Mulher alérgica à água não pode ser mais ajudada pelo governo: "Afeta meu corpo todo"

Confira a surpreendente história de Niah, uma mulher alérgica à água, e os desafios que ela enfrenta ao realizar tarefas que para nós são simples.
Mulher alérgica à água não pode ser mais ajudada pelo governo: "Afeta meu corpo todo"

Escrito por Equipe Editorial

Última atualização: 07 março, 2022

Existem alergias a diversos tipos de componentes: poeira, certos alimentos, pelos, etc. São condições bastante conhecidas e pode-se dizer que comuns. No entanto, existem pessoas que apresentam reações alérgicas a elementos menos comuns e até mesmo surpreendentes, como uma doença rara chamada urticária aquagênica, que pode ser simplificada como alergia à água. Essa condição faz com que existam mulheres alérgicas à água.

Mesmo com os diversos tipos de tratamentos que a medicina nos oferece atualmente, as pessoas que sofrem de alergia sabem que pode ser um desafio viver com essa condição. No caso daquelas que têm alergia à água, isso se torna ainda mais difícil, uma vez que esse elemento é abundante em nosso ambiente e no próprio organismo.

De acordo com Simone Veloso, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da American Academy of Dermatology, a alergia à água consiste em um tipo raro de lesão provocada pelo contato com a água (independentemente da temperatura do líquido) e foi registrada pela primeira vez em 1964.

Os sintomas mais comuns das lesões são coceira, inchaço e dor no local do contato. Este último sintoma pode acontecer devido a fatores externos (como água da chuva, do banho, etc.) ou internos (suor, lágrimas e até urina). Até os produtos fabricados à base de água, como maquiagens e produtos para o cuidado da pele, podem desencadear uma reação alérgica. De acordo com Simone, é mais frequente que uma mulher seja alérgica a água e que essa condição se manifeste durante a puberdade.

A vida de uma mulher alérgica à água

Niah Selway é uma mulher alérgica à água. Ela decidiu registrar seus desafios e dia a dia no YouTube para mostrar às outras pessoas que a água está mais presente em nosso cotidiano do que percebemos, de forma que ela é afetada por situações que para o resto de nós são corriqueiras.

Niah é portadora de prurido aquagênico (versão da alergia em que não são formadas lesões visíveis durante as reações alérgicas).

O banho de uma mulher alérgica à água

Mulher alérgica à água.

Em um de seus vídeos, Niah mostra sua rotina de banho, que acontece da forma como conhecemos apenas 2 vezes por semana, pois os sintomas de dor e coceira são tão fortes que chegam a ser incapacitantes. Nos outros dias ela se limpa com panos umedecidos, que também provocam uma reação alérgica, mas menos potente.

“Tomar banho diariamente, banho de banheira… Machuca. Me deixa com tanta dor que meu dia não começa até eu me recuperar da reação alérgica”.

Niah, a mulher alérgica à água

Ela precisa usar sabonetes específicos para peles sensíveis e usa apenas hidratantes corporais à base de óleo. Niah tenta ser o mais rápida possível no banho, lavando os cabelos separadamente e se depilando com aparelhos elétricos.

Niah, a mulher alérgica à água

Xixi

Sim, fazer xixi também desencadeia uma reação no organismo de Niah. Ela inclusive precisou se demitir do emprego, pois a cada vez que ia ao banheiro perdia cerca de uma hora de trabalho pelas dores nas coxas, no bumbum e nas costas devido ao contato com a água de seu próprio corpo.

Para tornar a experiência menos traumática ela usa protetores de assento no vaso e coloca um pouco de papel dentro da água para evitar possíveis respingos. Quase sempre que vai ao banheiro, ela precisa se deitar e esperar o alívio dos sintomas, já que continuar se movendo piora ainda mais a situação.

Exercícios físicos para uma mulher alérgica à água

Niah diz que costumava frequentar a academia, mas teve que parar pois o suor de seu corpo provocava reações. Atualmente, ela pratica apenas yoga e caminhadas a fim de evitar o calor excessivo, o que nem sempre é possível.

Tomar água

Como essa alergia se restringe à pele, as mucosas da boca e do trato intestinal não são afetadas, de forma que ela pode tomar água normalmente.

Chuva

Niah diz que sai pouco de casa e, quando está chuvoso, ela só sai se for absolutamente necessário. A descrição que ela faz da sensação é impressionante, pois ela diz que é como se ácido estivesse caindo do céu.

“Eu não vou a lugar nenhum em dias chuvosos, fico dentro de casa. Levando um guarda-chuva ou não, levando um traje à prova d’água ou não, não há nenhuma forma, para mim é impossível sair de casa quando está chovendo muito sem deixar sequer um pingo cair na pele”.

Braço de mulher alérgica à água.

Maquiagem

Niah adora se maquiar, mas infelizmente a maioria dos produtos desencadeia uma reação alérgica. Graças a um dermatologista que a acompanha, ela pôde encontrar um spray à base de óleo que ela passa no corpo inteiro, inclusive no rosto, antes de usar qualquer outro produto.

Ela diz que o óleo cria uma camada sobre a pele, permitindo o uso de outros itens à base de água (como corretivos e bases). Infelizmente, o efeito não ajuda a minimizar as reações do banho.

O sono de uma mulher alérgica à água

Até um ato que consideramos simples, como dormir, pode ser um desafio. Niah conta que muitas vezes acorda devido à dor, pois durante a noite o corpo pode ficar mais quente e formar uma fina camada de suor sobre a pele.

Diagnóstico e sintomas

Simone, a dermatologista que mencionamos acima, conta que a lesão provocada por esse tipo de alergia é bastante semelhante às urticárias comuns: a pela adquire uma coloração avermelhada, incha e coça.

“As lesões cutâneas e a coceira intensa se desenvolvem entre vinte e trinta minutos, e desaparecem dentro de trinta a sessenta minutos após a secagem”.

Ela também comenta que o teste clínico para a detecção da alergia consiste em aplicar um tecido úmido em temperatura ambiente por vinte minutos sobre a pele. Se a urticária aparecer, o diagnóstico é positivo.

Niah não apresenta lesões como as descritas por Simone, mas sente muita dor local após o contato com a água. A mudança na coloração e a irritação na pele são visíveis com a ajuda de um microscópio.

A YouTuber afirma que seus sintomas duram de uma a três horas, variando de acordo com o que ela fizer após a reação. Ela afirma que evita coçar a pele, mas as vezes esse sintoma é tão intenso que ela experimenta espasmos involuntários.

Causas

De acordo com Simone, existe uma série de hipóteses sobre essa condição, mas por se tratar de um tipo raro não existem muitos casos documentados. A dermatologista conta que o primeiro surgiu nos anos 1960 e afirma que a interação entre a água e as glândulas sebáceas provocaria o rompimento de células que contêm histamina – substância envolvida nos processos alérgicos.

Nos anos 1980, surgiu uma hipótese afirmando que a difusão da água por parte das células cutâneas provocaria uma mudança na pressão sobre elas e, consequentemente, o aparecimento das urticárias.

A teoria mais recente é a de que algumas pessoas têm antígenos (corpos que provocam uma reação do organismo) na pele que em contato com a água se dissolvem, são absorvidas pelas células e desencadeariam a alergia.

De acordo com o Centro de Informações sobre Doenças Genéticas e Raras (Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, conhecido pela sigla GARD), também existe um componente genético, pois muitas das pessoas com essa condição apresentam um histórico familiar desse tipo de alergia.

Tratamento

Como a causa dessa alergia ainda não foi totalmente definida, não existe uma cura propriamente dita. O que se faz atualmente é o tratamento dos sintomas.

“O dermatologista pode aconselhar o uso de algumas técnicas, como a exposição a raios ultravioleta ou ingestão de anti-histamínicos para aliviar o desconforto”.

De acordo com o GARD, podem ser usados cremes e outros produtos de uso tópico para criar uma barreira entre a água e a pele, com a aplicação sendo feita antes do banho.

Infelizmente, para Niah essa solução não surtiu nenhum efeito, ela já tentou usar antialérgicos, analgésicos e também produtos à base de canabidiol para tentar amenizar a alergia, mas não teve sucesso em nenhum dos casos.

Ela usa um gel de aloe vera que não possui água em sua composição para aliviar os sintomas. Essa medida não soluciona o problema, mas pelo menos oferece um pouco de alívio após o banho.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.