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Devanshi Sanghvi, uma menina de 8 anos, renuncia à herança de mais de R$ 300 milhões e entra em mosteiro

5 minutos
Devanshi Sanghvi é filha dos donos da empresa de joias Sanghvi and Sons. No entanto, segundo os pais, ela optou por uma religião que prega abandono de posses.
Devanshi Sanghvi, uma menina de 8 anos, renuncia à herança de mais de R$ 300 milhões e entra em mosteiro
Escrito por Equipe Editorial
Última atualização: 14 fevereiro, 2023

A pequena indiana Devanshi Sanghvi tem apenas 8 anos, mas já fez uma escolha que pode definir o resto de sua vida. Ela decidiu renunciar a uma herança milionária e ingressou nesta semana em uma estrita ordem religiosa da fé jainista.

Some figure

Devanshi iria herdar o negócio de joias Sanghvi and Sons, em Surat, na Índia, conhecida localmente como a “cidade do diamante” pela importância no comércio mundial de pedras preciosas. A empresa acumula um patrimônio líquido de cerca de US$ 60 milhões (mais de R$ 309 milhões).

A família anunciou esta semana a vocação de Devanshi, que passou por uma cerimônia de quatro dias até que, nesta quarta-feira, chegou em uma carruagem puxada por um elefante ao templo onde trocou as roupas luxuosas por vestimentas simples de algodão branco.

A cerimônia

Os pais de Devanshi Sanghvi são conhecidos por serem “extremamente religiosos” e a imprensa indiana citou amigos da família contando que a menina tinha “inclinação para a vida espiritual desde que era bebê”.

“Devanshi nunca assistiu à televisão, ao cinema, nem frequentou shoppings e restaurantes”, segundo o jornal Times of India. “Desde muito jovem, Devanshi reza três vezes por dia e chegou a jejuar com dois anos de idade.”

Um dia antes da cerimônia de renúncia, a família organizou uma enorme procissão em Surat para celebrar a ocasião. Milhares de pessoas assistiram ao espetáculo, enquanto camelos, cavalos, carros de boi, bateristas e homens com turbantes carregando dosséis andavam pelas ruas, com dançarinos e outros artistas apresentando-se sobre pernas de pau.

Devanshi Sanghvi e sua família sentaram-se em uma carruagem puxada por um elefante, sob uma chuva de pétalas de rosas jogadas pela multidão.

A menina é uma das pessoas mais jovens a realizarem uma cerimônia “diksha” para abdicar de posses materiais e entrar no monacato jainista. De acordo com a imprensa local, os pais disseram que a criança tinha pressa em se converter.

O jainismo, religião da qual a família faz parte, foi fundado na Índia no século VI. Defende a não violência, o ascetismo, o veganismo e o amor por todas as criaturas. Tem mais de 4 milhões de adeptos no país.

Opiniões e os direitos da criança

A ideia de uma criança renunciar ao mundo deixou muitas pessoas desconfortáveis. Kirti Shah, que é comerciante de diamantes de Surat e amigo da família, além de ser político local do Partido do Povo Indiano, comentou:

“Nenhuma religião deveria permitir que crianças se tornassem monges”.

Shah foi convidado para a cerimônia de diksha, mas não compareceu.

“Ela é uma criança, o que ela entende sobre tudo isso?”, questiona ele. “As crianças não podem decidir nem mesmo o currículo que irão estudar na escola antes dos 16 anos de idade. Como elas podem tomar uma decisão sobre algo que trará impactos sobre toda a sua vida?”

Quando uma criança que renuncia ao mundo é divinizada e celebrada pela comunidade, tudo pode parecer uma grande festa para ela. Mas a professora Nilima Mehta, consultora de proteção infantil em Mumbai, afirma que “As dificuldades e as privações que a criança irá enfrentar são imensas. A vida como monja jainista é muito, muito difícil”.

Muitos outros membros da comunidade também expressaram preocupação com a separação de uma criança da sua família com tão pouca idade. E, desde que surgiu a notícia, muitas pessoas foram às redes sociais para criticar a família, acusando os Sanghvi de violar os direitos de sua filha.

Shah afirma que o governo precisa se envolver e proibir essa prática de renúncia ao mundo por crianças. Mas não é muito provável que isso aconteça.

“Consultei o escritório de Priyank Kanungo, chefe da Comissão Nacional de Proteção dos Direitos da Criança (NCPCR, na sigla em inglês), para saber se o governo iria tomar alguma medida sobre o caso de Devanshi Sanghvi. O escritório respondeu que Kanungo não queria comentar o assunto por se tratar de um tema sensível”, comenta Mehta.

Muitos ativistas afirmam que os direitos de Devanshi Sanghvi foram violados.

Para os que afirmam que acriança se tornou devota “por sua livre vontade”, Mehta indica que o consentimento de uma criança não é consentimento legal.

“Legalmente, 18 anos é a idade em que alguém toma uma decisão independente”, afirma ela. “Até lá, as decisões em seu nome são tomadas pelos adultos, como seus pais, que precisam levar em conta se é o melhor para os interesses da criança”.

E se essa decisão privar a criança de ter educação e recreação, é uma violação dos seus direitos”, conclui Mehta.

Por outro lado, Bipin Doshi, professor de filosofia jainista da Universidade de Mumbai, afirma que não se pode aplicar princípios legais no mundo espiritual.

“Alguns estão dizendo que uma criança não é suficientemente madura para tomar essas decisões, mas existem crianças com melhores capacidades intelectuais que, mesmo jovens, podem chegar muito mais longe do que os adultos. Da mesma forma, existem crianças com inclinação espiritual e, neste caso, o que há de errado se elas se tornarem monges?”, questiona ele.

Mehta conta que, alguns anos atrás, ela lidou com o caso de uma jovem monja jainista que havia fugido do seu monastério porque estava muito traumatizada. Outra menina que se tornou devota com 9 anos de idade causou um certo escândalo em 2009. Quando fez 21 anos de idade, fugiu e se casou com o namorado.

“As crianças sofrem em todas as religiões, mas questionar a situação é blasfêmia”, afirma a professora. Para ela, as famílias e as sociedades precisam aprender que uma criança não é sua propriedade.”

Some figure

Embora a comunidade jainista apoie a prática, a renúncia de Sanghvi gerou um debate no país. Muitas pessoas perguntaram por que a família não pôde esperar até que ela atingisse a idade adulta para tomar decisões tão importantes em seu nome.

Estudiosos das religiões afirmam que o número de jainistas que renunciam ao mundo material vem aumentando rapidamente ao longo dos anos, mas os casos que envolvem crianças jovens como Sanghvi não são comuns.

A pequena indiana Devanshi Sanghvi tem apenas 8 anos, mas já fez uma escolha que pode definir o resto de sua vida. Ela decidiu renunciar a uma herança milionária e ingressou nesta semana em uma estrita ordem religiosa da fé jainista.

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Devanshi iria herdar o negócio de joias Sanghvi and Sons, em Surat, na Índia, conhecida localmente como a “cidade do diamante” pela importância no comércio mundial de pedras preciosas. A empresa acumula um patrimônio líquido de cerca de US$ 60 milhões (mais de R$ 309 milhões).

A família anunciou esta semana a vocação de Devanshi, que passou por uma cerimônia de quatro dias até que, nesta quarta-feira, chegou em uma carruagem puxada por um elefante ao templo onde trocou as roupas luxuosas por vestimentas simples de algodão branco.

A cerimônia

Os pais de Devanshi Sanghvi são conhecidos por serem “extremamente religiosos” e a imprensa indiana citou amigos da família contando que a menina tinha “inclinação para a vida espiritual desde que era bebê”.

“Devanshi nunca assistiu à televisão, ao cinema, nem frequentou shoppings e restaurantes”, segundo o jornal Times of India. “Desde muito jovem, Devanshi reza três vezes por dia e chegou a jejuar com dois anos de idade.”

Um dia antes da cerimônia de renúncia, a família organizou uma enorme procissão em Surat para celebrar a ocasião. Milhares de pessoas assistiram ao espetáculo, enquanto camelos, cavalos, carros de boi, bateristas e homens com turbantes carregando dosséis andavam pelas ruas, com dançarinos e outros artistas apresentando-se sobre pernas de pau.

Devanshi Sanghvi e sua família sentaram-se em uma carruagem puxada por um elefante, sob uma chuva de pétalas de rosas jogadas pela multidão.

A menina é uma das pessoas mais jovens a realizarem uma cerimônia “diksha” para abdicar de posses materiais e entrar no monacato jainista. De acordo com a imprensa local, os pais disseram que a criança tinha pressa em se converter.

O jainismo, religião da qual a família faz parte, foi fundado na Índia no século VI. Defende a não violência, o ascetismo, o veganismo e o amor por todas as criaturas. Tem mais de 4 milhões de adeptos no país.

Opiniões e os direitos da criança

A ideia de uma criança renunciar ao mundo deixou muitas pessoas desconfortáveis. Kirti Shah, que é comerciante de diamantes de Surat e amigo da família, além de ser político local do Partido do Povo Indiano, comentou:

“Nenhuma religião deveria permitir que crianças se tornassem monges”.

Shah foi convidado para a cerimônia de diksha, mas não compareceu.

“Ela é uma criança, o que ela entende sobre tudo isso?”, questiona ele. “As crianças não podem decidir nem mesmo o currículo que irão estudar na escola antes dos 16 anos de idade. Como elas podem tomar uma decisão sobre algo que trará impactos sobre toda a sua vida?”

Quando uma criança que renuncia ao mundo é divinizada e celebrada pela comunidade, tudo pode parecer uma grande festa para ela. Mas a professora Nilima Mehta, consultora de proteção infantil em Mumbai, afirma que “As dificuldades e as privações que a criança irá enfrentar são imensas. A vida como monja jainista é muito, muito difícil”.

Muitos outros membros da comunidade também expressaram preocupação com a separação de uma criança da sua família com tão pouca idade. E, desde que surgiu a notícia, muitas pessoas foram às redes sociais para criticar a família, acusando os Sanghvi de violar os direitos de sua filha.

Shah afirma que o governo precisa se envolver e proibir essa prática de renúncia ao mundo por crianças. Mas não é muito provável que isso aconteça.

“Consultei o escritório de Priyank Kanungo, chefe da Comissão Nacional de Proteção dos Direitos da Criança (NCPCR, na sigla em inglês), para saber se o governo iria tomar alguma medida sobre o caso de Devanshi Sanghvi. O escritório respondeu que Kanungo não queria comentar o assunto por se tratar de um tema sensível”, comenta Mehta.

Muitos ativistas afirmam que os direitos de Devanshi Sanghvi foram violados.

Para os que afirmam que acriança se tornou devota “por sua livre vontade”, Mehta indica que o consentimento de uma criança não é consentimento legal.

“Legalmente, 18 anos é a idade em que alguém toma uma decisão independente”, afirma ela. “Até lá, as decisões em seu nome são tomadas pelos adultos, como seus pais, que precisam levar em conta se é o melhor para os interesses da criança”.

E se essa decisão privar a criança de ter educação e recreação, é uma violação dos seus direitos”, conclui Mehta.

Por outro lado, Bipin Doshi, professor de filosofia jainista da Universidade de Mumbai, afirma que não se pode aplicar princípios legais no mundo espiritual.

“Alguns estão dizendo que uma criança não é suficientemente madura para tomar essas decisões, mas existem crianças com melhores capacidades intelectuais que, mesmo jovens, podem chegar muito mais longe do que os adultos. Da mesma forma, existem crianças com inclinação espiritual e, neste caso, o que há de errado se elas se tornarem monges?”, questiona ele.

Mehta conta que, alguns anos atrás, ela lidou com o caso de uma jovem monja jainista que havia fugido do seu monastério porque estava muito traumatizada. Outra menina que se tornou devota com 9 anos de idade causou um certo escândalo em 2009. Quando fez 21 anos de idade, fugiu e se casou com o namorado.

“As crianças sofrem em todas as religiões, mas questionar a situação é blasfêmia”, afirma a professora. Para ela, as famílias e as sociedades precisam aprender que uma criança não é sua propriedade.”

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Embora a comunidade jainista apoie a prática, a renúncia de Sanghvi gerou um debate no país. Muitas pessoas perguntaram por que a família não pôde esperar até que ela atingisse a idade adulta para tomar decisões tão importantes em seu nome.

Estudiosos das religiões afirmam que o número de jainistas que renunciam ao mundo material vem aumentando rapidamente ao longo dos anos, mas os casos que envolvem crianças jovens como Sanghvi não são comuns.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.