Capacitismo: evitar o preconceito e promover a inclusão
O capacitismo é uma forma de discriminação executada por meio de práticas, crenças e atitudes intencionais ou não intencionais que atribuem um valor inferior a pessoas com deficiência com base em sua aparência e/ou capacidade de produzir, destacar-se e comportar-se.
A socióloga Emilly Menezes Franco fala sobre as dificuldades e violências sofridas por pessoas com deficiência nos mais diversos espaços sociais. Acompanhe!
O que é o capacitismo?
De acordo com a socióloga, “Capacitismo é toda e qualquer forma de discriminação direcionada às pessoas com deficiência (PCDs), suas condições ou características”, generalizando-as como incapazes ou inferiores. Ele pode se apresentar de maneira “institucional e estrutural, nos ambientes onde não existem alternativas de acessibilidade”.
A maioria dos espaços sociais é pensado para um corpo sem deficiência. Assim, a exclusão está presente desde a infância, na escola, nos estabelecimentos públicos, até a vida adulta, por exemplo, na dificuldade de conseguir um emprego. Segundo Emilly, a falta de debate sobre capacitismo perpetua discriminações conscientes e inconscientes.
Muitas são as formas pelas quais a discriminação é feita atualmente e não é visibilizada, como é o caso do capacitismo, que se refere ao tratamento desigual recebido por pessoas com diversidade funcional, muitas vezes estigmatizadas e tratadas com base em preconceitos por serem consideradas “pessoas com deficiências”.
Para a socióloga, “O ponto central do debate é que possuir qualquer tipo de deficiência não deveria ser motivo de exclusão ou discriminação”. Cada existência é única e diferente, portanto, “deveríamos nos preocupar em acatar a diversidade ao pensar na convivência em comunidade”.
No entanto, não adianta ter um discurso inclusivo se você não o colocar em prática. Os espaços públicos e privados precisam de adaptações para atender pessoas com diversas condições físicas, motoras e intelectuais. A acessibilidade linguística é um ponto importante em teatros, apresentações, palestras etc. Como pontua a socióloga, “Estamos apenas evidenciando que a vida precisa ser pensada a partir da coletividade e da diferença, ou seja, para todos e por todos”.
O que podemos fazer para evitar o capacitismo?
Todos nós, em algum momento, fomos capacitistas. A chave é questionar nossas atitudes e perceber o que podemos mudar.
As seguintes recomendações podem nos ajudar a deixar o capacitismo para trás:
- Ouça as pessoas com deficiência quando elas solicitarem algo.
- Promova a participação de pessoas com deficiência em sua comunidade.
- Se você vai ajudar uma pessoa com deficiência, dirija-se a ela, não a seu acompanhante.
- Respeite a autonomia das pessoas com deficiência.
- Se vai realizar um evento, incorpore medidas de acessibilidade para pessoas com deficiência.
- Evite suposições. Ouça as pessoas com deficiência e faça-lhes perguntas se você não souber sobre um assunto que tenha a ver com elas.
Embora a inclusão esteja longe de ser uma realidade para todos, o debate sobre capacitismo está cada vez mais em evidência. De acordo com a socióloga, com a popularização das redes sociais, as demandas das pessoas com deficiência física, bem como assuntos relacionados à neurodiversidade chegaram aos grandes públicos.
Expressões capacitistas para excluir do seu vocabulário
Nosso cotidiano está repleto de capacitismo, entretanto nem sempre ele percebido como tal. Em conversas informais, rodas de amigos e ambiente de trabalho, muitas vezes, o preconceito se manifesta por meio da linguagem. Abaixo, confira expressões que devem sair do nosso vocabulário:
- Frase capacitista: “Deixa de ser retardado.”
- Substituir por: “Deixa de ser ignorante.”
A palavra retardado é um adjetivo que significa ‘demorado’ ou ‘vagaroso’. O vocabulário foi muito usado por uma concepção médica ultrapassada para caracterizar pessoas com Síndrome de Down ou deficiência intelectual. No senso comum, ganhou uma conotação negativa que reforça estereótipos falsos e preconceituosos.
- Frase capacitista: “Não temos braço para isso.”
- Frase correta: “Não temos pessoas suficientes na equipe.”
O capacitismo presume, erroneamente, que uma pessoa com deficiência é limitada. Na expressão “falta um braço”, está subentendido que é preciso ter os dois membros para ser um indivíduo completo ou suficiente.
- Frase capacitista: “Dar uma mancada.”
- Frase correta: “Faltar com o compromisso.”
Ao usar a expressão “dar uma mancada” para se referir a alguém que faltou com compromisso é equiparar a deficiência ao erro. Por esse motivo, diga que a pessoa pisou na bola, errou feio etc.
- Frase capacitista: “Está cego/surdo?”
- Frase correta: “Você prestou atenção no que eu disse?”
Dizer que alguém está cego/surdo é capacitismo porque usa a deficiência como sinônimo de falta de atenção, demostrando desprezo pelas pessoas com deficiência.
- Frase capacitista: “Dar uma de João sem braço.”
- Frase correta: “Fugir da responsabilidade.”
A deficiência está longe de ser um comportamento ou caráter. Dizer que alguém é um João sem braço por se fazer de desentendido é um juízo de valor, ou seja, preconceito.
Além das frases acima, muitas pessoas usam expressões preconceituosas como se fossem elogios, por exemplo, “Nossa, você nem parece PcD”. Esse comentário é capacitistas, sim, pois reforça um estereótipo físico e comportamental da pessoa com deficiência.
Precisamos tornar a nossa sociedade mais inclusiva para que as pessoas com deficiência possam desenvolver todo o seu potencial, tal como todas as outras, sem serem discriminadas ou marginalizadas.
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.