Mpox: por que a OMS mudou o nome da varíola do macaco?

Em nota oficial, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu o novo nome da doença. Nós dizemos o que isso significa e por que essa modificação é importante.
Mpox: por que a OMS mudou o nome da varíola do macaco?
Leonardo Biolatto

Escrito e verificado por médico Leonardo Biolatto.

Última atualização: 14 fevereiro, 2023

Oficialmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o novo nome da varíola do macaco é mpox. Após longas deliberações para obter uma nova denominação sem estigmas, está dado o veredicto dos especialistas.

Organizações não governamentais, alguns Estados e ativistas tanto da África quanto da comunidade LGBTIQ+ tinham solicitado a renomeação da patologia. O nome anterior estava associado a rótulos que poderiam significar discriminação e uma visão tendenciosa da história natural dessa doença.

As diretrizes da OMS para nomear doenças só apareceram em 2015, várias décadas após a descoberta do vírus da varíola dos macacos. Portanto, essa atualização era necessária.

A história da mudança de nome da doença

Ao colocar um título para um vírus ou uma patologia, a OMS sugere considerar as suscetibilidades. Ou seja, procurar não escolher títulos que possam afetar uma etnia, uma nação, uma atividade econômica, etc.

Nesse sentido, mpox seria uma mudança prudente para que a “varíola do macaco” não seja associada apenas à África. É possível que a antiga denominação aumente os atos de discriminação contra os nativos dos povos africanos, acusando-os de serem culpados pela propagação de uma doença.

Foi em junho de 2022 que começou a consulta especializada para obtenção do novo nome. Essa consulta surgiu por iniciativa do mesmo grupo de especialistas e não por orientação de um órgão governamental.

Em uma postagem na PLoS Biology, uma longa lista de profissionais de diversas áreas especificou que havia um problema com o nome da doença. Chegaram a afirmar que a própria classificação do vírus causal deveria ser alterada, optando por siglas e números. Algo semelhante ao exemplo paradigmático do SARS-CoV-2.

No contexto do atual surto global, a referência contínua e a nomenclatura de que esse vírus é africano não é apenas imprecisa, mas também discriminatória e estigmatizante.[/ citação atômica]

Vírus.
Os nomes dos vírus estão sempre mudando, pois as classificações são frequentemente revisadas.

A declaração da OMS

A Organização Mundial da Saúde esteve de acordo com a proposta dos cientistas. Os membros e funcionários da organização também lembraram que desde 2015 procura-se não fazer referências a lugares específicos nos nomes das doenças.

Assim, o boletim informativo da OMS de 28 de novembro finalmente esclarece a mudança de varíola do macaco para mpox com as seguintes características:

  • Mpox será a designação de rotina em inglês. Como se trata de uma sigla legível, funcionará para a maioria dos outros idiomas.
  • O termo monkeypox continuará a ser usado em inglês e varíola do macaco em português por um período de 1 ano. Isso é feito para evitar confusão na população em geral.
  • Mpox será adicionado à lista oficial de patologias da OMS conhecida como Classificação Internacional de Doenças ou CID. Por enquanto será sinônimo, mas quando sair a próxima versão do CID, que é a de número 11, só mpox aparecerá como opção.

Por que era necessário mudar o nome da varíola do macaco?

A nova denominação de mpox para a varíola do macaco faz parte de uma tentativa internacional de evitar o estigma associado às doenças. Pretende-se também melhorar a aceitação da população às vacinas que são desenvolvidas para esse vírus.

Embora a OMS seja responsável por nomear as doenças, os vírus são nomeados pelo Comitê Internacional para a Taxonomia de Vírus. De fato, esta organização vinha trabalhando há meses na reclassificação da família de vírus à qual pertence o mpox.

O processo de mudança de denominação se acelerou quando começou a transmissão mais acelerada do vírus no mundo. No início de maio de 2022, não havia casos relatados oficialmente. No entanto, em 12 de agosto de 2022, foi atingido um pico de infecções: 1.075 casos confirmados no mesmo dia.

Como os pacientes não eram mais exclusivos da África e a circulação viral foi detectada na Europa e na América, os alertas dispararam. Atualmente, o Brasil e a América do Norte acumulam o maior número de infecções provenientes desse surto.

Embora não possa ser chamada de pandemia, são necessárias medidas preventivas mais intensas.
Vacina contra a varíola dos macacos.
A vacinação é prioridade em alguns países, mas em outros a possibilidade de ter doses suficientes nem sequer está à vista.

O novo nome no plano de vacinação

Um dos motivos para mudar o nome de varíola do macaco para mpox foi a vacinação. Os Estados Unidos estão iniciando uma campanha nacional de imunização para a população em geral com a vacina JYNNEOS ®, aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) para uso emergencial com uma dose menor. Essa estratégia facilita a distribuição dos frascos, pois haveria mais disponibilidade por utilizar menos mililitros com cada pessoa.

Na Espanha, o plano de vacinação cumpre as orientações da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e centra-se em pessoas com menos de 45 anos que tenham práticas sexuais de alto risco de contágio. Essas pessoas recebem uma dose pré-exposição. Enquanto isso, as doses pós-exposição são reservadas para aqueles que são contatos próximos de pessoas com caso confirmado.

O nome mpox serviria como uma ajuda para as campanhas globais de imunização. O novo nome pode facilitar o acesso e reduzir a rejeição de parte da população às doses oferecidas.

Como o surto de mpox ou varíola do macaco continuará?

O surto que começou em maio de 2022, e que ainda está em curso no mundo, pode diminuir graças à vacinação. É possível que a curva de contágio esteja diminuindo, mas as notórias diferenças entre os países denotam a necessidade de um plano de imunização mais equitativo.

A mudança de nome de varíola do macaco para mpox visa aumentar a acessibilidade às vacinas. Do mesmo modo, reduziria a associação com estigmas e discriminações no marco da epidemia.

Com a experiência anterior da pandemia do coronavírus, essa situação parece ser tratada com mais ferramentas. As organizações respondem mais rapidamente e a aprovação dos tratamentos não tardou.


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