O que é a parentificação e quais consequências ela pode ter?
Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fatima Seppi Vinuales
“Ele é como um pai para os seus irmãos.” Frases como esta, que podem parecer elogiosas, podem agir como âncoras na infância das crianças, pois indicam que elas estão realizando tarefas que pouco têm a ver com sua idade. Quando isso se transforma em um beco sem saída, nos deparamos com o fenômeno de parentificação.
A parentificação se refere à inversão de papéis. Ou seja, filhos ou filhas que devem assumir o papel de seus pais. É um termo proposto pelo psiquiatra Ivan Boszormenyi-Nagy, embora seja muito popular nas terapias familiares com outros nomes semelhantes.
Tipos de parentificação
Em geral, a parentificação é classificada em dois subtipos que não são exclusivos:
- Psicológica: refere-se à situação em que a criança é quem escuta e apóia seus pais. Às vezes, elas são até mediadoras entre figuras adultas. Isso gera um conflito, pois muitas vezes elas têm informações que correspondem à esfera conjugal e encontram um dilema difícil de resolver, do tipo amo meu pai, mas não deveria amá-lo porque ele se comporta mal com a minha mãe. Esta é considerada uma das variantes mais prejudiciais.
- Física ou instrumental: refere-se à criança responsável por realizar as diversas tarefas ou atividades domésticas, como preparar refeições ou fazer compras, entre outras.
Como identificar a parentificação?
A parentificação resulta em meninos e meninas super-responsáveis com os seus próprios assuntos e os dos outros, com dificuldade para relaxar, que aprendem a se defender até a autossuficiência e entendem que é melhor não incomodar os outros. Da mesma forma, faz com que as crianças vivam situações de negligência no cuidado.
No entanto, um dos perigos da parentificação é que as qualidades que essa criança possui são avaliadas como positivas. “Ele é tão responsável, cuida bem dos outros, sabe se cuidar” são alguns elogios que recebe.
Em uma leitura superficial, estes são atributos muito favoráveis. No entanto, indo um pouco mais longe, é possível perceber um reverso: não há equilíbrio, mas um grande esforço para estar em um lugar onde a criança não deveria estar; um lugar que está vazio porque há outras pessoas que não desempenham ou não podem desempenhar o seu papel.
Leia também: Tipos de famílias tóxicas e características que as definem
Causas da parentificação
A parentificação está presente na dinâmica familiar disfuncional. Porém, para uma melhor abordagem, é necessário explorar os antecedentes dos pais.
Em alguns casos, surgem situações mais complexas que levam à parentificação, como as seguintes:
- Abuso de álcool ou uso de substâncias.
- Qualquer um dos pais tem uma doença grave, transtorno mental ou deficiência.
- Pais que, na infância, registraram situações de privação emocional, abuso ou abandono.
Por outro lado, também podem ocorrer situações de dificuldades financeiras na família ou falecimento de um dos pais. Nesses casos, a criança funciona como um suporte.
Consequências
Como já apontamos, existe um grande esforço de responsabilidade e controle que não é adequado para a idade dessas crianças. Existem consequências no desenvolvimento psicológico porque elas amadureceram repentinamente em alguns assuntos, mas não em outros.
As crianças podem ter baixa autoestima ao aprenderem que seus interesses não são importantes. No entanto, como diz Selvini et al. (1991), às vezes a parentificação pode ter uma conotação positiva. Isso depende se for uma função temporária ou não.
Nesse caso, a criança acompanha o sistema familiar até atingir um novo ponto de equilíbrio. O problema está na rigidez dos papéis, quando a criança fica presa. Não há ajuda aí, apenas abuso. Esta deixa de ser uma circunstância de aprendizagem e resiliência para se tornar um obstáculo.
Não deixe de ler: O que é uma família disfuncional e como ela pode afetar os filhos?
O que pode ser feito sobre a parentificação?
Se você é pai e acabou de perceber esse problema, é hora de fazer algo. É verdade que a paternidade é muito complexa, especialmente se houver vários membros da família para cuidar. No entanto, também é importante garantir que cada membro possa desfrutar do lugar que ocupou.
Se você é esse filho-pai, é hora de deixar esse lugar e começar a desfrutar de outras experiências. Algumas das recomendações a respeito de como começar são as seguintes:
- Autocuidado e limites: por um tempo, você colocou as necessidades das outras pessoas em primeiro lugar, antes das suas. Agora, é importante que você imponha limites, que você se coloque em primeiro lugar e se cuide.
- Perdoe e perdoe-se: intencionalmente ou não, para seguir em frente é preciso abrir mão do rancor e curar o passado para focar no presente.
- Trabalhe as emoções: neste tipo de situação de inversão de papéis, você aprende a esconder suas próprias emoções para não perturbar os outros. Portanto, há pouco contato com elas, resultando em uma vida emocional empobrecida. Por isso, é necessário começar reconhecendo-as e aprendendo o que cada emoção tem a nos ensinar sobre nós mesmos.
- Tire um tempo para o lazer e a diversão: você ainda não se esqueceu da vontade que tinha de ir à festa do pijama da sua melhor amiga, que perdeu por ter que cuidar do seu irmão mais novo. Agora é a hora de ter um tempo livre para si, para desfrutar de planos que lhe dão satisfação.
Ajudar não é o problema
Por fim, é importante esclarecer que uso e abuso não são a mesma coisa. Pedir a colaboração das crianças em casa, como pôr a mesa, implica uma responsabilidade adequada e acessível para a sua idade. Isso favorece o desenvolvimento da autonomia pessoal e o crescimento positivo.
Torna-se abuso quando há falta de sensibilidade dos pais quanto ao que aquela criança precisa, quando falta equilíbrio e uma das partes se sobrecarrega, quando há muita responsabilidade e pouco espaço para brincar. O abuso é confundir a ajuda com a cristalização de um papel ou obrigação.
Portanto, é importante se atentar para esse tipo de dinâmica familiar, pois em muitos casos o sofrimento que ela causa fica invisível. Na aparência o equilíbrio é sustentado, mas na realidade não é.
“Ele é como um pai para os seus irmãos.” Frases como esta, que podem parecer elogiosas, podem agir como âncoras na infância das crianças, pois indicam que elas estão realizando tarefas que pouco têm a ver com sua idade. Quando isso se transforma em um beco sem saída, nos deparamos com o fenômeno de parentificação.
A parentificação se refere à inversão de papéis. Ou seja, filhos ou filhas que devem assumir o papel de seus pais. É um termo proposto pelo psiquiatra Ivan Boszormenyi-Nagy, embora seja muito popular nas terapias familiares com outros nomes semelhantes.
Tipos de parentificação
Em geral, a parentificação é classificada em dois subtipos que não são exclusivos:
- Psicológica: refere-se à situação em que a criança é quem escuta e apóia seus pais. Às vezes, elas são até mediadoras entre figuras adultas. Isso gera um conflito, pois muitas vezes elas têm informações que correspondem à esfera conjugal e encontram um dilema difícil de resolver, do tipo amo meu pai, mas não deveria amá-lo porque ele se comporta mal com a minha mãe. Esta é considerada uma das variantes mais prejudiciais.
- Física ou instrumental: refere-se à criança responsável por realizar as diversas tarefas ou atividades domésticas, como preparar refeições ou fazer compras, entre outras.
Como identificar a parentificação?
A parentificação resulta em meninos e meninas super-responsáveis com os seus próprios assuntos e os dos outros, com dificuldade para relaxar, que aprendem a se defender até a autossuficiência e entendem que é melhor não incomodar os outros. Da mesma forma, faz com que as crianças vivam situações de negligência no cuidado.
No entanto, um dos perigos da parentificação é que as qualidades que essa criança possui são avaliadas como positivas. “Ele é tão responsável, cuida bem dos outros, sabe se cuidar” são alguns elogios que recebe.
Em uma leitura superficial, estes são atributos muito favoráveis. No entanto, indo um pouco mais longe, é possível perceber um reverso: não há equilíbrio, mas um grande esforço para estar em um lugar onde a criança não deveria estar; um lugar que está vazio porque há outras pessoas que não desempenham ou não podem desempenhar o seu papel.
Leia também: Tipos de famílias tóxicas e características que as definem
Causas da parentificação
A parentificação está presente na dinâmica familiar disfuncional. Porém, para uma melhor abordagem, é necessário explorar os antecedentes dos pais.
Em alguns casos, surgem situações mais complexas que levam à parentificação, como as seguintes:
- Abuso de álcool ou uso de substâncias.
- Qualquer um dos pais tem uma doença grave, transtorno mental ou deficiência.
- Pais que, na infância, registraram situações de privação emocional, abuso ou abandono.
Por outro lado, também podem ocorrer situações de dificuldades financeiras na família ou falecimento de um dos pais. Nesses casos, a criança funciona como um suporte.
Consequências
Como já apontamos, existe um grande esforço de responsabilidade e controle que não é adequado para a idade dessas crianças. Existem consequências no desenvolvimento psicológico porque elas amadureceram repentinamente em alguns assuntos, mas não em outros.
As crianças podem ter baixa autoestima ao aprenderem que seus interesses não são importantes. No entanto, como diz Selvini et al. (1991), às vezes a parentificação pode ter uma conotação positiva. Isso depende se for uma função temporária ou não.
Nesse caso, a criança acompanha o sistema familiar até atingir um novo ponto de equilíbrio. O problema está na rigidez dos papéis, quando a criança fica presa. Não há ajuda aí, apenas abuso. Esta deixa de ser uma circunstância de aprendizagem e resiliência para se tornar um obstáculo.
Não deixe de ler: O que é uma família disfuncional e como ela pode afetar os filhos?
O que pode ser feito sobre a parentificação?
Se você é pai e acabou de perceber esse problema, é hora de fazer algo. É verdade que a paternidade é muito complexa, especialmente se houver vários membros da família para cuidar. No entanto, também é importante garantir que cada membro possa desfrutar do lugar que ocupou.
Se você é esse filho-pai, é hora de deixar esse lugar e começar a desfrutar de outras experiências. Algumas das recomendações a respeito de como começar são as seguintes:
- Autocuidado e limites: por um tempo, você colocou as necessidades das outras pessoas em primeiro lugar, antes das suas. Agora, é importante que você imponha limites, que você se coloque em primeiro lugar e se cuide.
- Perdoe e perdoe-se: intencionalmente ou não, para seguir em frente é preciso abrir mão do rancor e curar o passado para focar no presente.
- Trabalhe as emoções: neste tipo de situação de inversão de papéis, você aprende a esconder suas próprias emoções para não perturbar os outros. Portanto, há pouco contato com elas, resultando em uma vida emocional empobrecida. Por isso, é necessário começar reconhecendo-as e aprendendo o que cada emoção tem a nos ensinar sobre nós mesmos.
- Tire um tempo para o lazer e a diversão: você ainda não se esqueceu da vontade que tinha de ir à festa do pijama da sua melhor amiga, que perdeu por ter que cuidar do seu irmão mais novo. Agora é a hora de ter um tempo livre para si, para desfrutar de planos que lhe dão satisfação.
Ajudar não é o problema
Por fim, é importante esclarecer que uso e abuso não são a mesma coisa. Pedir a colaboração das crianças em casa, como pôr a mesa, implica uma responsabilidade adequada e acessível para a sua idade. Isso favorece o desenvolvimento da autonomia pessoal e o crescimento positivo.
Torna-se abuso quando há falta de sensibilidade dos pais quanto ao que aquela criança precisa, quando falta equilíbrio e uma das partes se sobrecarrega, quando há muita responsabilidade e pouco espaço para brincar. O abuso é confundir a ajuda com a cristalização de um papel ou obrigação.
Portanto, é importante se atentar para esse tipo de dinâmica familiar, pois em muitos casos o sofrimento que ela causa fica invisível. Na aparência o equilíbrio é sustentado, mas na realidade não é.
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- Domínguez, Carmen, González, Diego, Navarrete, Danitza, & Zicavo, Nelson. (2019). Parentalización en familias monoparentales. Ciencias Psicológicas, 13(2), 346-355. Epub 01 de diciembre de 2019. https://dx.doi.org/10.22235/cp.v13i2.1891
- Selvini, M; Boscolo, L., Cecchin, G. y Prata, G. (1991). Paradoja y contraparadoja. Buenos Aires: Paidós
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