Como os pensamentos se transformam em doenças?
Escrito e verificado por o psicólogo Raquel Aldana
Nossa mente é tão poderosa que permite influenciar o nosso estado físico. Nos últimos anos temos visto como a porta entre o corpo e a mente se abre, demonstrando que estas áreas do nosso corpo estão mais relacionadas aos pensamentos do que imaginamos.
Todos nós, alguma vez, nos sentimos doentes e tivemos a sensação de que, com essa doença física, nossa mente ficava em uma espécie de prisão.
Sentíamos como a nossa mente se tornava mais preguiçosa e desajeitada do que o habitual; fechando-se tanto à recepção de estímulos como à produção de pensamentos próprios.
Por outro lado, as últimas pesquisas dizem que um estado de bem-estar mental encontra-se associado a um bom estado físico; seja o estado real ou a percepção que temos dele.
“Parece que a ordem e a esperança que habitam em nossas ideias têm a capacidade, mediante o funcionamento do nosso sistema nervoso, de se transformar em um melhor estado físico.”
Dito de outra forma, estamos mais propensos a contrair doenças quando a nossa mente está desequilibrada. Ou seja, a ansiedade ou a depressão são perturbações mentais que podem contribuir para o aparecimento de sintomas físicos indesejados.
Como ocorre o processo de transformação?
Pensemos por um momento nos momentos nos quais nos sentimos ansiosos. Nosso coração começa a bater mais forte e mais rápido do que o normal, nossas mãos podem começar a tremer e facilmente começamos a suar.
Todos estes sintomas aparecem porque a partir da nossa mente estamos colocando o nosso corpo em funcionamento; ou seja, estamos alterando as nossas constantes de uma forma muito parecida como quando começamos a fazer exercícios físicos.
Entretanto, há uma diferença muito grande: o exercício em si não ocorre. E, assim, o corpo dificilmente pode fornecer uma saída para toda essa energia que começou a produzir, e isso resulta numa pressão enorme sobre o nosso sistema nervoso.
As veias e artérias que irrigam nossos músculos mal começaram a se dilatar e o coração está enviando muito sangue.
Visite este artigo: Como encher sua casa de energia positiva
O que acontece, então, com nossos pensamentos?
Imaginemos que uma imensa quantidade de carros começa a circular por uma rodovia e que, de repente, essa rodovia termina, e o tráfico tem que ser desviado para uma estrada secundária. O resultado é, certamente, a produção de um colapso.
O mesmo acontece no nosso corpo.
Por analogia, temos um coração enviando carros e mais carros e o resto do corpo é incapaz de recebê-los. Se essa situação se mantiver durante pouco tempo ou não for muito intensa, tudo não passará de um mero acontecimento.
No entanto, quando a intensidade do trabalho cardíaco é muito grande ou muito dura muito tempo, podem-se produzir sérios danos.
Por outro lado, uma das conexões mais evidentes é a que relaciona o funcionamento do nosso sistema cognitivo com a força do nosso sistema imunológico.
Quando a nossa mente não funciona bem, é normal que se vire contra o próprio corpo e potencialize internamente qualquer ataque que tenha origem no exterior.
Neste sentido, a nossa mente é como um computador e o nosso sistema imunológico é o antivírus. Se o nosso computador estiver funcionando mal, vai desativar este antivírus, tornando as coisas muito mais fáceis para qualquer ameaça.
Além disso, este enfraquecimento ocorre não só durante o período do estresse, mas também quando este desaparece.
Que papel o nosso cérebro desempenha?
Não podemos nos esquecer que na base das nossas ideias e pensamentos existe uma correlação química em nosso sistema biológico. E uma estrutura fundamental dessa correlação é o hipotálamo, que desempenha um papel muito importante na nossa regulação hormonal.
A peculiaridade desta pequena estrutura é que ela é extremamente reativa perante os nossos pensamentos, estejam estes na forma de recordação, na forma de interpretação de estímulos presentes, ou na forma de antecipação de acontecimentos futuros.
“Assim, o nosso hipotálamo pode “despertar-nos” para estarmos preparados para agir mais depressa, assim como pode “relaxar-nos” para darmos espaço ao sonho ou potenciar a sensação de prazer”.
Que influência o nosso comportamento tem?
Até agora falamos de como a mente pode influenciar de forma direta o nosso corpo, mas não devemos nos esquecer de algo não menos importante: a influência que se produz através do nosso comportamento. Daremos um exemplo:
Todas as pessoas têm etapas na vida que não são especialmente alegres e motivadoras. De fato, apesar de não termos passado nunca por uma depressão, algumas das sensações que temos nestes períodos se assemelham às que se produzem nessa doença, embora habitualmente não sejam tão intensas nem tão continuadas.
Pois bem, nessas alturas, uma das coisas que fazemos é abandonar alguns aspectos do nosso cuidado pessoal. Neste sentido, um dos primeiros aspetos que geralmente é afetado é a dieta.
Sacrificamos aqueles alimentos que gostamos menos, e que são os mais saudáveis, por outros que nos proporcionam gustativamente maior prazer.
Por que fazemos isso?
É uma questão de equilíbrio.
Tentamos obter através do paladar o prazer que nos parece perdido em outros aspectos da nossa vida.
Infelizmente, aquela imagem de seriados da moça agarrada a um balde de sorvete depois de um término é real.
Em síntese, este é o nosso modo errado de fazer com que o hipotálamo proporcione a sensação de bem-estar perdida. É o nosso modo comportamental de evitar que apareçam pensamentos negativos. Um ato, sem dúvida, muito negativo para a saúde do nosso corpo.
Porém, a perda deste equilíbrio não é o único motivo para descuidarmos da dieta. Outra razão importante é que, com a tristeza, geralmente, aparece a falta de motivação.
As razões para nos cuidar, que antes pareciam tão importantes, podem agora passar para um segundo plano em relação àquilo que provocou a tristeza e fez com que permitíssemos que ela se instalasse em nós.
Ações que antes eram rotineiras, parecem ser mais difíceis agora. Então, o que fazemos é tentar simplificar a nossa rotina e, em vez de ir ao supermercado ao sair do trabalho, optamos por pedir uma pizza, pois isso requer menos esforço.
Leia também: Os 8 melhores alimentos para dormir tranquilamente
O outro lado da moeda
Até aqui falamos de como os pensamentos negativos nos debilitam, mas existe também o outro lado da moeda.
Vários estudos realizados com pessoas doentes demonstraram que uma atitude mental positiva fez com que seus prognósticos melhorassem significativamente.
Isso pode ser devido a uma atuação direta dos mesmos através da bioquímica corporal ou mediante a ação de outros instrumentos de controle da doença, como a realização de exercícios físicos ou o cuidado com a alimentação.
Dessa forma, encorajamos você a cuidar o máximo possível de sua saúde mental pois, assim, você cuidará do seu corpo. Sem dúvida, vale a pena!
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Cohen, S., Murphy, M. L. M., & Prather, A. A. (2019). Ten Surprising Facts About Stressful Life Events and Disease Risk. Annual Review of Psychology, 70(1), 577–597. https://doi.org/10.1146/annurev-psych-010418-102857
- Eagleson, C., Hayes, S., Mathews, A., Perman, G., & Hirsch, C. R. (2016). The power of positive thinking: Pathological worry is reduced by thought replacement in Generalized Anxiety Disorder. Behaviour Research and Therapy, 78, 13–18. https://doi.org/10.1016/j.brat.2015.12.017
- Gustavon, D. E., Du Pont, A., Whisman, M. A., & Miyake, A. (2018). Evidence for Transdiagnostic Repetitive Negative Thinking and Its Association with Rumination, Worry, and Depression and Anxiety Symptoms: A Commonality Analysis. Collabra: Psychology, 4(1), 13. https://doi.org/10.1525/collabra.128
- Srivastava, R. A. K. (2018). Life-style-induced metabolic derangement and epigenetic changes promote diabetes and oxidative stress leading to NASH and atherosclerosis severity. Journal of Diabetes & Metabolic Disorders, 17(2), 381–391. https://doi.org/10.1007/s40200-018-0378-y
- Steptoe, A., Deaton, A., & Stone, A. A. (2015). Subjective wellbeing, health, and ageing. The Lancet, 385(9968), 640–648. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(13)61489-0
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.