Os brinquedos não entendem de gênero: “Meninos devem ser incentivados a brincar de boneca”, defende psicóloga
Os brinquedos representam elementos de práticas sociais, assim como ideologias e sistemas de valores sociais.
“Não aceitar ver o filho brincar de boneca é rejeitar o papel do homem cuidador do seu próprio filho”, diz a psicóloga Luana Menezes, especialista em psicologia infantil.
A psicóloga Luana Menezes, especialista em psicologia infantil, lançou recentemente o livro Eu só quero brincar, que trata sobre a masculinidade saudável, tema ainda pouco discutido entre as famílias. Segundo ela, os pais não devem impedir que seus filhos brinquem de bonecas. “Não aceitar ver o filho brincar de boneca é rejeitar o papel do homem cuidador do seu próprio filho”, ela explica.
Em entrevista, a profissional explicou que seu filho foi a inspiração para escrever um livro infantil sobre machismo tóxico.
“Ao me preocupar com seu desenvolvimento psicossocial e emocional, passei a vivenciar, como mãe, como sofremos com a cultura do machismo tóxico, principalmente na tratativa de meninos, que recebem dessa cultura a crença desde cedo de que devem ser fortes, viris, provedores, protetores”.
O livro acompanha a história de Cadu, um menino que não entende os motivos pelos quais seu pai não permite que ele brinque de boneca. “Ao internalizar os valores do patriarcado, o pai se tornou um homem com dificuldade de se expressar, com vergonha de chorar, sem saber como estar próximo afetivamente da família. Ou seja, a sensibilidade reprimida causa sérios problemas emocionais”, explica a autora.
De acordo com a psicóloga, a obra reflete sobre a necessidade da desconstrução dos estereótipos para os adultos, que passam a sua visão e crenças para a criança.
“A criança é livre de preconceitos e estereótipos, que vão sendo construídos a partir do que ela ouve. No livro, trato o estereótipo de gênero, preconceito generalizado sobre características que homens e mulheres possuem ou deveriam possuir ou das funções sociais que desempenham.”
Para a autora, há estereótipos masculinos que precisam ser eliminados.
“O homem que deve ser forte e que não pode chorar; ser provedor, o que o afasta de si mesmo afetivamente gerando prejuízos nas suas relações interpessoais. Não aceitar ver o filho brincar de boneca é rejeitar o papel do homem cuidador do seu próprio filho. Se é aceitável a menina brincar de boneca, é porque se entende socialmente que esse lugar é apenas da mulher”, defendeu a especialista.
A profissional também definiu o que seria a “masculinidade saudável” e explicou como esse conceito pode ser passado para as crianças.
“A masculinidade saudável é tudo o que vai em oposição ao machismo tóxico, que herdamos do patriarcado, que entende que o homem deve ser dominante e autoritário diante da família e se manter tendo privilégios sociais, políticos e de liderança. Essa perspectiva pode ser passada por meio da leitura, da busca por conhecimento e do diálogo com os filhos a partir desse olhar respeitoso e igualitário a partir da escola.”
Os brinquedos não entendem de gênero, mas desde pequenos nosso desejo é deformado para que nos adaptemos a uma categoria ou outra, dependendo se nascemos menina ou menino.
Segundo Luana Menezes, nossa sociedade está intoxicada pelo machismo e sexismo, que associa a sensibilidade a uma característica feminina, portanto, prolifera a irreal possibilidade do menino de se tornar homossexual somente por brincar de boneca.
“Enquanto isso, vejo a necessidade de informar que a sensibilidade é característica de quem é humano, independentemente de gênero. Devemos ter a liberdade de sermos quem somos e sermos respeitados por isso, e não julgados. A brincadeira deve ser livre, é o retrato do que se vive e o desejo do que se quer viver e o desejo vem de dentro. E, sim, menino pode sonhar em ser pai e menina pode sonhar em ter seu carro.”
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