O que acontece quando não recebemos muito amor na infância?

Sentir-se amado na infância é um ingrediente básico do desenvolvimento emocional. Mas o que acontece quando o que prevalece é a falta de afeto? Quais podem ser as consequências?
O que acontece quando não recebemos muito amor na infância?

Última atualização: 10 dezembro, 2020

O apego é a base do nosso desenvolvimento e uma fonte indiscutível de satisfação com a vida. Mas o que acontece quando não recebemos muito amor na infância? Essa parece ser a origem de alguns problemas de comportamento.

Quando nascemos, a proteção e a segurança que necessitamos se baseia no amor que somente nossos pais podem nos conceder. No entanto, esse nem sempre é o caso, e isso se reflete anos mais tarde em nosso comportamento e na forma como nos relacionamos com os outros.

Quando não recebemos muito amor na infância: algumas consequências

A falta de amor na infância pode gerar certas consequências ​​na adolescência e na vida adulta. A seguir, vamos comentar algumas delas.

1. Indiferença em relação aos sentimentos alheios

Dado o pouco afeto recebido na infância, é possível que algumas pessoas mostrem dificuldade em se relacionar com o que os outros sentem. Esse traço é conhecido como ‘comportamento insensível’ ou ’emoções pró-sociais limitadas’.

Nesse sentido, estudos como o realizado pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Michigan exploraram como a falta de afeto nos primeiros anos de vida tem efeitos aos 10-12 anos e até aos 20 anos.

Especificamente, esses autores observam que essa carência está posteriormente relacionada a menos empatia em crianças e adolescentes cujos pais não foram muito próximos ou foram até mesmo agressivos na criação dos filhos.

Revisões mais recentes também destacam como a qualidade das interações entre pais e filhos está associada a uma maior compreensão dos sentimentos dos outros. Isso torna mais fácil estabelecer relacionamentos positivos com outras pessoas, segundo um estudo conduzido por vários pesquisadores das universidades holandesas de Tilburg e Utrecht.

Tais resultados, então, colocam o foco da atenção nas consequências experimentadas se, por diferentes motivos, não tivermos recebido muito amor na infância.

No entanto, a intervenção precoce é viável em muitos casos. Existem programas concebidos para ajudar os pais a lidar com certos problemas (econômicos, pessoais, etc.) e para ensinar a eles estilos de comunicação mais saudáveis.

Além disso, como aponta a última publicação citada, manter relações com seus iguais representam um forte apoio. E, também, constituem uma oportunidade clara para treinar a empatia e gerar vínculos interpessoais positivos.

2. Problemas para se relacionar e expressar sentimentos

Com base no exposto anteriormente, vemos que um amor insuficiente na infância às vezes constitui o início de uma cadeia de gerações futuras com problemas.

Uma pessoa que não recebeu carinho dos pais, pode acabar repetindo o mesmo padrão com seus filhos. Ou seja, quando não recebemos muito amor na infância, corremos o risco de replicar, sem perceber, o comportamento que conhecemos.

A questão é que o afeto na infância é o “motor” que move as capacidades altruístas do ser humano. À medida que crescemos, essas capacidades são o resultado da qualidade do amor que experimentamos em nossos primeiros anos.

Portanto, parece difícil ignorar como essas necessidades não atendidas na infância se manifestam posteriormente na idade adulta. Inconscientemente, os protagonistas dessa situação anseiam por preencher esse vazio, o que condiciona seu comportamento e a forma de se relacionar com os outros.

De fato, pesquisas como a do professor Adam J. Rock e sua equipe fornecem evidências relevantes nessa direção. Esses autores estudam como os diferentes estilos de apego (seguro, ansioso ou evitativo) têm muito a ver com o comportamento que temos nas interações sociais.

Então, por que é importante se sentir amado na infância?

Como vimos, demonstrar amor pelas crianças é extremamente importante por várias razões. Principalmente, é válido mencionar que a humanização das pessoas é feita através do afeto na infância.

A questão é que o afeto vivido nos primeiros anos está relacionado em grande medida com o desenvolvimento de futuras habilidades interpessoais. Portanto, se quisermos evitar que as crianças cresçam com essas carências, é preciso dar a elas o afeto que elas merecem.

E se em algum momento como pais precisarmos de ajuda, não podemos deixar de pedir. A intervenção precoce, o apoio social e o aconselhamento psicológico nesses casos são, obviamente, estratégias úteis a serem consideradas.


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