Aluno de medicina, filho de motoboy desabafa após preconceito de colegas
Anderson, que está há 2 meses de se formar em medicina, na Unig (Universidade de Iguaçu), RJ, foi vítima de preconceito por alguns de seus colegas.
Um vídeo publicado nas redes sociais no último fim de semana causou revolta e muita indignação entre os internautas. As imagens foram feitas por uma aluna da instituição e mostram um grupo dos estudantes da universidade gritando: “Sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy” para Anderson, durante o Intermed (Jogos Universitários de Medicina).
Anderson Bastos Júnior se forma em dois meses e falou ao R7 sobre as dificuldades e todo esforço da família para que ele estudasse.
O jovem ficou sabendo das imagens nas próprias redes sociais, porque não compareceu ao evento por estar se preparando para fazer a residência. O futuro médico também acrescentou que a atitude dos outros alunos o deixou indignado e não o representa.
Anderson relatou ainda que não conseguiu dormir naquela noite e que existem várias pessoas que passam pelas mesmas dificuldades todos os dias para conseguirem bancar a faculdade.
Ele espera que a postura infeliz dos jovens possa servir de lição e reflexão. No Twitter, Anderson publicou um vídeo em resposta à atitude preconceituosa de seus colegas. Assista:
Vai ter filho de motoboy médico sim! pic.twitter.com/r2AztUS2Y9
— dedé (@Andersonfbastos) October 11, 2022
Em nota, a instituição de ensino afirmou “ser contra e repudiar veementemente qualquer tipo de preconceito, inclusive por classe social ou condição financeira e que lamenta profundamente o episódio”.
O caso também chegou ao prefeito da cidade de Vassouras (RJ), que pediu a expulsão dos jogos universitários no município, além de multa para a instituição.
Uma história de sacrifício e superação
Anderson Ferreira Bastos Júnior, de 23 anos, mora no município de Itaperuna, no Rio de Janeiro, e está no último período do curso de medicina na Unig (Universidade de Iguaçu), instituição privada com mensalidades que podem ultrapassar R$ 10 mil nos cursos da área da saúde.
Assim como milhões de estudantes brasileiros de origem humilde, o filho de motoboy nunca deixou de sonhar e ir em busca dos objetivos para conseguir mudar a sua trajetória de vida e o futuro da família.
O pai cresceu pelo próprio esforço, através de um trabalho honesto, e isso é o que Anderson mais admira nele
“Quando terminei o ensino médio no Instituto Federal Fluminense, prestei o vestibular e passei, não sabíamos o que fazer, nem como pagar. Meu pai vendeu uma casa, um carro e até fez um empréstimo no banco para conseguirmos manter o curso ao longo destes anos”, lembra.
Anderson contou também que, muitos anos atrás, seu pai abriu um pequeno comércio de bebidas. No começo, ele fazia as entregas com bicicleta. No entanto, as coisas foram dando certo com o passar dos anos e o negócio se tornou uma distribuidora.
Os anos da graduação foram vividos de forma intensa e com muita angústia. Conforme os novos semestres começavam, o futuro médico ficava angustiado, se questionando se teria condições de seguir pagando pelos estudos. O pai, presente em todos os passos do caminho, também compartilhava da agonia.
Felizmente, Anderson sempre pôde contar com o apoio das pessoas próximas, que se empenhavam em ajudá-lo a se manter na faculdade com arrecadações em grupo.
A cada nova conquista, o sonho de ver Anderson como médico formado começou a ser compartilhado por toda a família.
Sabendo da necessidade de ir bem nos estudos para compensar toda a ajuda recebida, ele sempre se empenhou e se destacou pelo ótimo desempenho.
Durante a pandemia de Covid-19, com a ajuda de um colega criou o Coneuro (Congresso Online de Neurocirurgia). Eles conseguiram reunir 36 palestrantes para falar sobre neurocirurgia e neurologia.
O evento virtual foi um sucesso e deu um bom retorno financeiro para os jovens que agora trabalham na quarta edição.
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