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Vícios comportamentais: definição, tipos e tratamento

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Existem muitas formas de dependência que não requerem o uso de nenhum tipo de substância. Embora sejam menos conhecidas ou aceitas pela sociedade de forma tácita, ainda são um problema.
Vícios comportamentais: definição, tipos e tratamento
Última atualização: 27 abril, 2021

Nem todos os vícios têm a ver com o uso de álcool ou drogas. Na verdade, existem outros tipos de comportamento muito mais comuns e até mesmo cotidianos que quase normalizamos sem saber que, por trás deles, existe um claro problema psicológico. Exemplos disso são os vícios comportamentais.

O uso intenso do celular a ponto de não conseguir se livrar dele é um comportamento viciante, bem como quem canaliza as suas emoções comendo de maneira compulsiva. Existem muitas formas e variantes desta categoria clínica. Além disso, no campo da psicologia e da psiquiatria, é um avanço que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) finalmente tenha incluído esta nomenclatura.

Somente a partir de 2013 estabeleceu-se uma separação entre as dependências de substâncias e os vícios comportamentais. Algo que pode parecer irrelevante para nós é realmente decisivo para a abordagem terapêutica. Vamos ver este tema com mais detalhes.

O que são os vícios comportamentais?

Até algumas décadas atrás, presumia-se que todo vício exigia o consumo de algum tipo de substância. Assim, um comportamento prejudicial que uma pessoa não conseguia parar de repetir era considerado um problema de controle de impulso.

Porém, hoje já sabemos que fatos como o vício em celulares ou a pornografia não se baseiam apenas no “não consigo me controlar“. O mecanismo cerebral de dependência não requer o uso de substâncias externas, como maconha, anfetaminas, cocaína, cafeína, nicotina e álcool.

Existem hábitos de conduta aparentemente inofensivos que podem se tornar viciantes. A razão está nas mudanças cerebrais que esses comportamentos geram. A dopamina e os estimulantes de recompensa, apesar de breves, oferecem o elemento de que o cérebro precisa para se sentir bem.

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O jogo é um dos tipos mais comuns de dependência comportamental.

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Vícios sem drogas: como é possível?

Os vícios comportamentais são um conjunto de comportamentos que estão além do controle da pessoa e são prejudiciais. Da mesma forma, eles compartilham as mesmas características dos vícios em substâncias, mas neste caso não há consumo de nenhum produto ou elemento externo.

Por outro lado, se nos perguntamos por que esses comportamentos aparecem, a resposta está na emoção que eles podem gerar: positiva, reconfortante, agradável e sempre obsessiva. A pessoa afetada nem sempre tem conhecimento desse vício, pois, em geral, são comportamentos inofensivos, como por exemplo jogar videogame.

Esses comportamentos de dependência se ativam por um mecanismo de reforço positivo, como o prazer experimentado ou a euforia. No entanto, à medida que o comportamento se torna obsessivo, surgem sintomas de desconforto e abstinência quando a ação não está sendo realizada.

Quais são os principais tipos de vícios comportamentais?

Existem muitos tipos de vícios comportamentais. Além disso, desde a chegada das novas tecnologias, novas tipologias têm surgido. Tudo isso obriga os profissionais da área da saúde a desenvolverem mecanismos de detecção e tratamento. Muitas dessas condições ocorrem em uma população cada vez mais jovem.

Vejamos agora quais são os mais comuns:

  • Transtorno de jogos compulsivos e apostas: a prática do jogo está muito presente na nossa sociedade, e ainda mais desde o surgimento das casas de apostas e da falta de regulamentação das mesmas na proteção de menores.
  • Transtorno de jogos eletrônicos: estudos científicos, como os realizados na Nottingham Trent University, mostram que este tipo de dependência é muito comum em adolescentes.
  • Dependência da Internet: existem milhares de pessoas que não conseguem desviar os olhos de tudo o que acontece nas redes.
  • Dependência de pornografia: o consumo de material audiovisual com conteúdo sexual é um dos vícios comportamentais mais comuns.
  • Vício em celulares: este é outro fenômeno recorrente que muitos de nós desconhecemos. O simples ato de estar longe ou perder esse dispositivo provoca uma grande ansiedade.
  • Dependência sexual: a necessidade de satisfazer o desejo sexual pode se tornar obsessiva e prejudicial.
  • Transtornos alimentares: como compulsão alimentar ou obsessão por alimentos saudáveis.
  • Compras compulsivas.
  • Transtornos de dependência afetiva ou vício no amor: nesses casos, os vícios comportamentais também podem surgir na esfera relacional. Define as situações em que é impossível deixarmos um parceiro, mesmo que esse vínculo seja destrutivo.

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Quais são os sintomas de um vício comportamental?

Todo comportamento viciante pode se manifestar de várias maneiras. O professor de psicologia Enrique Echebarrúa, especialista na área de dependências comportamentais, explica em seu livro “Dependências Sem Drogas” que esses transtornos se manifestam da seguinte forma:

  • Forte desejo e ansiedade por realizar a atividade agradável.
  • Perda progressiva de controle sobre a atividade, sem poder parar de executá-la.
  • Negligência das atividades diárias: como trabalho, acadêmicas ou relacionamentos.
  • Quando amigos e familiares estão cientes do que está acontecendo e avisam a pessoa, mas ela nega e fica na defensiva.
  • Desgaste progressivo dos relacionamentos.
  • Quando a pessoa não consegue realizar esse comportamento, ela experimenta a síndrome de abstinência: ansiedade, irritabilidade, desconforto, raiva.
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A tecnologia tem facilitado o aparecimento de comportamentos de dependência, principalmente nos mais jovens.

Como tratar este tipo de vício?

A maneira de lidar com os vícios comportamentais sempre passa por um fato: esses transtornos costumam apresentar comorbidade com depressão, ansiedade ou transtornos de personalidade. É fundamental fazer um bom diagnóstico e atender a realidade particular de cada paciente.

Em geral, aplica-se um enfoque multidimensional que combina a abordagem farmacológica com a psicológica. Dentro desta última, são eficazes a terapia cognitivo-comportamental, a terapia motivacional, bem como as terapias de grupo e familiar/conjugal.

Por outro lado, as áreas que devemos trabalhar na terapia psicológica são a autoestima, a racionalização dos pensamentos, o controle dos impulsos, o manejo das emoções e as estratégias de enfrentamento, bem como aquelas voltadas para a prevenção de recaídas. É importante estabelecer novas metas e projetos futuros.

Os vícios comportamentais são muito comuns em jovens e adolescentes. Precisamos, portanto, da colaboração e sensibilização das famílias e educadores para prevenir e detectar este tipo de realidade.


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