Pessoas com comportamento antissocial podem ter uma estrutura cerebral diferente
Escrito e verificado por médico Leonardo Biolatto
A University College London (UCL) realizou uma pesquisa sobre o cérebro humano que a revista Lancet publicou na edição de fevereiro de 2020 na sua seção sobre psiquiatria. O artigo estuda a associação entre comportamento antissocial e estrutura cerebral.
Esta pesquisa foi realizada em colaboração entre a instituição de Londres e pesquisadores da Nova Zelândia, de onde vieram os indivíduos estudados. Na Nova Zelândia, a instituição que forneceu os sujeitos do estudo foi o Hospital Queen Mary.
Para desenvolver a pesquisa, uma ressonância nuclear magnética foi realizada em mais de 600 pessoas com 45 anos de idade no momento do teste de imagem. Essas 600 pessoas fazem parte de um grupo maior, de mais de mil, que os neozelandeses monitoram desde a infância.
O que se pretende determinar são os fatores que podem influenciar, ao longo da vida, que alguém desenvolva comportamentos ou hábitos antissociais. Se esses fatores forem detectados, seria possível influenciá-los para prevenir crimes, por exemplo.
Nas ressonâncias realizadas nos participantes da pesquisa, foi medida a espessura do córtex cerebral e a quantidade de substância cinzenta que possuíam. Esses dados permitiriam uma comparação entre aqueles com comportamentos antissociais e aqueles que não os possuem.
O que e quem é classificado como antissocial?
O que entendemos por comportamento antissocial? É um conceito difícil de definir, pois varia de acordo com a idade e a cultura dos envolvidos. O que é considerado antissocial na Europa não é o mesmo que na Ásia.
Comportamentos antissociais podem ser definidos como comportamentos praticados por alguém que são contrários aos interesses da sociedade. É uma maneira de ser e de agir que viola as normas estabelecidas pela maioria.
A gama de atos antissociais é ampla. Podemos incluir desde infrações de trânsito até roubos cometidos com violência notória. As práticas de vício dos adolescentes também se enquadram nessa categoria, como o consumo de bebidas alcoólicas.
Em segundo lugar, comportamentos antissociais podem ser traços de personalidade de uma pessoa que se rebela diante de uma autoridade, que pode ser seus pais ou a própria lei. O comportamento também foi entendido como um desafio em relação às instituições.
Não precisa necessariamente haver uma patologia que acompanhe os comportamentos antissociais. Na maioria das vezes, é apenas uma maneira de agir que não se classifica em nenhum quadro clínico psiquiátrico.
De qualquer forma, a ciência estabeleceu a existência de algo chamado transtorno de personalidade antissocial. São pessoas que quebram repetidamente as regras, que são impulsivas e que não se arrependem de seus atos de transgressão. Esse diagnóstico se aplica apenas a maiores de 18 anos.
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Resultados da pesquisa
A pesquisa publicada na revista Lancet revela que, para concluir o estudo, os participantes foram divididos em três grupos:
- 80 pessoas com histórico de problemas antissociais;
- 151 pessoas com histórico antissocial limitado ao período da adolescência;
- 441 pessoas sem registros de comportamento antissocial anterior a essa fase da vida.
Resultados significativos foram encontrados no primeiro grupo. As ressonâncias magnéticas cerebrais dessas pessoas mostraram um encolhimento do córtex cerebral em comparação com as outras, além de uma quantidade um pouco menor de substância cinzenta.
Por outro lado, no grupo com problemas antissociais na adolescência e naqueles sem histórico não houve diferenças. Isso revela que certos comportamentos desde a mais tenra idade podem ser explicados mais culturalmente do que biologicamente.
O que é evidente é a mudança na arquitetura cerebral que um pequeno grupo da população pode ter em relação aos comportamentos antissociais. Essas mudanças poderiam explicar a personalidade antissocial que se manifesta persistentemente ao longo dos anos.
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Estudos anteriores sobre o comportamento antissocial e o cérebro
Os resultados publicados na Lancet se somam a uma série de pesquisas anteriores sobre o mesmo assunto. Diferentes universidades trabalharam o tema em diferentes idades e em diferentes países.
Adolescentes com problemas antissociais, por exemplo, já demonstraram ter alterações nas regiões frontal e temporal do cérebro. Além disso, com conotações mais graves, os presos violentos das prisões têm menos massa cinzenta.
Especificamente, os pesquisadores estiveram analisando a região das emoções do encéfalo para encontrar alguma associação. Supondo que problemas antissociais sejam caracterizados por falta de empatia, era lógico procurar por mudanças neste local. Os resultados indicaram que adolescentes antissociais tinham amígdalas cerebrais menores, e a amígdala é a sede da empatia.
Podemos concluir que esta nova pesquisa confirma que os problemas antissociais têm uma certa relação com a estrutura e a arquitetura do cérebro, e que essas mudanças são mais um fator que determina comportamentos antissociais ao longo da vida.
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