Caminhar modifica seu cérebro quando você sofre de depressão
Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater
Quando você sofre de depressão, seu mundo tem um outro ritmo. Um cérebro que atravessa este processo experimenta um nível muito menor de atividade e há menos conexões neuronais.
Assim como nos explica um estudo realizado pela Universidade de Illinois (Estados Unidos), a amígdala, a estrutura que atua quase como um sentinela de nossas emoções, caracteriza-se por funcionar em um nível muito mais baixo durante os estados depressivos.
Todas estas características têm uma finalidade muito concreta: obrigar-nos a nos centrar em nós mesmos. Tudo funciona na mínima capacidade para que esta introspecção nos permita analisar este mundo interior, compreendê-lo e resolvê-lo.
No entanto, conseguir fazer isso nunca é fácil. Uma depressão não se cura como quem acaba com uma gripe ou infecção. Para superar esta doença é preciso abordar o problema a partir de diversos enfoques.
Em primeiro lugar, se nosso médico assim decidir, seguiremos um tratamento farmacológico, complementando com uma terapia adequada.
Além disso, atualmente os neurologistas focam neste processo falando do que se conhece como neuroplasticidade neuronal.
Experimentar novos estímulos e novas sensações intensas e significativas pode “reativar” nossa conexão neuronal. Algo tão fácil quanto sair para caminhar todos os dias por um cenário natural pode ser muito terapêutico.
A seguir oferecemos todos os dados. Vale a pena levá-los em conta.
Se você sofre de depressão, não se esqueça: saia para caminhar
Scott Langenecker, psiquiatra da Universidade de Illinois, explica que um dos fatores que costumam desencadear uma depressão é o “pensamento ruminante”.
As pessoas passam por épocas em que ficam obcecadas com determinadas ideias negativas e fatalistas.
É como uma melodia incessante. A estes pensamentos negativos vamos acrescentando outros até que geramos um processo emocional tão fatalista que caímos em nosso próprio buraco negro.
Atualmente, muitos de nós vivem em cidades. Além disso, nossa área de movimento é limitada.
A rotina, o fato de vivermos em espaços pequenos ou, inclusive, o fato de nos relacionarmos sempre com as mesmas pessoas, pode intensificar mais ainda o “pensamento ruminante”.
Tanto é assim que a depressão é muito mais comum em contextos urbanos do que nas cidades menores em que as pessoas estão em contato com a natureza.
- É importante ressaltar que não se trata de largar tudo e ir viver em uma montanha. Somente temos que buscar algumas horas para nós mesmos nas quais podemos simplesmente nos conectarmos com a natureza.
- Se você sofre de depressão, saia para caminhar todos os dias em um parque, em um bosque ou em uma praia. A alguma área verde onde exista uma área preparada para andar com facilidade.
O que vamos notar após alguns dias é o seguinte:
Nosso estado de ânimo muda
Quando fazemos exercícios – de fato, basta caminhar durante meia hora – nosso cérebro libera endorfinas.
- As endorfinas interagem com os receptores no cérebro reduzindo a percepção da tristeza, da negatividade e, inclusive, da dor.
- Conforme os neurologistas nos explicam, as endorfinas nos oferecem uma sensação de prazer, que muitos descrevem como “a euforia do corredor”.
- É uma sensação positiva e energizante que rompe com o pensamento obsessivo e fatalista. Isso nos ajuda a relativizar muitas coisas.
Favorece a conectividade neuronal
Falamos antes sobre a desconexão neuronal associada à depressão. É interessante saber que o exercício físico moderado, mas constante, melhora o rendimento de nosso cérebro.
Algo tão maravilhoso pode ser conseguido de diversas formas.
- Em primeiro lugar aparece algo chamado “neurogênese”, ou seja, são criadas novas células cerebrais.
- O ritmo cardíaco se regula, o cérebro recebe mais oxigênio e, além disso, favorecemos a liberação de neuroquímicos mais prazerosos, mais positivos e motivantes.
- Toda esta “química” interna cria novas células e favorece conexões neuronais mais fortes.
Estes benefícios não serão notados no primeiro dia nem no segundo. Precisamos ser constantes nestas rotinas diárias de exercícios.
Basta sair para caminhar todos os dias durante meia hora, sendo conscientes de que é “um instante somente para nós”.
Um momento de prazer.
Recomendamos a leitura: A solidão procurada é prazerosa
Caminhar potencializa nossa criatividade
É possível que você se pergunte de que maneira a criatividade pode ajudá-lo quando você sofre de depressão. Acreditemos ou não, esta capacidade é incrivelmente poderosa para favorecer a melhoria, para ver um caminho mais positivo em nossa recuperação.
Caminhar relaxa. Cada passo que você dá e cada punhado de oxigênio que você recebe estimulam seu cérebro.
Nestes momentos de conexão com si mesmo e de bem-estar, conseguimos relativizar muitas coisas. Além disso, pensamos em outras novas.
Todo pensamento novo e positivo é uma forma de ir rompendo as pequenas cadeias que nos aprisionam em nossa prisão depressiva.
Leia também: A depressão pode ser curada praticando ioga
É muito possível que, se hoje você sair para caminhar, tenha outra ideia. Esta criatividade não precisa estar relacionada a algo artístico. Falamos da criatividade pessoal que nos ajuda a sair de nossos abismos.
Superar uma depressão não é fácil. No entanto, um dia surge uma expectativa nova, um projeto, um desejo e, mais tarde, uma decisão que muda tudo.
Vale a pena colocar isso em prática. Se você sofre de depressão, saia para caminhar e permita que seu cérebro vá se curando pouco a pouco.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
-
Jacobs, R. H., Barba, A., Gowins, J. R., Klumpp, H., Jenkins, L. M., Mickey, B. J., … & Hsu, D. T. (2016). Decoupling of the amygdala to other salience network regions in adolescent-onset recurrent major depressive disorder. Psychological medicine, 46(5), 1055-1067.
-
Stathopoulou, G., Powers, M. B., Berry, A. C., Smits, J. A., & Otto, M. W. (2006). Exercise interventions for mental health: a quantitative and qualitative review. Clinical psychology: Science and practice, 13(2), 179-193.
-
Robertson, R., Robertson, A., Jepson, R., & Maxwell, M. (2012). Walking for depression or depressive symptoms: a systematic review and meta-analysis. Mental health and physical activity, 5(1), 66-75.
-
Boecker, H., Sprenger, T., Spilker, M. E., Henriksen, G., Koppenhoefer, M., Wagner, K. J., … & Tolle, T. R. (2008). The runner’s high: opioidergic mechanisms in the human brain. Cerebral cortex, 18(11), 2523-2531.
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.