Psilocibina contra a depressão: quais são seus efeitos?
Os efeitos da psilocibina contra a depressão têm sido objeto de pesquisa nos últimos anos. Este composto psicodélico está presente em cogumelos mágicos (Psilocybe cubensis), dos quais existem cerca de 100 espécies.
Um estudo recente publicado na revista Nature Medicine sugere que esta substância tem potencial terapêutico contra os sintomas da depressão maior e outros transtornos do humor. No entanto, seu uso é limitado por questões legais e de segurança. Contaremos todos os detalhes abaixo.
O que é psilocibina?
A psilocibina é um dos principais compostos dos cogumelos mágicos, juntamente com a psilocina. É classificada como “psicodélica”, pois é responsável por causar alucinações e outros efeitos psicoativos após seu consumo.
Além disso, é uma substância à qual são atribuídas propriedades terapêuticas devido ao seu efeito estimulante sobre o cérebro. E embora seu uso venha de tradições indígenas, nos últimos anos tem sido tema de interesse para pesquisas científicas.
Dessa forma, os pesquisadores observaram que sua assimilação contribui para a diminuição da atividade no córtex pré-frontal medial e no córtex cingulado posterior, o que contribui para o controle dos estados depressivos.
Na medicina ancestral indígena, os cogumelos mágicos com psilocibina se secavam antes do uso. Em seguida, eram ingeridos em misturas com alimentos ou bebidas. Seus efeitos demoram até 30 minutos para começar e duram até 6 horas.
Tal como acontece com outros tipos de alucinógenos, seu uso clínico é limitado segundo as leis de cada pais. De fato, sua aplicação médica foi reprovada por muito tempo como tratamento nos Estados Unidos.
Apesar disso, nos últimos anos ressurgiram estudos sobre seus efeitos farmacológicos, cujos resultados vinculam seu uso a ações positivas contra depressão, ansiedade, anorexia, transtorno obsessivo-compulsivo e várias formas de abuso de substâncias.
Devido a evidências coletadas em vários ensaios clínicos, a Food and Drug Administration (FDA) designou a psilocibina como uma “terapia inovadora” para depressão grave.
Veja: Novo antidepressivo promete agir em apenas duas horas!
Pesquisa sobre psilocibina contra a depressão
O potencial da psilocibina como adjuvante no campo da psiquiatria vem sendo estudado desde a década de 1950. Desde então, pesquisadores observaram que essa substância possui qualidades antidepressivas, podendo auxiliar no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos.
As limitações para realizar pesquisas começaram a surgir em 1970, depois que a substância foi incluída no Anexo 1 da Lei de Drogas e Substâncias Controladas. Isso limitou o financiamento federal para pesquisa, impedindo por muito tempo os ensaios.
Mas depois de uma série de experimentos realizados em 2012, o pesquisador Robin Carhart-Harris e sua equipe do Imperial College de Londres voltaram a se interessar em avaliar o potencial terapêutico da psilocibina. Assim, em 2016, foram realizados ensaios clínicos promissores.
O estudo relatado na revista The Lancet Psychiatry relatou que duas doses de psilocibina, juntamente com a terapia psiquiátrica, podem diminuir significativamente os sintomas de depressão. Também foi encontrado que pode causar melhorias acentuadas e sustentadas na ansiedade e anedonia.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram os efeitos da psilocibina em um grupo de 12 pacientes com depressão maior (seis homens e seis mulheres). Eles receberam doses orais da substância, nos valores de 10 mg e 25 mg, com intervalo de 7 dias. Além disso, apoio psicológico foi fornecido antes, durante e após cada ingestão. Os sintomas depressivos foram avaliados entre 1 semana e 3 meses após o tratamento.
Todos os pacientes exibiram uma redução considerável nos sintomas depressivos.
Estudos recentes
Os estudos mais recentes sobre a psilocibina contra a depressão confirmam seu potencial como antidepressivo. Em uma investigação publicada no Journal of Psychopharmacology, foi relatado que um tratamento com psilocibina favorece o alívio da depressão maior, com efeitos que duram até 12 meses.
Por sua vez, através do New England Journal of Medicine, foi revelado que uma única dose de uma versão sintética da psilocibina foi útil no controle dos sintomas depressivos em pessoas com uma versão resistente ao tratamento da doença. Este último ocorre quando não há resposta aos efeitos dos antidepressivos usuais.
Neste último ensaio, participaram 223 pacientes, nos quais foram utilizadas as doses de 1 miligrama, 10 miligramas e 25 miligramas. No final, a dose mais forte, 25 miligramas, foi considerada a mais eficaz, durando até 3 meses.
Riscos e efeitos colaterais da psilocibina
Na maioria dos adultos saudáveis, a psilocibina foi bem tolerada quando usada em ambientes controlados, em uma ou duas doses. Mesmo assim, não se deve ignorar que esta substância pode induzir vários efeitos colaterais. Estes podem ser leves ou moderados e incluem o seguinte:
- Náusea.
- Paranóia.
- Alucinações.
- Dor de cabeça.
- Confusão e medo.
- Fraqueza muscular.
- Pressão arterial alta.
- Falta de coordenação.
- Ritmo cardíaco alterado.
Seu uso não é recomendado em pacientes com doenças mentais, como esquizofrenia, pois teme-se que possa exacerbar os sintomas. Também não deve ser tomado simultaneamente com drogas serotoninérgicas e outras drogas estimulantes.
Por outro lado, o uso recreativo de cogumelos mágicos com psilocibina deve ser evitado. Isso porque a quantidade dessa substância pode variar em cada espécie, o que dificulta saber a intensidade e a duração dos efeitos finais.
Como não ocorre em um ambiente controlado, esse tipo de ingestão aumenta as chances de reações indesejadas.
Isso sem falar que esses cogumelos têm características semelhantes aos cogumelos venenosos, o que aumenta o risco de envenenamento e consequências mais graves, como danos aos órgãos ou até a morte.
O que lembrar sobre a terapia com psilocibina?
O potencial antidepressivo da terapia com psilocibina foi comprovado por alguns ensaios clínicos recentes. Mesmo assim, deve-se levar em conta que se trata de uma substância cujos efeitos ainda estão sendo investigados. Não há evidências suficientes para considerá-lo um tratamento de primeira escolha para a depressão.
Atualmente, algumas empresas estão desenvolvendo formas comerciais de psilocibina. E embora alguns estados dos EUA estejam legalizando seu uso terapêutico, a substância permanece no Anexo I da Lei de Substâncias Controladas.
Dito isto, os especialistas alertam que os pacientes com depressão não devem se automedicar com psilocibina por meio do uso de cogumelos mágicos ou suplementos. Na ausência de controle de dose, existe um alto risco de efeitos indesejados.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Bienemann B, Ruschel NS, Campos ML, Negreiros MA, Mograbi DC. Self-reported negative outcomes of psilocybin users: A quantitative textual analysis. PLoS One. 2020 Feb 21;15(2):e0229067. doi: 10.1371/journal.pone.0229067. PMID: 32084160; PMCID: PMC7034876.
- Carhart-Harris, R. L., Bolstridge, M., Rucker, J., Day, C. M. J., Erritzoe, D., Kaelen, M., Bloomfield, M., Rickard, J. A., Forbes, B., Feilding, A., Taylor, D., Pilling, S., Curran, V. H., & Nutt, D. J. (2016). Psilocybin with psychological support for treatment-resistant depression: an open-label feasibility study. In The Lancet Psychiatry (Vol. 3, Issue 7, pp. 619–627). Elsevier BV. https://doi.org/10.1016/s2215-0366(16)30065-7
- Daws, R.E., Timmermann, C., Giribaldi, B. et al. Increased global integration in the brain after psilocybin therapy for depression. Nat Med 28, 844–851 (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-01744-z
-
Eisenstein M. The psychedelic escape from depression. Nature. 2022 Sep;609(7929):S87-S89. doi: 10.1038/d41586-022-02872-9. PMID: 36171370.
- Goodwin GM, Aaronson ST, Alvarez O, Arden PC, Baker A, Bennett JC, Bird C, Blom RE, Brennan C, Brusch D, Burke L, Campbell-Coker K, Carhart-Harris R, Cattell J, Daniel A, DeBattista C, Dunlop BW, Eisen K, Feifel D, Forbes M, Haumann HM, Hellerstein DJ, Hoppe AI, Husain MI, Jelen LA, Kamphuis J, Kawasaki J, Kelly JR, Key RE, Kishon R, Knatz Peck S, Knight G, Koolen MHB, Lean M, Licht RW, Maples-Keller JL, Mars J, Marwood L, McElhiney MC, Miller TL, Mirow A, Mistry S, Mletzko-Crowe T, Modlin LN, Nielsen RE, Nielson EM, Offerhaus SR, O’Keane V, Páleníček T, Printz D, Rademaker MC, van Reemst A, Reinholdt F, Repantis D, Rucker J, Rudow S, Ruffell S, Rush AJ, Schoevers RA, Seynaeve M, Shao S, Soares JC, Somers M, Stansfield SC, Sterling D, Strockis A, Tsai J, Visser L, Wahba M, Williams S, Young AH, Ywema P, Zisook S, Malievskaia E. Single-Dose Psilocybin for a Treatment-Resistant Episode of Major Depression. N Engl J Med. 2022 Nov 3;387(18):1637-1648. doi: 10.1056/NEJMoa2206443. PMID: 36322843.
-
Gukasyan N, Davis AK, Barrett FS, Cosimano MP, Sepeda ND, Johnson MW, Griffiths RR. Efficacy and safety of psilocybin-assisted treatment for major depressive disorder: Prospective 12-month follow-up. J Psychopharmacol. 2022 Feb;36(2):151-158. doi: 10.1177/02698811211073759. PMID: 35166158; PMCID: PMC8864328.
- Lowe H, Toyang N, Steele B, Valentine H, Grant J, Ali A, Ngwa W, Gordon L. The Therapeutic Potential of Psilocybin. Molecules. 2021 May 15;26(10):2948. doi: 10.3390/molecules26102948. PMID: 34063505; PMCID: PMC8156539.
- Carhart-Harris, R., Goodwin M., (2017). The Therapeutic Potential of Psychedelic Drugs: Past, Present, and Future. Neuropsychopharmacology. Doi: 10.1038/npp.2017.84
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.