Miriam Rodríguez, a mãe que perseguiu os assassinos de sua filha, um por um, por todo o México

Miriam Rodríguez caçou, um por um, assassinos da filha para levá-los à justiça. Infelizmente, ela foi morta a tiros dentro de casa, na cidade de San Fernando, estado de Tamaulipas, México, na data em que se comemora o Dia das Mães nesse país.
Miriam Rodríguez, a mãe que perseguiu os assassinos de sua filha, um por um, por todo o México

Escrito por Equipe Editorial

Última atualização: 16 fevereiro, 2023

Miriam Rodríguez ficou completamente abalada quando soube que sua filha, Karen, havia sido sequestrada. Moradora de San Fernando, no México, ela sabia que sua filha poderia ter caído nas mãos do cartel Los Zetas, um dos cartéis de drogas mais perigosos do país.

Miriam Rodríguez

Miriam já suspeitava quais criminosos poderiam ter pegado sua filha. Então, ela se disfarçou de profissional de saúde e foi à localidade do cartel dizendo que estava realizando uma pesquisa na área.

Por meio dessa investigação, Miriam conseguiu reunir informações suficientes para a polícia prender o homem que ela suspeitava estar envolvido no sequestro de sua filha.

De fato, a mãe foi atrás do homem certo e ele foi preso pela polícia. Em seus depoimentos, o homem acabou entregando outros nomes e revelou o que Miriam mais temia: sua filha Karen estava morta.

Miriam tornou a sua missão capturar cada um dos assassinos da jovem

Desde 2014, ela vinha rastreando as pessoas responsáveis pelo sequestro e assassinato de sua filha de 20 anos, Karen. Metade deles já estava na prisão, não porque as autoridades tivessem desvendado o caso, mas porque ela os perseguira por conta própria com um ímpeto meticuloso.

Miriam havia se tornado uma mulher admirada na cidade por sua coragem e persistência. Por outro lado, ela se colocou em uma posição seriamente perigosa.

Ela cortou e tingiu os cabelos e se disfarçou de pesquisadora, de profissional de saúde e de funcionária eleitoral para descobrir nomes e endereços. Ela inventou desculpas para conhecer familiares, avós e primos desavisados dos assassinos que lhe passaram detalhes importantes, por menores que fossem. Ela anotava tudo e enfiava numa mochila preta, construindo sua investigação e caçando os criminosos, um por um.

Ela conhecia seus hábitos, seus amigos, sua infância, as cidades onde haviam nascido. Além disso, sabia que, um deles, por exemplo, era florista e vendia flores na rua antes de entrar para o cartel Zeta e se envolver no sequestro de sua filha. Recentemente, o criminoso estava tentando passar despercebido, de volta ao velho trabalho, vendendo rosas para sobreviver.

Em uma de suas caçadas, por exemplo, ela simplesmente vestiu um sobretudo sobre o pijama, pôs um boné de beisebol sobre o cabelo ruivo e botou a arma na bolsa, saindo em direção à fronteira para encontrar o florista. Na ponte, perambulou entre os vendedores em busca de carrinhos de flores. Mas, naquele dia, ele estava vendendo óculos de sol. Quando ela finalmente o encontrou, ficou muito alterada e chegou perto demais. Ele a reconheceu e saiu correndo.

O homem tentou fugir pela estreita passagem de pedestres, na esperança de escapar. Rodríguez, na época com 56 anos, o agarrou pela camisa e o empurrou contra o parapeito da ponte. Botou o cano da arma nas costas dele.

“Se você se mexer, eu atiro em você”, ela disse, de acordo com membros da família que sabiam de seus esforços para capturar o florista naquele dia. Ela o manteve ali por quase uma hora, esperando que a polícia chegasse para fazer a prisão.

Em três anos, Rodríguez capturou quase todos os membros vivos do bando que sequestrara sua filha para exigir resgate, uma galeria de criminosos que tentavam começar novas vidas – como cristão renascido, motorista de táxi, vendedor de carros, babá.

De fato, ela foi fundamental para prender dez pessoas, uma caçada furiosa por justiça que a deixou famosa mas vulnerável. Ninguém jamais desafiara o crime organizado dessa maneira, muito menos colocara seus membros na prisão.

Ela pediu escolta armada ao governo, temendo que o cartel finalmente quisesse dar um basta às suas investigações.

Morte no Dia das Mães

No Dia das Mães de 2017, semanas depois de ter perseguido um de seus últimos alvos, Miriam foi baleada e morta na frente de sua casa. Seu marido, que estava assistindo à televisão dentro do imóvel, a encontrou caída na rua, o rosto no chão, a mão enfiada na bolsa, ao lado da pistola.

Ela já tinha dito, em uma entrevista anterior, que estava ciente desse risco e disposta a morrer em nome da justiça pela filha. “Não me importo se eles me matarem. Morri no dia em que mataram minha filha.”

O legado deixado por Miriam continua a ser seguido pelo filho, Luiz, que sempre esteve ao seu lado nas investigações.

Por meio do Coletivo de Ativistas de Pessoas Desaparecidas de San Fernando, ele trabalha para garantir que as famílias de outras vítimas do cartel tenham o encerramento e a justiça que merecem.

Para muitos na cidade de San Fernando, no norte do país, sua história representa muito do que está errado no México – e diz muito sobre seu povo, sua perseverança em face da indiferença do governo. O país está tão dilacerado pela violência e pela impunidade que uma mãe enlutada teve de solucionar sozinha o desaparecimento de sua filha. E morreu violentamente por causa disso.


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