Teoria da objetificação: o que é e quais são suas consequências
Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fatima Seppi Vinuales
“Sou mais que um rostinho bonito”… essa é uma frase que poderia muito bem estar estampada em uma camiseta. No entanto, se a analisarmos um pouco, podemos detectar uma dicotomia; beleza e corpo vs. inteligência ou outras qualidades, como se fossem termos exclusivos.
Como se o corpo fosse a totalidade de uma pessoa ou um valor adicional tivesse que ser demonstrado, além do próprio corpo. Como se o valor de alguém estivesse ali depositado.
É disso que trata a teoria da objetificação; dá conta dos processos envolvidos na reificação das pessoas, na sua redução a “uma única parte” e nas consequências que isso acarreta. Vamos ver o que exatamente é.
O que é a teoria da objetificação?
A teoria da objetificação enfatiza os processos pelos quais as pessoas são tratadas como objetos. O efeito é que o que é enfatizado, a “coisa ou objeto”, tem precedência sobre a pessoa como um todo.
Embora se aplique a casos diversos, como uma crítica ao capitalismo ou a patrões que transformam seus empregados em objetos (meios para um fim), a verdade é que sua maior presença se dá quando se trata das mulheres e de seus corpos. Em outras palavras; objetificação do corpo das mulheres e meninas.
Por outro lado, uma de suas maiores desvantagens está no efeito causado por aquele olhar ou por aquela avaliação do objeto; a própria internalização da visão de si mesmo como objeto.
Por exemplo, aplicado ao corpo no caso das mulheres, isso se traduz na experiência de que as pessoas vão prestar atenção ao seu corpo e no fato de se julgarem mais ou menos valiosas, dependendo dele. Dessa forma, o resto de suas qualidades pessoais perdem importância.
História da teoria da objetificação
Na história do desenvolvimento da teoria da objetivação, podemos citar diferentes contribuições. Uma delas, da mão de profissionais da psicologia e da sociologia, como William James ou Charles Cooley, que investigaram o conceito de self espelhado.
Essa teoria sustenta que o que as outras pessoas veem em nós tem efeito sobre o que pensamos sobre nós mesmos, ou seja, sobre nossa própria autopercepção.
Esse impacto ocorre por três vias; pela ideia que tenho de como me veem, pelo julgamento que faço sobre isso (positivo, negativo) e pela emoção que isso me provoca.
Há, inclusive, estudos que destacam que ao incorporar a visão da “auto-objetificação”, a mulher pode perder o interesse por outros assuntos que não sejam relacionados ao corpo ou ao desenvolvimento de outras habilidades.
Pode-se citar também as contribuições de Fredrickson e Roberts, datadas de 1997, nas quais se discute o papel do gênero na socialização diferencial de homens e mulheres. Ele age colocando em seu corpo o valor delas e, inversamente, o poder que os homens se atribuem para dispor dele.
Assim, é oportuno mencionar que a objetificação tem um gênero muito marcado; mulheres. Não se expressa da mesma forma no caso dos homens, pois em geral são eles que se objetivam, principalmente em relação aos seus corpos.
Isto tem um impacto não só em nível social e cultural (o lugar e o significado atribuído à mulher), mas também – e consideravelmente – em nível psicológico.
Quais são as suas consequências?
Vivemos em uma sociedade que estabelece padrões sobre o que é desejável e o que não é, e isso se traduz em certos mandatos sobre o corpo. Assim, nos deparamos com prescrições massivas sobre corpos “perfeitos”, que impactam o bem-estar de mulheres e meninas.
Por exemplo, não é por acaso que a maior prevalência de transtornos do comportamento alimentar ocorre nessa população e desde a mais tenra idade.
Em muitos casos, o “culto ao corpo” tornou-se uma obsessão que se expressa desde cuidados exagerados até inúmeras cirurgias estéticas. Também na “eterna juventude” que se quer imprimir no corpo.
Isso pode levar a uma baixa autopercepção, com sentimentos de vergonha, ansiedade e insegurança por não se encaixar nesse tipo ideal.
Por outro lado, a hipersexualização dos corpos também é sintoma de sua objetificação. Entre as consequências a nível social encontramo-nos a um nível mais visível e violento com o tráfico sexual de mulheres (o corpo como mercadoria), sustentado por uma estrutura patriarcal dominada pelos homens.
Mas também existem maneiras mais sutis; a entrada gratuita de mulheres em uma boate como um “gancho” para a entrada de mais homens. Elas são “o produto”.
A reificação pode ocorrer em todos os tipos de relacionamentos. Ou seja, não estamos falando apenas de assédio nas ruas, mas também pode ocorrer em relacionamentos íntimos.
Veja: Os comportamentos machistas no sexo não devem ser tolerados
O que há para lembrar?
Em primeiro lugar, você precisa ter algo claro; a objetificação ou reificação das mulheres e meninas é uma forma de violência estética, que desumaniza as pessoas, as “fragmenta” e as transforma em objetos.
É preciso conscientizar sobre os estereótipos de gênero para eliminá-los, pois valorizam mais o corpo feminino e sua beleza, ao invés de promover outras qualidades como a inteligência.
Por outro lado, e dadas as consequências na autoestima das mulheres, é importante desmantelar essas crenças internalizadas, que levam a que só sejam valorizadas enquanto tiverem um corpo para oferecer.
É preciso reconhecer todas as outras qualidades que uma pessoa possui, além de “ser um rostinho bonito”, como mencionamos no início. Uma pessoa não pode ser reduzida ao seu corpo.
“Sou mais que um rostinho bonito”… essa é uma frase que poderia muito bem estar estampada em uma camiseta. No entanto, se a analisarmos um pouco, podemos detectar uma dicotomia; beleza e corpo vs. inteligência ou outras qualidades, como se fossem termos exclusivos.
Como se o corpo fosse a totalidade de uma pessoa ou um valor adicional tivesse que ser demonstrado, além do próprio corpo. Como se o valor de alguém estivesse ali depositado.
É disso que trata a teoria da objetificação; dá conta dos processos envolvidos na reificação das pessoas, na sua redução a “uma única parte” e nas consequências que isso acarreta. Vamos ver o que exatamente é.
O que é a teoria da objetificação?
A teoria da objetificação enfatiza os processos pelos quais as pessoas são tratadas como objetos. O efeito é que o que é enfatizado, a “coisa ou objeto”, tem precedência sobre a pessoa como um todo.
Embora se aplique a casos diversos, como uma crítica ao capitalismo ou a patrões que transformam seus empregados em objetos (meios para um fim), a verdade é que sua maior presença se dá quando se trata das mulheres e de seus corpos. Em outras palavras; objetificação do corpo das mulheres e meninas.
Por outro lado, uma de suas maiores desvantagens está no efeito causado por aquele olhar ou por aquela avaliação do objeto; a própria internalização da visão de si mesmo como objeto.
Por exemplo, aplicado ao corpo no caso das mulheres, isso se traduz na experiência de que as pessoas vão prestar atenção ao seu corpo e no fato de se julgarem mais ou menos valiosas, dependendo dele. Dessa forma, o resto de suas qualidades pessoais perdem importância.
História da teoria da objetificação
Na história do desenvolvimento da teoria da objetivação, podemos citar diferentes contribuições. Uma delas, da mão de profissionais da psicologia e da sociologia, como William James ou Charles Cooley, que investigaram o conceito de self espelhado.
Essa teoria sustenta que o que as outras pessoas veem em nós tem efeito sobre o que pensamos sobre nós mesmos, ou seja, sobre nossa própria autopercepção.
Esse impacto ocorre por três vias; pela ideia que tenho de como me veem, pelo julgamento que faço sobre isso (positivo, negativo) e pela emoção que isso me provoca.
Há, inclusive, estudos que destacam que ao incorporar a visão da “auto-objetificação”, a mulher pode perder o interesse por outros assuntos que não sejam relacionados ao corpo ou ao desenvolvimento de outras habilidades.
Pode-se citar também as contribuições de Fredrickson e Roberts, datadas de 1997, nas quais se discute o papel do gênero na socialização diferencial de homens e mulheres. Ele age colocando em seu corpo o valor delas e, inversamente, o poder que os homens se atribuem para dispor dele.
Assim, é oportuno mencionar que a objetificação tem um gênero muito marcado; mulheres. Não se expressa da mesma forma no caso dos homens, pois em geral são eles que se objetivam, principalmente em relação aos seus corpos.
Isto tem um impacto não só em nível social e cultural (o lugar e o significado atribuído à mulher), mas também – e consideravelmente – em nível psicológico.
Quais são as suas consequências?
Vivemos em uma sociedade que estabelece padrões sobre o que é desejável e o que não é, e isso se traduz em certos mandatos sobre o corpo. Assim, nos deparamos com prescrições massivas sobre corpos “perfeitos”, que impactam o bem-estar de mulheres e meninas.
Por exemplo, não é por acaso que a maior prevalência de transtornos do comportamento alimentar ocorre nessa população e desde a mais tenra idade.
Em muitos casos, o “culto ao corpo” tornou-se uma obsessão que se expressa desde cuidados exagerados até inúmeras cirurgias estéticas. Também na “eterna juventude” que se quer imprimir no corpo.
Isso pode levar a uma baixa autopercepção, com sentimentos de vergonha, ansiedade e insegurança por não se encaixar nesse tipo ideal.
Por outro lado, a hipersexualização dos corpos também é sintoma de sua objetificação. Entre as consequências a nível social encontramo-nos a um nível mais visível e violento com o tráfico sexual de mulheres (o corpo como mercadoria), sustentado por uma estrutura patriarcal dominada pelos homens.
Mas também existem maneiras mais sutis; a entrada gratuita de mulheres em uma boate como um “gancho” para a entrada de mais homens. Elas são “o produto”.
A reificação pode ocorrer em todos os tipos de relacionamentos. Ou seja, não estamos falando apenas de assédio nas ruas, mas também pode ocorrer em relacionamentos íntimos.
Veja: Os comportamentos machistas no sexo não devem ser tolerados
O que há para lembrar?
Em primeiro lugar, você precisa ter algo claro; a objetificação ou reificação das mulheres e meninas é uma forma de violência estética, que desumaniza as pessoas, as “fragmenta” e as transforma em objetos.
É preciso conscientizar sobre os estereótipos de gênero para eliminá-los, pois valorizam mais o corpo feminino e sua beleza, ao invés de promover outras qualidades como a inteligência.
Por outro lado, e dadas as consequências na autoestima das mulheres, é importante desmantelar essas crenças internalizadas, que levam a que só sejam valorizadas enquanto tiverem um corpo para oferecer.
É preciso reconhecer todas as outras qualidades que uma pessoa possui, além de “ser um rostinho bonito”, como mencionamos no início. Uma pessoa não pode ser reduzida ao seu corpo.
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- Moya Garófano, A. Cosificación de las mujeres: Análisis de las consecuencias psicosociales de los piropos. Granada: Universidad de Granada, 2016. [http://hdl.handle.net/10481/43577].
- Sáez, Gemma, Valor-Segura, Inmaculada, & Expósito, Francisca. (2012). ¿Empoderamiento o subyugación de la mujer?: experiencias de cosificación sexual interpersonal. Psychosocial Intervention, 21(1), 41-51. https://dx.doi.org/10.5093/in2012v21n1a9.
- Kozee, H. B., Tylka, T. L., Augustus-Horvath, C. L., & Denchik, A. (2007). Development and Psychometric Evaluation of the Interpersonal Sexual Objectification Scale. Psychology of Women Quarterly, 31(2), 176–189. https://doi.org/10.1111/j.1471-6402.2007.00351.x.
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