Técnica de sobrecorreção na educação infantil, como usá-la?
Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz
Na educação das crianças podem surgir muitas dúvidas e conflitos sobre como agir. Você quer ensiná-las o que é certo, mostrar-lhes o caminho certo e, para isso, às vezes você precisa corrigir o comportamento delas. Mas como fazer isso? Pois bem, a técnica de sobrecorreção pode se tornar uma excelente opção nesses casos.
Felizmente, as últimas gerações de pais discordam de qualquer punição que prejudique a integridade física ou psicológica de seus filhos. No entanto, ao abrirem mão desses estilos autoritários, às vezes se encontram sem alternativas para educar.
A realidade é que existem ferramentas muito eficazes que não causam nenhum dano às crianças e que você pode implementar no dia a dia. Conheça uma delas abaixo.
O que é sobrecorreção?
A sobrecorreção é uma técnica de modificação de comportamento derivada do behaviorismo. De acordo com essa corrente psicológica, todo comportamento se mantém, aumenta ou desaparece dependendo das consequências que o seguem. Assim, se você quer que uma criança pare de se comportar de uma determinada maneira, esse comportamento deve ser seguido por uma consequência negativa.
Castigos físicos, ameaças ou humilhações não são alternativas válidas em nenhum caso, pois não educam e causam grandes danos. No entanto, não é qualquer consequência que serve. É essencial que isso esteja intimamente relacionado e vinculado ao mau comportamento da criança.
Por exemplo, se seu filho pintou uma parede e você o pune sem ver televisão, isso não faz sentido. Devido à falta de conexão natural entre os dois eventos, dificilmente você estabelecerá um relacionamento e aprenderá uma lição valiosa sobre isso. Nesse caso, uma consequência consistente seria ter que limpar a tinta da parede com as próprias mãos.
Nesse caso, a técnica de sobrecorreção vai um passo além e “exagera” ou estende a consequência para que o aprendizado seja maior e mais eficaz. Continuando com o exemplo anterior, a sobrecorreção faria com que a criança não apenas limpasse o desenho na parede, mas também limpasse todas as paredes da sala.
Como se aplica?
Como você pode ver, é uma técnica completamente inofensiva, que não prejudica a criança de forma alguma e, além disso, a ajuda a aprender de maneira natural e relacionada ao seu comportamento. Agora, existem duas maneiras diferentes de aplicar a sobrecorreção. Dependendo das circunstâncias específicas, você pode escolher aquela que melhor se adapte às suas necessidades.
Sobrecorreção restitutiva
Neste caso, o objetivo é restituir ou reparar os danos causados pela conduta inadequada. O exemplo mencionado acima se enquadraria nesta categoria: ao limpar a parede, a criança repara o dano material e contribui com outra coisa. Ou seja, deixa o ambiente melhor do que o encontrou.
Outro exemplo válido poderia ser dado no caso de o pequeno quebrar um vaso de porcelana. Nesse caso, você poderia pedir que ele o repare colando as peças quebradas e também dando uma camada de verniz ou tinta.
Sobrecorreção de prática positiva
Existe outra modalidade que pode ser utilizada quando não foi causado nenhum dano que possa ser reparado ou quando se deseja estabelecer o comportamento adequado com maior profundidade. Nesse caso, a criança é solicitada a praticar o comportamento apropriado várias vezes seguidas.
Por exemplo, imagine que seu filho depois de tomar banho deixou a toalha no chão em vez de colocá-la no cabide. Nesse caso, você pode pedir para ele pegar a toalha e pendurá-la, e depois tirá-la e colocá-la de volta mais algumas vezes.
Vantagens e desvantagens
Essa técnica pode ser usada para corrigir comportamentos inadequados das crianças e mudar seus maus hábitos. Além disso, é eficaz na eliminação de comportamentos autoestimulatórios e hábitos nervosos e na redução de comportamentos agressivos. É uma ferramenta muito útil que traz várias vantagens:
- Deixa claro qual é o comportamento inadequado.
- Como a consequência tem relação direta com o comportamento, a aprendizagem é mais efetiva
- A criança pode restaurar o dano causado, o que a ensina a assumir a responsabilidade por suas ações e erros.
- Permite aprender e praticar comportamentos positivos e alternativos. Dessa forma, você não apenas aponta a coisa errada, mas também propõe uma solução e uma maneira correta de proceder em ocasiões futuras.
Na verdade, a sobrecorreção tem poucas desvantagens. É uma técnica que não causa humilhação, dano ou ressentimento na criança. Da mesma forma, permite que ela se sinta útil e seja reconhecida pelo bom comportamento subsequente. No entanto, é importante que os pais sejam firmes e consistentes em sua aplicação.
Afinal, não deixa de ser um castigo (ou seja, uma consequência negativa e pouco feliz para a criança). Assim, é normal que ela resista a cumpri-la, demonstre raiva ou lágrimas. É fundamental não ceder frente a essas atitudes, pois, caso contrário, o pequeno entenderá que pode se livrar das consequências e nenhuma aprendizagem positiva ocorrerá.
Sobrecorreção não é vingança
Por fim, é importante lembrar que, ao corrigir, você está tentando ensinar à criança uma maneira apropriada de se comportar, mas não está se vingando por causa de seu mau comportamento. Ao proceder, você não deve fazê-lo com raiva, com reprovações ou ameaças, mas com calma e empatia.
Você tem que fazer o se filho ver que você entende que ele está bravo por ter que cumprir o “castigo”, mas que ele ainda tem que fazer isso e você estará ao seu lado para acompanhá-lo. Você pode até realizar a ação com ele para atuar como modelo e mostrar a ele como é feito. Dessa forma, você mostrará a ele que não há nada de negativo ou vergonhoso na consequência que você impôs; que é apenas uma forma de aprendizado.
Se você for constante na aplicação desta técnica, poderá obter resultados muito bons sem prejudicar o relacionamento com a criança. Portanto, não hesite em colocá-la em prática a partir de hoje.
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