O que é a permanência de objeto e quando ela aparece em bebês?
Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz
Os bebês experimentam um desenvolvimento físico e psicológico vertiginoso durante seus primeiros anos de vida. Eles estão adquirindo uma infinidade de capacidades que lhes permitem entender seu ambiente e funcionar nele de uma forma melhor. Entre as mais importantes está a permanência do objeto, uma habilidade psicológica que ajuda a criança a entender que existe um mundo além dela mesma.
Para um recém-nascido existe apenas o que ele pode ver, tocar, cheirar ou sentir. O que escapa à percepção simplesmente não existe para ele. Isso acontece porque bebês muito pequenos ainda não têm a capacidade de representar mentalmente objetos ou pessoas. Assim, se a mãe sair do campo de visão da criança provavelmente ela não irá chorar ou mostrar sinais de angústia, da mesma forma que se um brinquedo for escondido, ela não tentará encontrá-lo.
Essa realidade começa a mudar após os quatro meses, quando a permanência do objeto se desenvolve de forma gradual e progressiva. Nesta etapa o bebê começará a entender que os elementos têm existência própria e continuam lá, apesar de ele não poder percebê-los com os sentidos. Este é um grande marco que divide um antes e um depois na cognição do bebê.
Permanência do objeto e desenvolvimento cognitivo segundo Piaget
O psicólogo suíço Jean Piaget trouxe grandes contribuições para a compreensão da psicologia evolutiva, dentre as quais se destaca a classificação dos quatro estágios do desenvolvimento cognitivo. Segundo esse autor, as crianças passam por diferentes períodos nos quais a sua forma de pensar, interpretar e se relacionar com o ambiente variam consideravelmente.
Continue lendo: Estágios de desenvolvimento psicossocial de Erikson
A primeira dessas etapas, conhecida como estágio sensório-motor, abrange desde o nascimento até os dois anos de idade e tem a permanência do objeto como principal conquista a ser alcançada.
Piaget observou o desenvolvimento dessa habilidade examinando como os bebês reagem quando um brinquedo é apresentado a eles e depois escondido com um cobertor. Progressivamente, a criança passará de não demonstrar intenção de busca a conseguir encontrar o objeto parcialmente visível ou mesmo encontrá-lo em lugares inesperados.
Subestágios do estágio sensório-motor
Todas essas transições ocorrem nas subetapas descritas pelo mesmo autor:
- Atividade reflexa: Durante o primeiro mês de vida, o bebê atua principalmente por meio de reflexos inatos. Ele aprende a mover o corpo e pode seguir um objeto com os olhos, mas o que escapa ao seu campo de percepção deixa de existir para ele.
- Reações circulares primárias: ocorrem entre o primeiro e o quarto mês; o bebê já age de forma mais intencional e presta mais atenção aos objetos. No entanto, ele ainda não entende que estes continuam a existir mesmo estando fora da sua percepção.
- Reações circulares secundárias: Entre quatro e oito meses de vida começam a surgir as primeiras noções de permanência do objeto. A criança já tentará alcançar os brinquedos que estão parcialmente escondidos, pois entende que o resto do brinquedo também está lá.
- Coordenação das relações circulares secundárias: de oito a doze meses, instala-se a permanência do próprio objeto. Neste momento, o bebê irá procurar e e será capaz de recuperar objetos totalmente ocultados, desde que tenha visto como eles foram escondidos.
- Reações circulares terciárias: a criança tem entre 12 e 18 meses de idade. Ela agora é capaz de procurar um objeto nos lugares onde normalmente ele é encontrado. A criança sabe que o objeto existe mesmo que ela não o veja e o procura nos lugares mais familiares. No entanto, se o brinquedo for colocado em um lugar diferente, não lhe ocorrerá olhar para esse lugar.
- Resolução de problemas simbólicos: dos 18 aos 24 meses a criança já entende que o objeto pode estar em qualquer lugar, mesmo que ela não tenha visto onde ele foi escondido. Assim, ela consegue ter uma representação mental do objeto e pode imaginar que ele está em lugares diferentes.
Permanência do objeto e sua relação com a ansiedade de separação
A permanência do objeto é essencial para que o bebê se desenvolva no ambiente, mas também tem uma grande influência a nível social. Antes a criança considerava que as pessoas deixavam de existir quando ela não as percebia, e agora já sabe que elas continuam existindo e entende que se foram. O que ela não sabe é quando eles voltarão ou se a abandonaram para sempre.
Por isso, com o desenvolvimento da permanência do objeto surge também a conhecida ansiedade de separação. O bebê que costumava ficar calmo e sereno quando era deixado no berço ou quando seus pais o deixavam aos cuidados de outras pessoas, agora pode reagir com muita angústia, choro e desespero a essas mesmas situações.
Antes ele não percebia claramente a separação entre si mesmo e o resto do mundo. Agora a criança sabe que as suas figuras de apego são indivíduos diferentes dele e teme que elas se afastem.
Como estimular a aprendizagem da permanência do objeto
A permanência do objeto é um marco no desenvolvimento que todos os bebês atingem mais cedo ou mais tarde. Vale ressaltar que as idades propostas por Piaget são para fins de orientação, e que cada criança segue seu próprio ritmo. De fato, essas pesquisas têm recebido várias críticas, pois autores como Bower afirmam que essa habilidade está presente em idades muito mais precoces.
De qualquer forma, essa aprendizagem pode ser estimulada por meio de brincadeiras e atividades simples com o bebê:
- Cadê a mamãe: Este jogo popular envolve cobrir o rosto com as mãos e perguntar ao bebê “cadê a mamãe?” Depois basta descobrir o rosto enquanto exclama “está aqui!”. Bebês mais novos, que ainda não desenvolveram a permanência do objeto, reagirão com fascínio.
- Esconder: também é possível brincar de esconder bonecos e ver se o bebê os procura. Primeiro ocultando-os parcialmente e depois totalmente. Mais tarde, é possível escondê-los enquanto a criança não está olhando. É possível fazer essa mesma dinâmica sendo você a figura de apego escondida.
- Caixas de permanência Montessori: este brinquedo pode ser usado a partir dos seis meses. Ele permite que a criança insira um objeto em uma abertura, veja como ele desaparece por alguns momentos e possa recuperá-lo automaticamente (nas caixas com bandeja) ou abrindo a porta ou gaveta da caixa onde o objeto foi inserido.
De qualquer forma, não se preocupe se o seu filho estiver um pouco atrasado em relação às idades indicativas para desenvolver essa habilidade. Lembre-se que não se trata de estimulação, e que em algum momento ele adquirirá essa habilidade. Por agora, aproveite a sensação de contemplá-lo enquanto ele descobre como o mundo funciona.
Os bebês experimentam um desenvolvimento físico e psicológico vertiginoso durante seus primeiros anos de vida. Eles estão adquirindo uma infinidade de capacidades que lhes permitem entender seu ambiente e funcionar nele de uma forma melhor. Entre as mais importantes está a permanência do objeto, uma habilidade psicológica que ajuda a criança a entender que existe um mundo além dela mesma.
Para um recém-nascido existe apenas o que ele pode ver, tocar, cheirar ou sentir. O que escapa à percepção simplesmente não existe para ele. Isso acontece porque bebês muito pequenos ainda não têm a capacidade de representar mentalmente objetos ou pessoas. Assim, se a mãe sair do campo de visão da criança provavelmente ela não irá chorar ou mostrar sinais de angústia, da mesma forma que se um brinquedo for escondido, ela não tentará encontrá-lo.
Essa realidade começa a mudar após os quatro meses, quando a permanência do objeto se desenvolve de forma gradual e progressiva. Nesta etapa o bebê começará a entender que os elementos têm existência própria e continuam lá, apesar de ele não poder percebê-los com os sentidos. Este é um grande marco que divide um antes e um depois na cognição do bebê.
Permanência do objeto e desenvolvimento cognitivo segundo Piaget
O psicólogo suíço Jean Piaget trouxe grandes contribuições para a compreensão da psicologia evolutiva, dentre as quais se destaca a classificação dos quatro estágios do desenvolvimento cognitivo. Segundo esse autor, as crianças passam por diferentes períodos nos quais a sua forma de pensar, interpretar e se relacionar com o ambiente variam consideravelmente.
Continue lendo: Estágios de desenvolvimento psicossocial de Erikson
A primeira dessas etapas, conhecida como estágio sensório-motor, abrange desde o nascimento até os dois anos de idade e tem a permanência do objeto como principal conquista a ser alcançada.
Piaget observou o desenvolvimento dessa habilidade examinando como os bebês reagem quando um brinquedo é apresentado a eles e depois escondido com um cobertor. Progressivamente, a criança passará de não demonstrar intenção de busca a conseguir encontrar o objeto parcialmente visível ou mesmo encontrá-lo em lugares inesperados.
Subestágios do estágio sensório-motor
Todas essas transições ocorrem nas subetapas descritas pelo mesmo autor:
- Atividade reflexa: Durante o primeiro mês de vida, o bebê atua principalmente por meio de reflexos inatos. Ele aprende a mover o corpo e pode seguir um objeto com os olhos, mas o que escapa ao seu campo de percepção deixa de existir para ele.
- Reações circulares primárias: ocorrem entre o primeiro e o quarto mês; o bebê já age de forma mais intencional e presta mais atenção aos objetos. No entanto, ele ainda não entende que estes continuam a existir mesmo estando fora da sua percepção.
- Reações circulares secundárias: Entre quatro e oito meses de vida começam a surgir as primeiras noções de permanência do objeto. A criança já tentará alcançar os brinquedos que estão parcialmente escondidos, pois entende que o resto do brinquedo também está lá.
- Coordenação das relações circulares secundárias: de oito a doze meses, instala-se a permanência do próprio objeto. Neste momento, o bebê irá procurar e e será capaz de recuperar objetos totalmente ocultados, desde que tenha visto como eles foram escondidos.
- Reações circulares terciárias: a criança tem entre 12 e 18 meses de idade. Ela agora é capaz de procurar um objeto nos lugares onde normalmente ele é encontrado. A criança sabe que o objeto existe mesmo que ela não o veja e o procura nos lugares mais familiares. No entanto, se o brinquedo for colocado em um lugar diferente, não lhe ocorrerá olhar para esse lugar.
- Resolução de problemas simbólicos: dos 18 aos 24 meses a criança já entende que o objeto pode estar em qualquer lugar, mesmo que ela não tenha visto onde ele foi escondido. Assim, ela consegue ter uma representação mental do objeto e pode imaginar que ele está em lugares diferentes.
Permanência do objeto e sua relação com a ansiedade de separação
A permanência do objeto é essencial para que o bebê se desenvolva no ambiente, mas também tem uma grande influência a nível social. Antes a criança considerava que as pessoas deixavam de existir quando ela não as percebia, e agora já sabe que elas continuam existindo e entende que se foram. O que ela não sabe é quando eles voltarão ou se a abandonaram para sempre.
Por isso, com o desenvolvimento da permanência do objeto surge também a conhecida ansiedade de separação. O bebê que costumava ficar calmo e sereno quando era deixado no berço ou quando seus pais o deixavam aos cuidados de outras pessoas, agora pode reagir com muita angústia, choro e desespero a essas mesmas situações.
Antes ele não percebia claramente a separação entre si mesmo e o resto do mundo. Agora a criança sabe que as suas figuras de apego são indivíduos diferentes dele e teme que elas se afastem.
Como estimular a aprendizagem da permanência do objeto
A permanência do objeto é um marco no desenvolvimento que todos os bebês atingem mais cedo ou mais tarde. Vale ressaltar que as idades propostas por Piaget são para fins de orientação, e que cada criança segue seu próprio ritmo. De fato, essas pesquisas têm recebido várias críticas, pois autores como Bower afirmam que essa habilidade está presente em idades muito mais precoces.
De qualquer forma, essa aprendizagem pode ser estimulada por meio de brincadeiras e atividades simples com o bebê:
- Cadê a mamãe: Este jogo popular envolve cobrir o rosto com as mãos e perguntar ao bebê “cadê a mamãe?” Depois basta descobrir o rosto enquanto exclama “está aqui!”. Bebês mais novos, que ainda não desenvolveram a permanência do objeto, reagirão com fascínio.
- Esconder: também é possível brincar de esconder bonecos e ver se o bebê os procura. Primeiro ocultando-os parcialmente e depois totalmente. Mais tarde, é possível escondê-los enquanto a criança não está olhando. É possível fazer essa mesma dinâmica sendo você a figura de apego escondida.
- Caixas de permanência Montessori: este brinquedo pode ser usado a partir dos seis meses. Ele permite que a criança insira um objeto em uma abertura, veja como ele desaparece por alguns momentos e possa recuperá-lo automaticamente (nas caixas com bandeja) ou abrindo a porta ou gaveta da caixa onde o objeto foi inserido.
De qualquer forma, não se preocupe se o seu filho estiver um pouco atrasado em relação às idades indicativas para desenvolver essa habilidade. Lembre-se que não se trata de estimulação, e que em algum momento ele adquirirá essa habilidade. Por agora, aproveite a sensação de contemplá-lo enquanto ele descobre como o mundo funciona.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Bower, T. G. R., & Wishart, J. G. (1972). The effects of motor skill on object permanence. Cognition, 1, 165–172.
- Feldman, R. (2007). Modelo del desarrollo cognoscitivo de Piaget. En Desarrollo Psicológico. (pp. 158-167). México: Pearson.
- Piaget, J. (1964). Part I: Cognitive development in children: Piaget development and learning. Journal of research in science teaching, 2(3), 176-186.
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.