Ex-freira deixou celibato após paixão por sua médica
Você gosta de boas histórias? Então vai ficar impressionado com o relato de Selma Teixeira, que deixou o celibato para dar um novo rumo para sua vida.
Selma ingressou na vida religiosa aos 18 anos e seguiu trabalhando na igreja por 25 anos. Foi noviça e chegou a ser Madre Superiora construindo dois mosteiros. Mas tudo mudou quando precisou fazer uma cirurgia bariátrica e recuperação pós-cirurgia.
Durante as consultas de rotina, a ex-freira conheceu uma médica que se tornou sua amiga e, um tempo depois, chegou a beijá-la — fazendo com que ela repensasse o seu futuro.
“Sou uma ex-freira, ex-madre superiora, que abandonou os votos de castidade, pobreza, obediência, clausura e o mais alto posto que uma mulher pode alcançar na igreja católica por causa do meu coração.
Primeiro, porque ele deu sinais de pane. Segundo, porque me apaixonei por uma das pessoas que salvou a minha vida. A paixão arrebatadora foi o apagar das luzes de 25 anos de dedicação exclusiva à igreja”.
Início
Selma nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, e foi por uma inquietação e uma vontade imensa de contribuir para a comunidade humana que deu início ao que, na igreja, é chamado de vida consagrada. Isso aconteceu no auge dos seus 18 anos.
Como sempre foi muito idealista, ela começou por buscar uma ordem que tivesse um trabalho social, principalmente com mulheres em situação de risco. Isso porque, desde cedo, ela se incomodava com o afastamento das mulheres nas posições de importância na igreja.
Quando entrou em contato com a vida de São Francisco e Santa Clara decidiu que queria viver como eles viveram, que seria pobre, livre e casta, como eles foram.
Diante dessa escolha, foi transferida para a ordem das irmãs Clarissas, na cidade de Colatina, no Espírito Santo. Em 1º de setembro de 2002 fez os votos perpétuos e se tornou a irmã Chiara Letícia da Mãe de Deus.
“Foi minha atuação com as irmãs Clarissas em Colatina que abriu as portas para que, anos mais tarde, eu me tornasse uma madre superiora. Como freira e madre superiora, segui religiosamente todos os ritos do mosteiro e da clausura. Jejum e orações na madrugada estavam entre esses ritos”, conta.
Ainda seguindo o catolicismo, Selma estudou filosofia, teologia, psicologia e história, mas em entidades que não são reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC) e que, portanto, não contam para o currículo como uma civil.
“Se eu fosse padre, certamente seria um doutor”
“Eu ainda tenho muitas questões com a igreja, porque a gestão ainda é carregada de machismo. A redução do papel da mulher e a questão do patriarcado na igreja sempre me afetou, por isso sempre procurei por ordens que valorizavam a vida feminina.
Se eu fosse um padre, certamente seria um doutor em teologia, pelo menos, mas como mulher, a falta de reconhecimento por toda instrução que a gente adquire empobrece muito a vida consagrada feminina”.
Como freira, ela esteve algumas vezes no Vaticano e conheceu os três últimos papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Foram experiências que, como uma menina do interior, ela jamais poderia conceber.
O coração falhou
A grande mudança da sua vida começou quando precisou passar por uma cirurgia bariátrica para tratar problemas de pressão alta que interferiam no coração.
“Com 148 quilos e 1 metro e 58 centímetros de altura, meu coração começou a bater de forma desenfreada e me vi vítima de episódios de pressão alta. Durante o meu tratamento, fui acompanhada por uma médica que se tornou minha amiga. Eu sentia muita gratidão por ela ter sido uma das profissionais que salvou a minha vida e, como tínhamos um gosto musical semelhante, em uma das minhas viagens comprei um box do compositor clássico francês Claude Debussy e dei de presente para ela”, relembra Selma.
Um dia, ela chegou no consultório da médica e foi surpreendida com um beijo: “Ela me deu um beijo inesperado e eu, claro, não correspondi. Demorei muito tempo para perceber que tinha me ligado afetivamente a ela. Eu resolvi um problema de saúde, mas ganhei um problema afetivo”.
A carta do papa
“Eu poderia ter usado a igreja e esse período sabático até me decidir sobre a minha relação, mas não é da minha índole. Eu convivi com muitas pessoas que eu considero santas e que me marcam até hoje, que estavam ali pelo mesmo propósito que tive até aquele momento. Por isso, optei por interromper a minha licença.
Decidi pedir o que a igreja chama de exclaustração definitiva, que é a anulação dos votos de castidade, obediência, pobreza e clausura. Só há uma pessoa que poderia me dispensar do meu cargo de madre superiora: o papa.
Primeiro, escrevi uma carta para a madre superiora do mosteiro mãe, que juntou outros documentos da minha vida religiosa e encaminhou tudo ao Vaticano.
Na carta de retorno, o Papa Francisco me agradeceu pelos anos de dedicação à vida religiosa e à igreja católica, disse que estava rezando para que eu fosse feliz e que daquele momento em diante eu estava totalmente desligada dos votos, que poderia ter novas relações e até contrair matrimônio.”
Vida nova
Liberada da vida religiosa, Selma voltou a Piracicaba e manteve um relacionamento com essa médica por seis meses. Depois disso, realizou o sonho de viajar para o Chile com uma sobrinha e, junto com essa mesma sobrinha, comprou um bar.
“Fomos imensamente felizes, fizemos amigos que estarão com a gente pelo resto das nossas vidas, bebemos tanto quanto nossos clientes e fechamos na pandemia.
Depois disso, trabalhei na melhor padaria da cidade e a minha profissão mais recente é a de motorista de aplicativo. Eu gosto muito de dirigir. De tudo o que eu fiz até agora, dirigir é o trabalho com o qual eu mais me identifico. Eu sempre gostei, em todos os meus papéis, do contato com as pessoas, e tenho encontrado pessoas fascinantes enquanto estou ao volante”.
Ela se casou, mas não da forma tradicional abençoada pela igreja católica. Tampouco se casou com a médica que lhe roubou o beijo que mudou a sua vida. Selma conheceu sua atual esposa em outubro e está casada desde fevereiro.
“Hoje eu sou uma pessoa que tem tatuagem, que adora uma cerveja, apaixonada e casada com a Priscila, que é uma companheira para a vida. Tenho certeza que Deus está feliz comigo, porque ele sabe que estou realizando o que eu queria realizar. Eu nunca senti que Deus me abandonou porque saí da vida religiosa ou porque estou em pecado, vivendo com uma mulher que me completa. Passei 25 anos da minha vida na clausura, não é tão difícil imaginar por que eu quero expandir. Viver livre, leve e solta”.
Você gosta de boas histórias? Então vai ficar impressionado com o relato de Selma Teixeira, que deixou o celibato para dar um novo rumo para sua vida.
Selma ingressou na vida religiosa aos 18 anos e seguiu trabalhando na igreja por 25 anos. Foi noviça e chegou a ser Madre Superiora construindo dois mosteiros. Mas tudo mudou quando precisou fazer uma cirurgia bariátrica e recuperação pós-cirurgia.
Durante as consultas de rotina, a ex-freira conheceu uma médica que se tornou sua amiga e, um tempo depois, chegou a beijá-la — fazendo com que ela repensasse o seu futuro.
“Sou uma ex-freira, ex-madre superiora, que abandonou os votos de castidade, pobreza, obediência, clausura e o mais alto posto que uma mulher pode alcançar na igreja católica por causa do meu coração.
Primeiro, porque ele deu sinais de pane. Segundo, porque me apaixonei por uma das pessoas que salvou a minha vida. A paixão arrebatadora foi o apagar das luzes de 25 anos de dedicação exclusiva à igreja”.
Início
Selma nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, e foi por uma inquietação e uma vontade imensa de contribuir para a comunidade humana que deu início ao que, na igreja, é chamado de vida consagrada. Isso aconteceu no auge dos seus 18 anos.
Como sempre foi muito idealista, ela começou por buscar uma ordem que tivesse um trabalho social, principalmente com mulheres em situação de risco. Isso porque, desde cedo, ela se incomodava com o afastamento das mulheres nas posições de importância na igreja.
Quando entrou em contato com a vida de São Francisco e Santa Clara decidiu que queria viver como eles viveram, que seria pobre, livre e casta, como eles foram.
Diante dessa escolha, foi transferida para a ordem das irmãs Clarissas, na cidade de Colatina, no Espírito Santo. Em 1º de setembro de 2002 fez os votos perpétuos e se tornou a irmã Chiara Letícia da Mãe de Deus.
“Foi minha atuação com as irmãs Clarissas em Colatina que abriu as portas para que, anos mais tarde, eu me tornasse uma madre superiora. Como freira e madre superiora, segui religiosamente todos os ritos do mosteiro e da clausura. Jejum e orações na madrugada estavam entre esses ritos”, conta.
Ainda seguindo o catolicismo, Selma estudou filosofia, teologia, psicologia e história, mas em entidades que não são reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC) e que, portanto, não contam para o currículo como uma civil.
“Se eu fosse padre, certamente seria um doutor”
“Eu ainda tenho muitas questões com a igreja, porque a gestão ainda é carregada de machismo. A redução do papel da mulher e a questão do patriarcado na igreja sempre me afetou, por isso sempre procurei por ordens que valorizavam a vida feminina.
Se eu fosse um padre, certamente seria um doutor em teologia, pelo menos, mas como mulher, a falta de reconhecimento por toda instrução que a gente adquire empobrece muito a vida consagrada feminina”.
Como freira, ela esteve algumas vezes no Vaticano e conheceu os três últimos papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Foram experiências que, como uma menina do interior, ela jamais poderia conceber.
O coração falhou
A grande mudança da sua vida começou quando precisou passar por uma cirurgia bariátrica para tratar problemas de pressão alta que interferiam no coração.
“Com 148 quilos e 1 metro e 58 centímetros de altura, meu coração começou a bater de forma desenfreada e me vi vítima de episódios de pressão alta. Durante o meu tratamento, fui acompanhada por uma médica que se tornou minha amiga. Eu sentia muita gratidão por ela ter sido uma das profissionais que salvou a minha vida e, como tínhamos um gosto musical semelhante, em uma das minhas viagens comprei um box do compositor clássico francês Claude Debussy e dei de presente para ela”, relembra Selma.
Um dia, ela chegou no consultório da médica e foi surpreendida com um beijo: “Ela me deu um beijo inesperado e eu, claro, não correspondi. Demorei muito tempo para perceber que tinha me ligado afetivamente a ela. Eu resolvi um problema de saúde, mas ganhei um problema afetivo”.
A carta do papa
“Eu poderia ter usado a igreja e esse período sabático até me decidir sobre a minha relação, mas não é da minha índole. Eu convivi com muitas pessoas que eu considero santas e que me marcam até hoje, que estavam ali pelo mesmo propósito que tive até aquele momento. Por isso, optei por interromper a minha licença.
Decidi pedir o que a igreja chama de exclaustração definitiva, que é a anulação dos votos de castidade, obediência, pobreza e clausura. Só há uma pessoa que poderia me dispensar do meu cargo de madre superiora: o papa.
Primeiro, escrevi uma carta para a madre superiora do mosteiro mãe, que juntou outros documentos da minha vida religiosa e encaminhou tudo ao Vaticano.
Na carta de retorno, o Papa Francisco me agradeceu pelos anos de dedicação à vida religiosa e à igreja católica, disse que estava rezando para que eu fosse feliz e que daquele momento em diante eu estava totalmente desligada dos votos, que poderia ter novas relações e até contrair matrimônio.”
Vida nova
Liberada da vida religiosa, Selma voltou a Piracicaba e manteve um relacionamento com essa médica por seis meses. Depois disso, realizou o sonho de viajar para o Chile com uma sobrinha e, junto com essa mesma sobrinha, comprou um bar.
“Fomos imensamente felizes, fizemos amigos que estarão com a gente pelo resto das nossas vidas, bebemos tanto quanto nossos clientes e fechamos na pandemia.
Depois disso, trabalhei na melhor padaria da cidade e a minha profissão mais recente é a de motorista de aplicativo. Eu gosto muito de dirigir. De tudo o que eu fiz até agora, dirigir é o trabalho com o qual eu mais me identifico. Eu sempre gostei, em todos os meus papéis, do contato com as pessoas, e tenho encontrado pessoas fascinantes enquanto estou ao volante”.
Ela se casou, mas não da forma tradicional abençoada pela igreja católica. Tampouco se casou com a médica que lhe roubou o beijo que mudou a sua vida. Selma conheceu sua atual esposa em outubro e está casada desde fevereiro.
“Hoje eu sou uma pessoa que tem tatuagem, que adora uma cerveja, apaixonada e casada com a Priscila, que é uma companheira para a vida. Tenho certeza que Deus está feliz comigo, porque ele sabe que estou realizando o que eu queria realizar. Eu nunca senti que Deus me abandonou porque saí da vida religiosa ou porque estou em pecado, vivendo com uma mulher que me completa. Passei 25 anos da minha vida na clausura, não é tão difícil imaginar por que eu quero expandir. Viver livre, leve e solta”.
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.