Desapego não significa que você não deve possuir nada, mas que nada pode prendê-lo

Pode-se dizer que o desapego consiste em não precisar de nada. Não estamos dizendo que as coisas não nos fazem falta: mas basta não nos tornarmos obsessivos e sermos felizes com aquilo que já temos.
Desapego não significa que você não deve possuir nada, mas que nada pode prendê-lo

Última atualização: 26 janeiro, 2019

A palavra desapego é muito atual em contextos como o da autoajuda, o crescimento pessoal e a espiritualidade.

Algo que está acontecendo com muita frequência é que tendemos a confundir alguns termos e enfoques. Desapego não é, absolutamente, “não possuir nada”. Além disso, também não significa construir relações afetivas evitando o apego que nos oferece segurança e bem-estar.

Desapego é algo mais íntimo. E, ao mesmo tempo, essencial para o nosso equilíbrio psicológico e emocional. Assim, trata-se de evitar as coisas – e pessoas – que tentam nos “possuir”.

Temos que ser capazes de nos doar aos demais em liberdadepara construir relações mais harmônicas e respeitosas, sem dependências, sem vitimismo e nem as recorrentes frases como: “sem você eu não sou nada”.

O apego e o desapego

O termo “desapego” encontra suas raízes no budismo. Porém, no campo da psicologia e da pedagogia temos, por exemplo, a criança com apego e as relações baseadas no apego saudável.

São dois conceitos diferentes que é preciso entender para nos beneficiarmos deles. Assim, construiremos relações muito mais íntegras nas quais devemos respeitar e, ao mesmo tempo, ser respeitados.

menina-com-borboletas-na-mão-representando-desapego

O apego saudável

Para o budismo um dos maiores focos de sofrimento é o apego. Porém, a conotação da palavra para eles não está relacionada com o apego em relação aos casos citados acima. Sejam eles da criança ou das relações afetivas.

Vejamos com mais detalhes.

O ser humano, quando nasce, precisa de seus semelhantes para sobreviver. Além disso, ao mesmo tempo, precisa se sentir seguro para entender o mundo.

  • A criança com apego saudável é aquela cujos os pais atendem suas necessidades. Assim, permitem que a criança esteja próxima para se sentir segura. Aqui, os carinhos, os abraços e um vínculo nutrido pelo amor são a chave para o seu desenvolvimento.
  • Por sua vez, as relações afetivas baseadas em um apego maduro são aquelas onde duas pessoas se doam uma para a outra em liberdade para construir uma relação respeitosa e feliz.
  • As pessoas precisam assegurar o vínculo com aqueles que amam e isso implica desenvolver um tipo de apego com o qual se sentem seguras, com o qual se sentem unidas a alguém que as ama e a quem também amam.

Se em algum momento surgem a dependência, a chantagem e a necessidade de controle, esse apego já não é saudável. Assim, se torna tóxico.

O desapego como forma de integridade pessoal

Nos aprofundemos agora no desapego para esclarecer aspectos importantes. Este temor não quer dizer, absolutamente, que devamos renunciar ao que possuímos, porque o desprendimento absoluto de todas as coisas não é sinônimo de felicidade.

A  carência é precisamente um dos maiores focos de incerteza, de medo e de tristeza. Agora, o excesso de dependência, de atitudes que nos atam às coisas, a pessoas e a lugares, são realmente focos de sofrimento.

  • Se construímos nossa vida ao redor de apenas uma pessoa até o ponto em que nossa felicidade dependa do humor dessa pessoa, dos caprichos e atitudes, então há algo que não estamos fazendo corretamente.
  • Se estamos “apegados” a nossa família de tal modo que não nos atrevemos a construir nossa própria vida longe dos muros paternos, também há algo que estamos fazendo errado.
  • Se nos apegamos ao trabalho, à necessidade exclusiva de crescer, de ganhar mais dinheiro para ter mais coisas e ter mais status social, há algo que estamos fazendo errado: estamos nos esquecendo de ser felizes.
borboleta-pequena-representando-desapego

O desapego é uma forma de integridade pessoal, porque nos lembra que a felicidade não está no bolso dos outros ou em acumular coisas.

A felicidade nasce primeiro dentro de nós para nos sentirmos completos, livres e maduros.

Como aplicar o “desapego” em nosso cotidiano?

  • Aceite a incerteza. Quando estabelecer uma meta ou um objetivo, não concentre toda a sua esperança e felicidade no resultado. Aprender com o processo e aceitar a incerteza também é fundamental.
  • Não centralize seu bem-estar e felicidade em função do que os outros fazem ou deixem de fazer. É uma fonte de sofrimento que devemos saber controlar.
  • Tente depender de suas próprias ações e seja receptivo com o que as pessoas fazem de forma espontânea e sem que você espere. Se você fica obcecado querendo que façam determinadas coisas por você todo dia e a cada momento, viverá infeliz.
  • Não confunda desejo com necessidade. Não é o mesmo, por exemplo, “desejar” ganhar na loteria e “precisar” ser agraciado com o prêmio porque só assim resolverá seus problemas.
  • As pessoas inseguras são as que mais precisam se apegar a quem as rodeia, as que mais precisam ter coisas ou consegui-las, porque assim saciam suas carências emocionais.
  • Cuide de sua autoestima, preencha suas carências com certezas, com a segurança de que é uma pessoa completa, capaz não só de ser feliz, mas também de fazer os outros felizes.
Pode interessar a você...
Aprenda a amar sem apego e não sofrer na tentativa
Melhor Com Saúde
Leia em Melhor Com Saúde
Aprenda a amar sem apego e não sofrer na tentativa

O amor tem limites, fronteiras e barreiras inquebráveis. Por isso, aprenda a amar sem apego e não sofra na tentativa. Fique ligado!


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Bowlby, J. (1998). El Apego: 48 (Psicologia Profunda/Depth Psychology).
  • Rossetti-Ferreira, M. C. (2013). O apego e as reações da criança à separação da mãe. Cadernos de Pesquisa, (48), 03-19.
  • Dalbem, J. X., & Dell’Aglio, D. D. (2005). Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos brasileiros de psicologia, 57(1), 12-24.
  • Ramires, V. R. R. (2003). Cognição social e teoria do apego: possíveis articulações. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(2), 403-410.

Os conteúdos desta publicação foram escritos apenas para fins informativos. Em nenhum momento podem servir para facilitar ou substituir diagnósticos, tratamentos ou recomendações de um profissional. Consulte o seu especialista de confiança em caso de dúvida e peça a sua aprovação antes de iniciar qualquer procedimento.