Paciente tem remissão total de câncer com terapia inovadora
Paulo Peregrino, publicitário, de 61 anos, teve alta hospitalar recentemente. Ele lutava contra o câncer havia 13 anos e estava prestes a receber cuidados paliativos, aqueles em que o paciente recebe medicamentos para sofrer menos, quando não há mais chance de cura.
Em abril deste ano, ele foi submetido a um tratamento inovador e, depois de apenas um mês, não havia mais sinais do tumor no organismo dele.
Uma terapia revolucionária, aplicada no Brasil, fez o câncer entrar em remissão em um homem que vinha lutando contra a doença há 13 anos. E mais: a remissão foi em apenas 1 mês.
Paulo se tornou umas das primeiras pessoas no país a passar pelo tratamento com CAR-T Cell, uma terapia inovadora desenvolvida pela farmacêutica suíça Novartis. Essa tecnologia modifica células de defesa do corpo do paciente e faz com que elas matem o tumor sem afetar as células saudáveis.
Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, está à frente do caso de Paulo.
“Foi uma resposta muito rápida. Fico até emocionado (ao ver as duas ressonâncias de Paulo). Fiquei muito surpreso de ver a resposta, porque a gente tem que esperar pelo menos um mês depois da infusão da célula. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo impressionado de ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.
Terapia celular CAR-T Cell
As células CAR-T são células do sistema imune (conhecidas como linfócitos T) extraídas do paciente e geneticamente modificadas para reconhecer e atacar as células tumorais. Elas são então reintroduzidas no paciente e se tornam mais eficazes em identificar o foco de câncer e atacá-lo.
A terapia tem obtido sucesso no tratamento de alguns tipos de câncer do sistema sanguíneo, linfomas e leucemias, mas não há comprovação de eficácia contra tumores sólidos. Nesses casos, as quimioterapias, radioterapias ou tratamentos como imunoterapia tendem a surtir mais efeito.
É preciso acompanhar agora por um período de até cinco anos para confirmar se houve a ‘cura’ do câncer, mas, em estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, em torno de 50% dos pacientes de linfoma são curados com CAR-T.
Tratamento gratuito e revolucionário
O tratamento foi realizado no Sistema Único de Saúde e faz parte de um protocolo da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
No Brasil, dos 14 pacientes que foram submetidos à tecnologia na rede pública, todos apresentaram remissão de ao menos 60% dos tumores que tinham.
“Devido ao alto custo, este tratamento não é acessível em grande parte dos países do mundo. O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma posição privilegiada e tem a rara oportunidade de introduzir esse tratamento no SUS em curto período de tempo”, explica o coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, Dimas Covas.
O tratamento é de alto custo, mas o Brasil, felizmente, tem conseguido introduzir a tecnologia via rede pública para que todos tenham acesso.
O método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país.
Diferença de cura do câncer e remissão
Remissão é quando o câncer não é mais detectado por nenhum exame. Pode ser que tenha sido curado, mas também pode ser que tenha reduzido muito, sem ter desaparecido completamente, e os métodos disponíveis não conseguem detectá-lo. Ou seja, apenas não é possível detectar o câncer.
Ainda que a remissão da doença seja algo a se comemorar muito, ainda não podemos chamar de cura.
“Remissão completa (caso de Paulo) não é o mesmo que cura. Ela indica que não há evidência de doença detectável em um determinado momento”, explica Adriana Barrichello, oncologista do Hospital Sírio Libanês.
A médica acrescentou que, ainda que o paciente não tenha evidências da doença, existe um risco de recorrência.
“A cura, por outro lado, mostra que o tumor foi erradicado e que, essencialmente, não há chance de retorno no paciente”.
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