Câncer de mama e gravidez: o que você deve saber

O câncer de mama é uma das neoplasias mais comuns em mulheres. Portanto, é possível encontrar casos durante a gravidez.
Câncer de mama e gravidez: o que você deve saber
Maryel Alvarado Nieto

Escrito e verificado por a médica Maryel Alvarado Nieto.

Última atualização: 24 dezembro, 2022

Um dos eventos que costuma ser motivo de alegria para a mulher é a maternidade, mas essa situação pode ser ofuscada por alguma doença. O câncer de mama na gravidez é uma realidade devastadora para muitas mulheres no mundo.

No entanto, é possível tratar essa neoplasia de forma eficaz sem acarretar um risco incompatível com a gestação. Portanto, na maioria dos casos, a interrupção da gravidez não se justifica.

O câncer de mama é considerado vinculado à gravidez quando diagnosticado durante esse período ou no primeiro ano após o parto.

Estima-se que cerca de 10% dos tumores malignos de mama em mulheres com menos de 40 anos estejam associados à gestação, o que representa 1 em 1.000 a 3.000 mulheres. Embora esse número seja considerado pouco frequente, está longe de ser um número ideal. Em particular, porque é possível que a incidência aumente nos próximos anos, devido ao adiamento da maternidade para idades avançadas.

Prognóstico de câncer na gravidez

Na crença popular, o diagnóstico de câncer de mama durante a gravidez é considerado de pior prognóstico para as mulheres. No entanto, vários estudos tentaram esclarecer essa teoria, sem mostrar diferença significativa na sobrevivência desses grupos de mulheres.

Por esse motivo, atualmente, a hipótese de pior prognóstico se baseia na demora do diagnóstico e não em uma condição intrínseca da gravidez. Alguns autores propõem que as alterações hormonais típicas da gestação poderiam influenciar no desenvolvimento do câncer de mama, mas não comprovaram essa hipótese.

As mamas passam por uma série de mudanças durante a gravidez para se prepararem para a amamentação. São essas mesmas alterações que dificultam tanto o exame físico quanto a capacidade de detectar uma massa tumoral com os métodos de imagem disponíveis.

Um exame minucioso das mamas no primeiro trimestre de gravidez é fundamental, pois as mudanças nesse período são mais sutis. Isso facilita a detecção.

Quais são os sintomas?

A principal manifestação física é a presença de uma massa palpável e indolor na mama. Esse tumor pode passar despercebido, pois se supõe ser uma alteração normal da gravidez.

Se a massa persistir por mais de 2 semanas, é essencial estudá-la.

Algumas mulheres notam uma descarga de secreção pelo mamilo (telorréia), que pode até ser sanguinolenta (telorragia). É possível que, após o parto, o bebê recuse a amamentação, mas essa situação é rara.

Grávida com câncer de mama.
A detecção de uma massa nas mamas durante a gravidez exige investigação médica para estabelecer a causa.

Diagnóstico do câncer de mama na gravidez

A detecção precoce é essencial, portanto, qualquer alteração de uma ou ambas as mamas deve ser cuidadosamente avaliada. As glândulas mamárias são de difícil exploração devido às alterações típicas da gravidez e é necessário recorrer a técnicas complementares de imagem.

Ecografia mamária

A técnica ideal para a avaliação das mamas na gravidez é a ultrassonografia, pois não emite radiação ionizante que comprometa o desenvolvimento fetal. O ultrassom pode ser usado durante toda a gravidez e, em mãos experientes, pode discriminar as características das lesões.

A avaliação deve abranger tanto as mamas quanto o tecido axilar. Este último exclui uma possível disseminação para os gânglios linfáticos.

Mamografia

Embora não seja o estudo inicial de escolha, devido ao risco de radiação fetal, seu uso não é totalmente contraindicado na gravidez. O que é importante destacar é que o abdômen deve ser protegido para minimizar esse risco.

A mamografia no câncer de mama na gravidez é de difícil interpretação, devido ao aumento da densidade mamária. No entanto, a técnica permite a comparação de ambas as mamas e a detecção de microcalcificações.

Biópsia da lesão mamária

O diagnóstico definitivo é ditado pelas características histológicas da massa tumoral. Para isso, é necessário coletar uma amostra para a biópsia.

A punção com agulha grossa e guiada por ultrassom é atualmente recomendada e, em alguns casos, a coleta de amostragem por incisão da lesão. A punção com agulha fina não é recomendada devido às altas taxas de erro e à impossibilidade de realizar estudos imuno-histoquímicos na amostra.

As principais complicações desses procedimentos são pouco frequentes e incluem:

  • Fistulização.
  • Sangramento.
  • Infecção.

Diante de uma lesão suspeita, é sempre aconselhável fazer uma biópsia precoce. Esses procedimentos são considerados seguros para realizar durante toda a gravidez.

Outras técnicas de exploração

A ressonância magnética apresenta as mesmas dificuldades técnicas de interpretação que a mamografia, exceto que não emite radiação ionizante. No entanto, não é muito útil durante a gravidez, pois o uso de meios de contraste é prejudicial.

No entanto, o médico pode recomendar seu uso em alguns casos. Devem ser tomadas providências, como cateterismo vesical e hidratação parenteral, para eliminar o contraste rapidamente.

Em relação à suspeita de metástase, recomenda-se a ultrassonografia abdominal para detectar lesões hepáticas. Por outro lado, o uso rotineiro da tomografia não é indicado, devido aos altos níveis de radiação a que o feto está exposto.

Se necessário, uma radiografia de tórax com proteção abdominal pode ser solicitada após o primeiro trimestre de gravidez. E em caso de suspeita de metástase cerebral, a ressonância magnética sem contraste pode ser utilizada.

Existem diagnósticos diferenciais?

Cerca de 80% das lesões mamárias durante a gravidez são benignas.

Portanto, é importante esclarecer a natureza dessas lesões. Os diagnósticos diferenciais incluem os seguintes:

  • Cistos.
  • Mastite.
  • Galactocele.
  • Fibroadenoma.
  • Patologia inflamatória.

Tratamento do câncer de mama na gravidez

O esquema de tratamento deve ser realizado por oncologistas experientes e depende muito do tamanho do tumor, do estágio da neoplasia e da idade gestacional. A interrupção da gravidez nas primeiras semanas de gestação só pode ser justificada quando o atraso no tratamento afeta o prognóstico materno, mas vários estudos têm demonstrado que a continuidade da gravidez não altera a sobrevida.

Cirurgia de mama

Nos estágios iniciais, a cirurgia é o tratamento de escolha. A técnica cirúrgica, conservadora ou radical, dependerá da idade gestacional e das características do tumor.

Por essa razão, a abordagem conservadora não é aconselhada no primeiro trimestre. Em alguns pacientes, a quimioterapia antes da cirurgia é indicada para melhorar tanto o risco operatório quanto os resultados da cirurgia.

Quimioterapia

Quimioterapia no câncer de mama durante a gravidez.
A quimioterapia às vezes é empregada antes da cirurgia para reduzir o tamanho de um tumor muito grande.
A quimioterapia não é recomendada antes da décima semana de gestação devido ao risco de desenvolver malformações no feto.

De fato, alguns autores aconselham iniciar a quimioterapia após a semana 14. No entanto, a indicação nesse intervalo depende do critério da equipe médica. Por outro lado, a dilatação da abordagem quando o diagnóstico é feito no início da gravidez piora o prognóstico materno.

É importante destacar que a quimioterapia deve ser suspensa por 3 semanas antes do parto para evitar o desenvolvimento de neutropenia e outros distúrbios hematológicos, tanto no recém-nascido quanto na mãe. Após o parto, recomenda-se interromper a amamentação.

Terapias contraindicadas

A radioterapia é completamente contraindicada durante a gravidez e deve ser adiada até após o parto. Alguns autores aconselham a cesariana segmentar para garantir a viabilidade do feto, para iniciar o esquema o quanto antes. Da mesma forma, a terapia hormonal e o uso de medicamentos biológicos são contraindicados.

Procurar aconselhamento médico

O tratamento do câncer de mama na gravidez deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar. Como é raro, é necessário encaminhar o paciente para centros especializados que forneçam tanto as informações quanto o suporte de que necessitam.

Da mesma forma, as decisões do paciente e de sua família devem sempre ser respeitadas. O fundamental é a detecção precoce de lesões malignas, pois isso melhora o prognóstico com o tratamento.

No entanto, é comum que o diagnóstico dessa neoplasia seja tardio, complicando as perspectivas para as mulheres. Por isso, recomenda-se o exame rotineiro das mamas nas consultas de pré-natal (a partir do primeiro trimestre de gestação) e o autoexame pela própria paciente.


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