Como os vírus sofrem mutações?
Escrito e verificado por médico Leonardo Biolatto
A população tende a se perguntar como os vírus sofrem mutações toda vez que uma epidemia toma conta dos noticiários. Nesse momento, com a expansão do coronavírus na sua variante COVID-19, a questão surgiu novamente.
O fato é que a ciência tem uma explicação bastante consistente sobre este fenômeno. Os conhecimentos sobre genética e as pesquisas científicas que foram realizadas até hoje sempre que houve algum surto de uma doença nos permitiram avançar no conhecimento sobre os mecanismo de mutações dos vírus.
Sabemos que os vírus têm em seu interior informação genética que usam para se multiplicar e se manifestar. Assim como o DNA dos humanos, o genoma viral codifica a forma de ser de um vírus. Isso inclui a maneira de infectar as pessoas e até as espécies que serão as destinatárias desse contágio.
Os vírus podem sofrer mutações de duas formas:
- Por recombinação: isso acontece quando dois ou mais vírus trocam porções de DNA ou RNA entre si, modificando-se um com a estrutura do outro.
- Por uma mutação aleatória: aqui a mudança é intrínseca ao vírus, e em geral acontece por um erro de replicação do material genético.
Quanto maior é a população afetada, maior é a possibilidade de que um vírus sofra uma mutação. No entanto, não é correto associar a forma como o vírus sofre mutações à sua taxa de letalidade. A maioria deles, como veremos nesse artigo, mudam de forma leve para sobreviver. Se eles se tornassem mais letais, perderiam os seus hospedeiros.
Por que os vírus sofrem mutações?
A resposta é simples: por um erro. Quase sempre, a mutação de um vírus é consequência de um erro durante a codificação do RNA. Ainda que existam vírus que contenham DNA no lugar do RNA, é nessa segunda estrutura que o erro se materializa.
Isso acontece porque os vírus com DNA têm um mecanismo mais refinado para reproduzir sua informação genética. Então, cometem menos erros quando copiam seus genes para se replicarem. No vírus com RNA, o mecanismo de controle é mais simples.
Os vírus com DNA usam enzimas que se chamam polimerases, que estão presentes nas células que são infectadas. É como se fosse um parasita que se aproveita dos recursos do receptor. As polimerases do DNA têm a capacidade de reparar erros.
Algo diferente acontece com os vírus RNA, nos quais as polimerases do DNA não servem para corrigir um problema. Isso faz com que as mutações aconteçam de maneira mais frequente. Um vírus com RNA como informação genética sofre mutações com uma velocidade muito maior.
Agora, se quisermos nos aprofundar e entender melhor por que os vírus sofrem mutações, devemos dizer que eles fazem isso para sobreviver. Assim como acontece com a evolução de qualquer espécie, há um aproveitamento das mudanças favoráveis para que a espécie perdure. No mundo dos vírus acontece algo parecido. Não obstante, a mudança não necessariamente vai significar uma maior virulência.
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Uma mutação de um vírus é sempre ruim?
Não. Nem sempre a mutação de um vírus envolve necessariamente uma maior letalidade, ou seja, uma maior capacidade de matar. Se pararmos um pouco para pensar, isso seria um erro evolutivo. O vírus não pode matar muitos hospedeiros porque, dessa forma, ele ficaria sem um ambiente para sobreviver.
Os vírus mudam e se adaptam às circunstâncias que a espécie que está sendo infectada oferece naquele momento. Se eles conseguirem se tornar menos letais, podem passar quase despercebidos, replicando-se de uma pessoa para a outra. Definitivamente, esse seria o objetivo lógico para a infecção viral: perpetuar-se.
Ao mesmo tempo em que o vírus sofre mutações, também aumenta a capacidade de resposta imunológica da espécie receptora. Isso leva a um estranho equilíbrio no qual a população viral prolonga a sua convivência com sua espécie hospedeira. Esse é o caso da gripe nos humanos, que todos os anos causa surtos, principalmente nas estações mais frias.
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O que foi descoberto a respeito da mutação do coronavírus?
A Universidade de Pequim liderou uma uma pesquisa científica para codificar as cepas do COVID-19. Até o momento já foram identificadas duas variedades de coronavírus que se assemelham com as letras L e S, respectivamente.
A cepa L é a que iniciou a transmissão para humanos em Wuhan, na China. Foi ela que sofreu uma mutação em um primeiro momento, tornando-se contagiosa para a espécie humana, sendo que antes era transmissível apenas entre animais. A outra cepa, a S, é a que pode ser encontrada em humanos infectados desde fevereiro.
A cepa L diminuiu a sua presença a partir de janeiro deste ano, e já há suspeitas de que isso tenha acontecido pela ação humana. As medidas tomadas para restringir a expansão e as quarentenas impostas à população favoreceram a mudança para a cepa S, que é uma versão mais leve e menos virulenta do COVID-19.
Os vírus nem sempre mudam para pior
Saber como os vírus mudam nos dá uma pista sobre a evolução das epidemias. Na maioria dos surtos, há um momento de transmissão máxima e logo os casos diminuem. Um dos fatores para que isso aconteça é a intervenção humana, mas outro não menos importante é a própria mutação viral.
De qualquer modo, as mutações dos vírus são uma oportunidade para que nós, seres humanos, também mudemos os nossos hábitos e procuremos adotar medidas mais saudáveis. A chave para combater as mutações virais está na prevenção.
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