Descubra o kintsukuroi técnica japonesa para reparar cerâmica quebrada que lhe fará refletir
Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater
A cerâmica quebrada se parece muito com os fragmentos deslocados de nossas vidas. Hoje aprendemos sobre o kintsukuroi.
Custa muito uni-los porque, após o impacto da decepção, da perda ou da traição, todos nos sentimos como uma xícara ou um prato quebrado.
Mas essa peça fragmentada pode voltar a recuperar sua beleza se a consertarmos de modo adequado. A maioria de nós repararia essa tigela aplicando a clássica cola super rápida.
No entanto, os japoneses levam muito tempo praticando uma arte que, além de ser uma técnica para salvar a cerâmica, é toda uma filosofia com a qual aprender.
Falamos da kintsukuroi, ou reparação em ouro: uma estratégia maravilhosa através da qual criar um novo objeto, mais bonito, forte e reflexo de uma dimensão psicológica que todos conhecemos: a resiliência.
Kintsukuroi: A arte de reparar a cerâmica quebrada
A quebra de um objeto conta uma história. Talvez, esse prato que caiu no chão por um descuido, por estarmos com a cabeça em outro lugar, longe, muito longe de nossa realidade.
- Pode ser que essa peça de nosso jogo de chá tenha se quebrado em uma reunião com amigos, enquanto ríamos, enquanto compartilhávamos um bom momento de felicidade.
- Cada entalhe na porcelana faz referência a um momento de nossa vida. Jogá-la no lixo é, sem dúvida, algo desnecessário. Seria como abandonar um ferido, como nos negar a sanar um mal de amor…
Tudo isso são reflexões que se encaixam nessa filosofia nipônica do kintsukuroi, que já é conhecida no mundo inteiro e que tanto agrada as pessoas.
Vejamos agora mais detalhes.
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Origem do kintsukuroi
Para compreender esta técnica tão especial, devemos viajar para o final do século 15, à época dos Xoguns.
- Ashikaga Yoshimasa foi o xogum que deu início a esta tradição milenar. Depois que suas xícaras de chá favoritas se romperam, decidiu enviá-las à China, para serem reparadas.
- Pouco tempo depois, as xícaras foram devolvidas com alguns grampos muito chamativos de metal que prejudicavam toda a beleza dos dois pedaços de cerâmica.
- O xogum ficou muito incomodado com o resultado, e pediu a seus artesãos que dessem uma solução àquilo.
- Eles fizeram isso, limitaram-se a selar os pedaços quebrados com uma pasta em ouro para criar, assim, um objeto diferente, mais bonito e mais poderoso.
O xogum, então, ficou encantado.
Como realizar o kintsukuroi com nossa porcelana quebrada
Estamos certos de que, neste ponto, você já foi cativado pela técnica do kintsukuroi.
Se você se animar e se gostar e quiser experimentar com algumas xícaras ou pratos que podem ter quebrado em algum momento, propomos que você realize esta técnica que, na realidade, é mais simples do que pensamos.
Do que preciso
- Massa para cerâmica
- Pó de ouro sintético (você pode usar, inclusive, purpurina dourada)
- A peça quebrada de cerâmica
- Um furador
- Uma espátula
Como fazer
Começaremos misturando a massa para cerâmica com o pó de ouro sintético. Você pode fazer isso sobre um pedaço de papelão, ou em um recipiente específico.
- A quantidade vai depender sempre dos pedaços que temos para reparar e unir.
- Com a ajuda de um palito ou espátula, aplicaremos essa combinação nas bordas das peças quebradas. Em seguida, junte-as e pressione durante alguns instantes.
- No momento, você verá como a linha em ouro envolve essa cicatriz, essa ferida que agora conforma um objeto muito mais bonito e único ao mesmo tempo.
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Por último, basta deixar a peça secar por algumas horas e pronto.
A beleza está na história que o objeto conta, não no objeto em si
O kintsukuroi pode ser aplicado perfeitamente à nossa própria vida.
A resiliência é um “tendão psíquico” que atua quase como essa massa dourada que une nossos pedaços quebrados, que nos empurra a selar as feridas e, por sua vez, aprender com elas.
Longe de nos envergonharmos pelos erros cometidos, pelos fracassos ou sonhos que se desvaneceram, temos que ser capazes de ver a beleza nessa linha da vida que, de algum modo, nos ajudou a sermos o que somos agora: pessoas mais maduras.
Criaturas mais sábias que aprenderam com a adversidade para “brilhar”.
A cerâmica quebrada que foi reparada através do kintsukuroi tem, além disso, uma faculdade maravilhosa: é mais forte, as xícaras e os pratos já não se rompem com tanta facilidade.
Ainda assim, as pessoas que são sábias em resiliência e que também selaram suas feridas com ouro, já não são tão frágeis como antes. É algo que, sem dúvida, todos aprendemos com o tempo.
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- Piña López Julio Alfonso. Un análisis crítico del concepto de resiliencia en psicología. Anal. Psicol. [Internet]. 2015 [consultado el 22 de julio de 2022]; 31(3): 751-758. Disponible en: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0212-97282015000300001&lng=es. https://dx.doi.org/10.6018/analesps.31.3.185631.
- Santini C. Kintsugi. El arte de la resiliencia. España: Libros Cúpula; 2019.
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