar a autoestima, a vida profissional, os relacionamentos e as competências. Você quer saber mais sobre isso?
O que é a terapia narrativa?
A terapia narrativa surge da mão de Michael White e David Epston. O seu desenvolvimento aproxima-se da evolução que ocorre no campo da terapia familiar e sistêmica nas décadas de 80 e 90. Uma das ideias mais fortes tem a ver com a ideia de que a pessoa não está só, mas sempre em relação com um contexto.
White e Epston estavam muito interessados na maneira como contamos a nós mesmos, nossa vida e nossa identidade. Eles consideraram que através dessas histórias não estamos apenas descrevendo nossa vida, mas também constituindo-a.
Daí a importância de conhecer os significados, valores e crenças por trás dessas histórias. Sentidos que não têm apenas uma âncora individual, mas são fortemente determinados pelo contexto e pelo social.
A terapia narrativa é um tratamento conversacional que se caracteriza pelo trabalho conjunto do terapeuta e da pessoa (coautora) na construção de novas histórias —a partir de uma abordagem colaborativa— orientada para o que se deseja alcançar.
Parte-se da ideia de que a pessoa possui recursos e habilidades para tal, cabendo ao terapeuta acompanhar ou orientar no caminho do conhecimento.
Tem uma forte base no construcionismo social. Postula que crenças, ideias, valores, normas, práticas e discursos nem sempre estiveram presentes, mas são construções a partir das quais nos posicionamos para interpretar o mundo.
Princípios da terapia narrativa
Para a construção de novas histórias ou narrativas alternativas, a terapia narrativa se baseia em diferentes princípios e ferramentas. Destacamos os principais a seguir.
Metáforas narrativas
As histórias que contamos são uma seleção de eventos sequenciados, que se conectam ao longo do tempo. Essas narrativas nos dão uma noção de nós mesmos e do que nos cerca, e também servem de referência para açõNomearzar o problema
Nas primeiras sessões, a narração tende a parecer mais desordenada, como se fosse uma cascata de episódios. Porém, conforme a pessoa se expressa, esse fluxo se torna mais ordenado.
Nesse momento, o terapeuta busca o paciente para dar um nome ao que o aflige ou o que o define. Você pode fazê-lo através de uma palavra ou uma frase curta. Desta forma, pretende-se “externalizar o problema”, outro dos princípios.
Ao nomeá-lo, é preciso cuidar de vários aspectos em relação à linguagem; que o paciente escolha as palavras que melhor descrevem a situação (que não sejam impostas) e que essas palavras não reforcem a situação que sustenta o problema. Da mesma forma, o terapeuta, em seu feedback, tenta usar a linguagem do cliente.
Externalização do problema
Essa estratégia busca tornar o problema mais concreto e administrável. Trata-se de despatologizar o paciente, ancorado em um diagnóstico ou rótulo.
A externalização é utilizada como técnica para que as pessoas se afastem do conflito e não o reconheçam como inerente à sua personalidade. Assim, ao colocar o problema para fora, a ideia de si mesmo como fraco ou inútil começa a enfraquecer.
Considerar o contexto e as circunstâncias
Problemas e histórias não ocorrem no vácuo, mas em um contexto social e histórico específico, no qual diferentes relações de poder estão presentes.
Levar em conta essas circunstâncias, explicitá-las e compartilhá-las com a pessoa ajuda a entender que muitas situações têm uma relação direta com ela. Por sua vez, isso permite que o peso da culpa seja aliviado.
Por exemplo, a obsessão por corpos magros e esguios é sustentada por uma cultura que constantemente reforça essas ideias.
Perguntar-se sobre os efeitos do problema
O terapeuta orienta o paciente a identificar como o problema afetou sua vida; quais foram os “truques” ou “vozes” através dos quais o problema foi estabelecido, seus primórdios e o contexto em que aparece.
Mas a pessoa também é encorajada a explorar seu problema e identificar qual tem sido seu papel na manutenção do problema. Isso é conhecido como “questões de influência recíproca”.
A identidade é social
A terapia narrativa é baseada em uma visão construtivista ou pós-estruturalista. Ela acredita que a identidade não é algo que devemos descobrir dentro de nós mesmos. Não é uma “descoberta” ou algo fixo, mas sim, afirmou White, é relacional e contextual.
Isso abre um leque de possibilidades, em que a pessoa tem a capacidade de construir sua “identidade intencional”, focando em seus desejos, suas motivações, suas crenças, etc.
Para que serve a terapia narrativa?
A terapia narrativa pode ser utilizada tanto no trabalho individual, como familiar, de casal e também em nível comunitário. Embora seja estabelecido um quadro de trabalho e respeitada a confidencialidade, existe alguma flexibilidade que é acordada com a pessoa.
É possível convidar para as sessões pessoas importantes que tenham sido afetadas ou participam do desconforto do paciente.
Através da «escuta desconstrutiva», o terapeuta faz uso dessas lacunas ou ambiguidades da história para trazer à tona aqueles aspectos pouco explorados ou ignorados que podem facilitar uma nova versão da história.
Dessa forma, essa terapia ajuda a retraçar os discursos dominantes que se postulam como verdades únicas e inalteráveis, e convida o paciente a construir uma versão da história mais sintonizada com seus objetivos e desejos.
Quais são os benefícios da terapia narrativa?
Dentre seus muitos benefícios, a terapia narrativa permite a construção de uma história alternativa, abrindo outros caminhos e possibilidades mais funcionais e saudáveis.
Por outro lado, como resultado da externalização, as pessoas podem se distanciar do problema e se concentrar em seus recursos e habilidades, e no que podem fazer para mudar a situação que as aflige.
Ao focar o problema em relação ao seu contexto, é possível construir uma nova perspectiva sobre ele. Da mesma forma, o autoconhecimento é reforçado e a pessoa se fortalece em sua vida.
O problema é o problema; a pessoa não é o problema…
Esse é um dos princípios-chave em que se baseia a terapia narrativa. Daí que se trabalhe na externalização para eliminar o efeito estigmatizante de certos rótulos.
Esse modelo de psicoterapia entende que o significado de um evento não é um “produto da mente”, mas uma construção. A partir daí ocorre a mudança.
Por si só, amplia as versões de um mesmo acontecimento e permite que cada um recupere um papel proativo e protagonista nas diferentes decisões de suas vidas.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Wallis, J., Burns, J., & Capdevila, R. (2010). What is narrative therapy and what is it not? The usefulness of Q methodology to explore accounts of White and Epston’s (1990) approach to narrative therapy. In Clinical Psychology & Psychotherapy (Vol. 18, Issue 6, pp. 486–497). Wiley. https://doi.org/10.1002/cpp.723
- Hutto, D. D., & Gallagher, S. (2017). Re-Authoring narrative therapy: Improving our selfmanagement tools. In Philosophy, Psychiatry, & Psychology (Vol. 24, Issue 2, pp. 157–167). Project Muse. https://doi.org/10.1353/ppp.2017.0020
- López De Martín, Silvia Roxana (2011). Terapias breves: la propuesta de Michael White y David Epston. III Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología XVIII Jornadas de Investigación Séptimo Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Facultad de Psicología – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires.
- Moreno, A. (2014). Terapia narrativa. En A. Moreno: Manual de terapia sistémica. Principios y herramientas de intervención. Bilbao: Desclèe De Brouwer. Págs. 468-69.
- Payne, Martín (2002) Terapia Narrativa. Una introducción para profesionales. Buenos Aires. Paidos.
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